Mundo Lusíada
Com Lusa
A Embaixada da Alemanha em Lisboa confirmou nesta quarta-feira à Lusa que está em curso “um diálogo” entre os Governos alemão e português sobre “um possível apoio alemão” aos esforços de Portugal para ultrapassar a atual crise sanitária da covid-19.
“A Embaixada da Alemanha em Lisboa confirma que existe um diálogo em curso entre os Governos alemão e português no que diz respeito a um possível apoio alemão aos esforços portugueses para ultrapassar a atual crise sanitária”, indicou fonte oficial da representação diplomática alemã na capital portuguesa numa breve declaração por escrito, após ter sido questionada sobre eventual ajuda por parte da Alemanha a Portugal no atual contexto da crise pandêmica.
A mesma nota acrescentou que “a decisão sobre as áreas concretas de cooperação será tomada em estreita coordenação entre os dois Governos”.
Em Portugal, morreram 11.305 pessoas dos 668.951 casos de infecção pelo novo coronavírus confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Numa entrevista dada na segunda-feira à RTP, a ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou que o Governo estava a “acionar todos os mecanismos” à sua disposição a nível internacional, face à situação da pandemia, com o objetivo de garantir a melhor assistência aos doentes de covid-19.
Foi conhecido no dia seguinte que a Câmara de Torres Vedras tinha solicitado ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, a ativação de ajuda internacional para reforçar o hospital local com cinco médicos e 10 enfermeiros face à evolução da pandemia da doença covid-19 no concelho.
Esta quarta-feira de manhã, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, admitiu a necessidade de gente e de material, indicando que o recurso ao mecanismo de cooperação europeu para apoiar no combate à pandemia estava a ser equacionado pelo Governo português, mas que ainda não tinha sido “formalizado completamente”.
“Esse mecanismo ainda não foi formalizado completamente mas está a ser equacionado, no sistema de cooperação europeu”, disse António Lacerda Sales, quando questionado pela Lusa se Portugal já recorreu a ajuda europeia para fazer face à pandemia de covid-19.
O membro do Governo reconheceu que a área dos recursos humanos na saúde “é sempre uma área difícil” para Portugal, admitindo que possa haver recurso à cooperação internacional.
A ministra da Saúde referiu no início da semana também que, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, existem cerca de 5.600 pessoas internadas por covid-19 e mais de 760 em unidades de cuidados intensivos, uma realidade “imaginável” no contexto dos “planos de catástrofe do hospitais” públicos. “Nós temos camas disponíveis, o que muito dificilmente conseguimos ainda gerir são os recursos humanos”, admitiu.
Hospitais cheios
A Ordem dos Médicos afirmou nesta quarta que os hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo estão a chegar ao “final da linha”, uma vez que já não conseguem ampliar o número de internações nos cuidados intensivos.
O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, explicou que os hospitais estão a trabalhar para além do planejamento de contingência feito no início da pandemia.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul considerou que os hospitais da Grande Lisboa não estavam preparados para responder ao elevado número de doentes com covid-19, adiantando que deveria ter sido feito um planejamento no verão passado.
Tânia Russo explicou que tem existido uma “elevada sobrecarga” nos hospitais, que tem feito com que haja dificuldades na resposta dos profissionais de saúde no combate à pandemia.
“Isto carecia de um melhor planeamento. Os hospitais deveriam ter sido reforçados e a resposta deveria ter sido reforçada. […] Esse planeamento não foi feito e está a refletir-se agora no que estamos a ver”, apontou a dirigente sindical.
“A falta de profissionais de saúde qualificados é – digamos assim – o principal passo limitante nesta resposta à pandemia”, disse, salientando que as “camas, por si só, não asseguram cuidados para os doentes”.
Sobre o problema na rede de oxigénio do Hospital Amadora-Sintra, que obrigou a transferir mais de quatro dezenas de doentes para outras unidades, na terça-feira, Tânia Russo reiterou que “os hospitais não estão construídos para este nível de sobrecarga a que estão sujeitos”.
“A continuar com esta utilização de oxigénio e de meios é natural que os sistemas tenham dificuldade em dar respostas. Quando se excede a capacidade, os sistemas não aguentam”, afirmou.