O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (C) à saída da igreja da Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Goa, onde assistiu a missa com a comunidade portuguesa, 16 fevereiro de 2020. O Presidente da República, terminou visita de Estado à Índia com um programa concentrado em três dias, entre Nova Deli, Mumbai e Goa. ESTELA SILVA/LUSA
Da Redação
Com Lusa
Neste domingo, o Presidente português exaltou a “alma universal” de Portugal que no seu entender está refletida nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e apontou Goa como “uma das riquezas que a Índia recebeu de Portugal”.
“Goa é diferente. Eu disse isso ao Presidente e ao primeiro-ministro da Índia, e eles compreenderam que essa é uma das riquezas que a Índia recebeu de Portugal, foi a riqueza de ter no seu seio uma comunidade que faz a diferença. Enriquece a Índia porque faz a diferença. É um contributo que nós demos ao mundo, chama-se Goa”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa falava num hotel no sul de Pangim, a capital do estado de Goa, perante portugueses e lusodescendentes, que o aplaudiram quando considerou que esta comunidade “é diferente de todas as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, porque Goa é diferente”.
“É diferente porque tem uma história diferente. É diferente porque tem uma cultura diferente. É diferente porque até tem uma religião que no quadro geográfico em que se enquadra é diferente. É diferente porque tem uma gastronomia diferente. É diferente porque tem hábitos e usos diferentes. E é essa diferença que faz com que seja indestrutível”, acrescentou.
Entre os presentes neste encontro estava Anna Kaarina, prima do primeiro-ministro, António Costa, filha de um irmão do seu pai, que era goês, com quem o Presidente da República tirou fotografias e conversou, deixando-a “espantada por saber tanto sobre a família”, incluindo o nome por que é tratada pelos mais próximos, Pimpula.
No discurso que fez, em português, no último ponto do programa da sua visita de Estado a Índia, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que lhe faltava vir a Goa, porque “ninguém percebe tudo o que é ser português sem vir a Goa”.
“Também ninguém percebe o que é ser português sem ter estado com os nossos compatriotas que emigraram para França e lá fizeram percursos difíceis, na França, na Suíça, no Luxemburgo, na Alemanha. Não é possível compreender bem que é ser-se português sem sentir o que é ser-se português em Angola, em Moçambique, em São Tomé e Príncipe, em Cabo Verde, no Brasil”, defendeu.
Referindo que o passado de Portugal teve os seus “altos e baixos” e “muitos erros”, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou a dimensão da presença e influência portuguesa no mundo: “Éramos, quando isso começou, menos de um milhão de pessoas. Como é que meio milhão de pessoas se espalhou por todo o mundo e ajudou a fazer realidades novas e diferentes por todo o mundo”.
Em Goa, o Presidente da República repetiu a mensagem que deixa habitualmente perante comunidades portuguesas de que Portugal tem “um território físico pequeno”, mas “um território espiritual que percorre o mundo todo”.
Segundo o chefe de Estado, nessas comunidades espalhadas pelo mundo “cada português é ao mesmo tempo filho da sua terra, mas filho do universo”.
“Elas juntam-se àqueles que são dos países onde vivem, cruzam-se, convivem, dão-se bem, porque nós portugueses damo-nos bem com toda a gente, e toda a gente se dá bem connosco”, sustentou.
“Mas não deixamos de ser o que somos. Passa-se as gerações, e continua a falar-se português, passa-se as gerações e continuamos a sentir e a pensar em português. E por isso o português é uma das grandes línguas do mundo. O português só é ultrapassado por poucas línguas como língua universal, muito poucas, quatro ou cinco são mais faladas do que a nossa, se tanto – e no hemisfério sul somos a língua mais falada”, prosseguiu.
O Presidente da República descreveu os portugueses como um povo aberto e fraterno: “Não atacamos os outros. Mesmo quando defendemos aquilo que é importante na nossa maneira de ser, defendemos com doçura, com suavidade”.
“E devemos ser assim. Quando na nossa história fomos assim, fomos muito bem. Quando não fomos assim, fomos menos bem. E hoje esse é um grande desafio”, concluiu.
Dos lugares com presença portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que lhe falta “percorrer apenas o caminho de Timor-Leste e dar um abraço a comunidades portugueses mais longe na Austrália, na Nova Zelândia”.
A seguir, questionado pelos jornalistas se ainda irá a Timor-Leste neste mandato, que termina em março de 2021, respondeu: “Vamos ver, pode ser que miraculosamente seja possível”.
Contudo, notou que “não vai ser muito fácil” com a agenda que tem “até outubro, novembro” – o momento para o qual remeteu o anúncio da sua decisão quanto a uma eventual recandidatura.