Da Redação com Lusa
Um conjunto de sindicatos, que representa a maioria dos trabalhadores da TAP, afirma que a Comissão Executiva, depois de uma reunião na terça-feira, optou por romper “o processo de conversações” e não descartam, por isso, “qualquer tipo de cenário”.
Em comunicado hoje, várias estruturas sindicais, incluindo alguns dos maiores sindicatos da TAP, salientaram que “em reunião realizada ontem [terça-feira]” entendeu “a Comissão Executiva da TAP colocar-se numa atitude de confronto, rompendo o processo de conversações que se vinham realizando, assumindo a partir desse momento todas as responsabilidades que daqui em diante possam advir”.
Segundo o mesmo comunicado, “os sindicatos signatários representantes da esmagadora maioria dos trabalhadores da TAP, certos de interpretar o sentimento de grande desânimo que grassa por toda a empresa, decidiram reunir-se no passado dia 26 de maio de 2022, com o objetivo de levar a efeito uma profunda reflexão sobre a situação da TAP, no que respeita à retoma da atividade e, sobretudo, avaliar o efeito que o plano de reestruturação, proposto pelo Governo e aprovado por Bruxelas, está a causar na companhia”.
“Após ida à Assembleia da República, reunião com o Governo e várias reuniões com a administração da TAP, não foi possível alcançar um entendimento que adapte as regras à realidade que já estamos a viver desde abril de 2022 e que já apresentam valores operacionais semelhantes a 2019, isto é, valores operacionais pré-covid”, referem, na mesma nota, as estruturas sindicais.
Nessas reuniões, garantiram, “os sindicatos avançaram com soluções que visavam uma maior estabilidade laboral mitigando um plano de reestruturação completamente desajustado à atual realidade”.
“Alertou-se também a gestão para factos operacionais que se vivem diariamente em quase todos os setores da empresa”, salientaram.
Os sindicatos, que se reuniram novamente hoje, alertaram para a “saída continuada de quadros técnicos especializados e consequente impacto operacional provocado pela falta de recursos humanos” e responsabilizaram “a atual gestão pela degradação das condições de trabalho que já se fazem sentir”.
As estruturas criticaram ainda o “recurso a terceiros de valências que sempre foram competência da TAP, aumentando exponencialmente os custos”, e deram conta da “perda e recusa de contratos externos”.
Os sindicatos alertaram ainda para a atribuição de “responsabilidades de terceiros na comunidade aeroportuária nacional”, como a ANA – Aeroportos de Portugal, o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) e NAV (responsável pelo tráfego aéreo) e o Governo e para a “delapidação do patrimônio da TAP, nomeadamente a sua sede”.
“Mantendo-se estes temas em aberto, os sindicatos continuarão a trabalhar em conjunto, não descartando qualquer tipo de cenário. Os trabalhadores da TAP serão sempre o garante da sua sobrevivência, ao contrário daqueles que dela se servem”, remataram.
Pilotos TAP
O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) criticou hoje o que diz ser a opção da TAP por aviões Embraer, mais pequenos, em detrimento dos Airbus, afirmando que a estratégia está “claramente errada”, em comunicado.
O sindicato, recordando as declarações do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, que “referiu que o aeroporto de Lisboa está saturado e muito em breve impossibilitado de aceitar mais aviões”, disse que “perante este facto incontestável, os pilotos da TAP não entendem como é possível a administração da empresa, sabendo desta situação e sofrendo diretamente as suas consequências como maior operadora” da infraestrutura “escolhe desfazer-se de aviões Airbus (com maior capacidade de passageiros, mais econômicos e muito menos poluentes) e opta por aumentar a frota de aviões Embraer”.
No comunicado, o SPAC garantiu que “esta opção por aviões Embraer, consiste na utilização de aviões mais pequenos, obrigando a mais voos para transportar o mesmo número de passageiros”, sublinhando que “num aeroporto saturado, onde ainda por cima a TAP foi forçada a ceder 18 ‘slots’” esta “é uma opção claramente errada, que obriga a reduzir o número de lugares disponíveis e coloca em causa o Plano de Recuperação e o próprio futuro da empresa”.
Os pilotos, tal “como todos os contribuintes portugueses, gostariam de entender o motivo para esta incongruência entre as declarações do senhor ministro e a atuação da Administração da TAP, lembrando que estas e outras opções erradas de gestão (como é outro exemplo o caso dos aviões cargueiros parados por falta de homologação, que foi noticiado recentemente) lesam os cofres da TAP e do país em largos milhões de euros”, criticaram.
O SPAC realçou que “quando todas as companhias aéreas a operar na Europa escolhem aviões maiores e mais eficientes (Airbus ou Boeing), a TAP é a única que opta por reduzir a frota de Airbus e aumentar a frota de Embraer, recorrendo a aviões antigos, os poucos que estão disponíveis para o verão”.
Para o SPAC, “os aviões que agora reforçam a frota da TAP, através da PGA, são de uma geração anterior, claramente ultrapassados em termos de eficiência operacional, emissões poluentes e níveis de ruído”.
A estrutura sindical disse que “inicialmente foi alegado pela TAP que esta alteração na frota se justificava pelo número reduzido de passageiros causado pela pandemia”, mas que “no entanto, a própria administração da TAP admite que o nível operacional de 2019 está prestes a ser atingido, sendo por este motivo inconcebível manter uma estratégia operacional inadequada, preterindo aviões maiores e mais recentes face a aviões menores e mais antigos”.
Além disso, disseram, a companhia aérea “continua a reforçar a sua frota através de alugueres operacionais de aviões (operações ACMI), recorrendo pelo menos, e para já, a três outras companhias, para realizar voos para a TAP”.
“Obviamente que as três companhias têm diferentes níveis de serviço e de imagem dos seus aviões e tripulações, imediatamente percebidos pelos passageiros, surpreendidos por esta manta de retalhos no momento do embarque, nunca sendo certo que companhia vai efetivamente transportá-los, com a consequente destruição da imagem da TAP e a sua reputação”, garantiu o SPAC.
O sindicato disse que estes contratos recorrem a “pilotos dessas empresas, remunerados de acordo como os valores do mercado internacional, enquanto a TAP mantém o corte de 45% nos vencimentos dos pilotos da TAP e 25% nos pilotos da PGA, aumentando os custos e demonstrando que o Plano de Reestruturação não é adequado à sustentabilidade da empresa”.
O SPAC denunciou ainda que “continuam as violações aos Acordos de Empresa e interpretações abusivas de várias cláusulas, pela TAP, levando a planeamentos mensais contra o regulamentado, como única forma de manter a ilusão de ajuste do quadro de pilotos face às necessidades da empresa”, recordando também os profissionais “despedidos e posteriormente reintegrados pela TAP, por ordem do tribunal, que continuam a receber ordenado sem qualquer voo atribuído pela empresa, numa clara violação do direito ao trabalho”.