Da Redação
O fotógrafo australiano Warren Richardson venceu o Grande Prêmio do concurso internacional World Press Photo, numa edição em que o fotojornalista português Mário Cruz também foi premiado.
O júri da 59ª edição do World Press Photo escolheu uma reportagem fotográfica de Warren Richardson feita em agosto de 2015 com refugiados na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. A fotografia vencedora, que mostra um homem a tentar passar uma criança por baixo de arame farpado, valeu-lhe o grande prêmio e também o primeiro prêmio na categoria “Spot News”.
“Achámos que tem tudo o que é preciso para mostrar o que está acontecer com os refugiados” declarou Francis Kohn, editor de fotografia da agência France Press e membro do júri.
O fotojornalista Mário Cruz, da agência Lusa, venceu o primeiro prêmio na categoria “Contemporary Issues”, com uma reportagem sobre tráfico e exploração de trabalho infantil no Senegal, com crianças senegalesas e também na Guiné-Bissau.
Na fotorreportagem, publicada na Newsweek, Mário Cruz testemunha as condições em que vivem algumas das crianças que são exploradas numa rede criminosa de exploração infantil.
Nascido em Lisboa em 1987, Mário Cruz é fotojornalista da agência Lusa desde 2008. Em 2014 venceu o prémio de fotojornalismo da Estação Imagem Mora, com a reportagem “Cegueira recente”.
No ano passado, a reportagem “Roof”, sobre a crise em Portugal, retratando a realidade de quem vive em locais abandonados de Lisboa, valeu – lhe o prêmio Magnum “30 Under 30” e esteve em destaque no New York Times.
Senegal e Bissau
O português declarou à Lusa que a reportagem premiada poderá chamar mais a atenção para o caso de escravatura e exploração de crianças no Senegal.
Mário Cruz tomou conhecimento dos casos quando em 2009, numa reportagem na Guiné-Bissau, ouviu relatos de histórias de crianças que desapareciam e que estariam a ir para o Senegal para servirem de escravas para líderes religiosos muçulmanos.
A reportagem fotográfica agora premiada pela World Press Photo revela, num registro preto e branco, crianças enclausuradas, presas com correntes, deitadas no chão ou a mendigarem nas ruas.
Estas crianças são mantidas em “daaras”, escolas para onde são enviadas supostamente para terem uma educação muçulmanda, e sobre as quais a polícia desconhece muitas vezes a localização.
“Encontrei condições completamente desumanas. Apesar de ter feito muita investigação, não deixou de me surpreender porque a dimensão é ainda maior do que eu esperava, porque uma coisa é ler dados outra coisa é vê-los. Assustou-me ainda mais a indiferença, porque as pessoas sabem que aquilo existe, sabem que problema acontece todos os dias”, contou.
Com o primeiro prêmio conquistado, na categoria “Contemporary Issues”, Mário Cruz diz que nada vai mudar na maneira como olha para o mundo e para o fotojornalismo, embora alerte que hoje é “cada vez mais é complicado publicar, ter espaço para publicar reportagens, histórias”.
“Eu sinto que a fotografia é mais do que nunca importante, sinto que é muito desvalorizada, o que não me deixa com o pensamento muito positivo. Hoje é um dia bom para o trabalho, porque estas crianças vão ter visibilidade, vai-se falar do tema, mas não mudo a minha maneira de olhar para a profissão e para a área da fotografia, que eu acho que já merece mais investimento e valorização”, afirmou.