Mundo Lusíada com Lusa
A inteligência artificial em português e a inclusão digital, sustentabilidade e tecnologias emergentes são temas em debate, nesta quarta e quinta-feira, no 2.º Fórum Lusófono de Governação da Internet (FLGI), em Cabo Verde, anunciou a organização.
O evento reúne representantes de governos, empresas e diversas organizações dos países de língua portuguesa, na sequência do primeiro encontro, realizado há um ano, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, Brasil.
O programa iniciou na Cidade Velha, ilha de Santiago, com um debate sobre como aumentar a representatividade da língua portuguesa nos modelos de aprendizagem automática que alimentam a inteligência artificial e a importância da revisão, considerando o multilinguismo dos países lusófonos.
Na quinta-feira, na capital, Praia, estarão em foco os desafios dos países lusófonos para reduzir a infoexclusão, bem como as estratégias e iniciativas adotadas para integrar áreas rurais e comunidades menos favorecidas.
De acordo com a União Internacional das Telecomunicações, a introdução de novas tecnologias pode agravar a exclusão, algo que “já está a acontecer com o 5G”.
Estimativas globais mostram que “89% da população em países de altos rendimentos é coberta por 5G”, mas “nos países de baixos rendimentos, apenas 1% da população está abrangida”, referiu Cosmas Zavazava, diretor da organização, na apresentação do relatório mundial de 2023.
“O 3G – nem sequer o 4G – continua a ser, de longe, a tecnologia de banda larga móvel mais prevalente nos países mais pobres, onde mais de 20% da população continua fora da rede”, concluiu.
Questão cultural
O emergir da inteligência artificial (IA) está a fazer da governação da Internet mais do que uma discussão técnica, tornando-a numa questão cultural lusófona, indicaram oradores de vários países no fórum.
“Ficou bastante claro para todos a importância das discussões que integrem uma mesma língua e culturas próximas, já que os grandes modelos de linguagem”, que apoiam a aprendizagem automática da IA, “muitas vezes são produzidos numa língua, sem captar as particularidades de outras”, como o português, referiu Rafael Evangelista, representante do Comitê Gestor da Internet no Brasil (Cgi.br).
A necessidade de haver uma compreensão nativa do português por parte das ferramentas de inteligência artificial – em vez de estes programas terem de recorrer à tradução para inglês e vice-versa, para processar e, depois, para dar respostas – é um dos debates.
“Acho que isso justifica boa parte das nossas articulações, aqui, porque o português é, acima de tudo, uma grande plataforma de integração cultural e outras plataformas técnicas, por vezes, tentam substituir essa ponte que a língua nos proporciona”, acrescentou.
A escolha de juntar entidades gestoras de domínios de topo (a parte final dos endereços de Internet, que identificam um país) num fórum, no âmbito da lusofonia, há alguns anos, gerou dúvidas, por se afigurarem como instituições eminentemente técnicas.
Mas “as transformações na tecnologia mostram que foi uma escolha acertada”, referiu Rafael Evangelista.
“Não podemos olhar para isto só como tecnologia”, porque, no centro, estão “as pessoas”, acrescentou a presidente da .PT, entidade responsável pela gestão do domínio de topo de Portugal.
Avanços como “os sistemas de IA, que nos podem ajudar a ganhar tempo, mas também a desconectar-nos “uns dos outros, “em termos físicos”, têm de ser discutidos, porque “a Internet tem de ligar e ser pensada para as pessoas, também em língua portuguesa”, disse Luisa Ribeiro Lopes.
“Vamos sair mais ricos, no final destes dois dias”, acrescentou.
Alinhando pela mesma pauta, Leonilde dos Santos, presidente da Agência Reguladora Multissectorial da Economia (ARME), anfitriã do encontro, acrescentou o exemplo de “auscultação participativa”, com que Cabo Verde olha para o mercado.
O arquipélago acolhe o 2.º encontro do Fórum, e quer reforçar a mensagem de que aposta nas novas tecnologias, assinalou o vice-primeiro-ministro com a tutela da Economia e Finanças, Olavo Correia.
O setor pode ser crucial para preencher a falta de oportunidades de emprego que se perspetiva nos próximos anos, face a uma população crescente, no continente africano.
O fórum é organizado pela LusNIC, que junta as entidades de gestão, registo e manutenção de domínios de topo dos países de língua oficial portuguesa, a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) de Portugal, a Agência Reguladora Multissetorial da Economia (ARME) de Cabo Verde, o Comitê Gestor da Internet do Brasil (Cgi.br), a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) de Portugal, a Associação DNS.pt, que gere o domínio PT e o Núcleo de Informação e Coordenação (Nic.br) do Brasil.