Da Redação
Movidas pelo mesmo entusiasmo pela poesia de Fernando Pessoa, a cantora Maria Bethânia e a professora Cleonice Berardinelli, membro da Academia Brasileira de Letras, subirão juntas ao palco da Flip para homenagear o poeta português.
Professora emérita da UFRJ e da PUC-Rio, Cleonice, 96 anos, soma mais de cinco décadas dedicada ao estudo do poeta. Em 2012, lançou Fernando Pessoa – Antologia Poética, prestigiada coletânea que abrange quase 20 anos de produção do autor e seus principais heterônimos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis). Tida como a maior lusitanista brasileira, “dona Cléo”, como é conhecida, é autora também de Fernando Pessoa: outra vez te revejo e de uma série de estudos sobre Camões, Bocage e Gil Vicente.
A relação de Bethânia com os versos de Pessoa é igualmente intensa. Em 1971, a cantora impactou o público com seu show Rosa dos Ventos. Transformado em disco ao vivo, o espetáculo intercalava canções e poemas – três deles de Pessoa – numa mistura que se tornaria uma espécie de marca registrada da cantora de Santo Amaro da Purificação. Posteriormente, em albuns como Drama (1972), Pássaro da Manhã (1977) ou Imitação da Vida (1997) ela voltaria a Pessoa, declamando trechos do Livro do Desassossego, versos do poeta ou de seus heterônimos, ajudando a difundir e popularizar versos tão célebres como “Todas as cartas de amor são ridículas”.
Seu álbum mais recente, Oasis de Bethânia, lançado em 2012, vem recheado de homenagens a Portugal, com uma faixa dedicada ao fado, e a interpretação de Não sei quantas almas tenho, de Pessoa. “Tenho um elo forte com a poesia de Fernando Pessoa, que é o poeta de minha vida”, afirma a cantora. No ano passado, ela viajou pelo Brasil com seu espetáculo mais recente, Maria Bethânia e as palavras. “Eu chamo essa leitura de exercício de delicadeza. No tempo de hoje, alguém querer ouvir poesia é bem difícil.”
Em 2010, Bethânia e Cleonice receberam da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, a Medalha do Desassossego, destinada a quem presta serviços relevantes na divulgação do autor. Grandes amigas, as duas estiveram juntas também no lançamento da Antologia de Cleonice, evento em que Bethânia cantou e declamou alguns versos. O reencontro na Flip promete ser especialíssimo.
A mesa literária 9, “Lendo Pessoa à beira-mar”, acontece no dia 05, às 19h30 na Flip.
Protestos
As manifestações que tomaram conta das ruas do país nas últimas semanas levaram a organização da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) a preparar uma programação extra para discutir o atual cenário político do país. Três mesas foram incorporadas à agenda da Tenda dos Autores e todas elas terão transmissão ao vivo para outros locais de Paraty e via internet, para o site www.flip.org.br .
O primeiro encontro está marcado para a noite de 4 de julho e tem como tema a cobertura dos protestos pelos diferentes segmentos da mídia, da grande imprensa às redes sociais. No sábado dia 6, às 19h30, a mesa intitulada Da Arquibancada à Passeata, Espetáculo e Utopia vai abordar o contraponto entre as multidões que se reuniam dentro e fora dos estádios, durante a Copa das Confederações. De um lado, os jogos da competição da Federação Internacional de Futebol (Fifa), e de outro, os protestos contra os gastos com os megaeventos esportivos. Na mesma noite, às 21h30, o terceiro e último debate colocará em discussão a insatisfação popular com a classe política brasileira. Questões como a má qualidade dos serviços públicos e as demandas da população não atendidas pelos governos serão discutidas pelo economista André Lara Resende, ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e outros.