Mundo Lusíada
Com agencias
Em mensagem divulgada nas redes sociais, Luís Figo considerou mesmo que se Blatter “tiver um mínimo de decência, terá de resignar nos próximos dias”.
“Esta votação serviu apenas para caucionar a eleição de um homem que não pode se manter à frente do futebol mundial (…). Ou o sr. Blatter sabia e foi conivente com os atos de corrupção e tráfico de influências, ou, se não sabia – como ele diz -, é porque não tem capacidade para liderar a FIFA. Não há outra forma de ver o problema”, pode ler-se na nota divulgada pelo ex-candidato à presidência da FIFA.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou nove dirigentes ou ex-dirigentes e cinco parceiros da FIFA, acusando-os de associação criminosa e corrupção nos últimos 24 anos, num caso em que estarão em causa subornos no valor de 151 milhões de dólares (quase 140 milhões de euros). Entre os acusados estão dois vice-presidentes da FIFA, o uruguaio Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb, das Ilhas Caimão e que é também presidente da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas), assim como o paraguaio Nicolás Leoz, ex-presidente da Confederação da América do Sul (Conmebol).
“Ao contrário do que o sr. Blatter disse, os acontecimentos da passada quarta-feira não mancham o futebol, mancham a FIFA e os responsáveis que conduziram a organização até aqui. O futebol não tem culpa de que os dirigentes do organismo máximo que o devia regular não tenham integridade, nem caráter”, observou Figo.
Na opinião do antigo futebolista português, não estavam asseguradas nas eleições que hoje decorreram as “mais elementares regras de transparência, legalidade e democracia”. “Perante tantas evidências, o fato de o principal responsável por a FIFA ter chegado a este ponto ter sido reeleito diz bem de como a organização está doente. Hoje, foi outro dia negro em Zurique. Perdeu a FIFA, mas, acima de tudo perdeu, o futebol e todos aqueles que verdadeiramente se preocupam com ele”, apontou.
E acrescentou: “Confrangedora e cínica a reação do sr. Blatter quando diz que não pode controlar toda a gente. Ofende a inteligência de todos nós. Foram essas pessoas que ele promoveu durante anos e que, juntamente com ele, fizeram da FIFA o que ela é hoje, um organismo decadente.” Para Figo, se Blatter “se preocupasse minimamente com o futebol”, teria “desistido de se apresentar à reeleição”.
“Não me arrependo de nada. Lutei, persisti, empenhei-me pela regeneração de uma organização que tem de mudar de rumo. Vivemos uma situação de emergência e o futebol é o principal prejudicado pela atual situação. O que fiz foi denunciar o que vivi diretamente. Voltaria a fazê-lo e permaneço disponível para ajudar a FIFA a reerguer-se de tudo isto”, escreveu ainda o antigo futebolista.
Joseph Blatter foi reeleito nesta sexta-feira para um quinto mandato como presidente da FIFA, até 2018, ao vencer o jordano Ali bin al Hussein, num sufrágio realizado no 65.º Congresso do organismo que tutela o futebol mundial. Blatter acabou por ser eleito ao final da primeira volta, depois de o seu oponente ter anunciado que não disputaria uma segunda volta.
O suíço é o oitavo presidente da FIFA, tendo sucedido, em 1998, ao brasileiro João Havelange. Na eleição deste dia 29, à qual chegaram a ser candidatos o português Luís Figo e o holandês Michael van Praag, Blatter recebeu 133 votos a favor, contra 73 de Ali bin al Hussein.
FPF
Também a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que apoiou a candidatura de Figo, reagiu com palavras duras à reeleição do suíço. “Quando uma organização se desliga da realidade e se fecha sobre si própria corre o risco de implodir”, escreve a FPF em comunicado enviado às redações.
“O processo eleitoral não decorreu normalmente e estas eleições foram marcadas por acontecimentos que deveriam ter obrigado ao adiamento das mesmas”, afirma ainda a FPF, em referência às detenções de vários dirigentes suspeitos de corrupção.
“A recondução de Joseph Blatter prova que Luís Figo tinha razão quando se recusou a caucionar este processo”, diz ainda a organização presidida por Fernando Gomes, realçando que o apoio a Figo foi também o apoio a um candidato que, pela experiência que teve no terreno, viu antes de muitos que os resultados do dia 29 de maio estavam estabelecidos há muito tempo”.
O comunicado da FPF termina com o voto de intenções da federação de “pugnar por uma FIFA diferente, uma FIFA democrática e transparente que coloque os interesses do futebol acima de todo e qualquer interesse pessoal”.