Festival de Fado traz viagem entre estilos poético-musicais portugueses

Da Redação

Comemorando nove anos de estrada ao redor do mundo, desde a primeira aparição em Madrid, o Festival de Fado retorna ao Brasil com dois shows em junho, no Teatro Opus em São Paulo, para apresentar “O Fado e Outras Músicas”, com a presença de dois jovens expoentes da música portuguesa: Carminho e António Zambujo.

Considerada a voz do fado e uma das artistas portuguesas com maior projeção internacional, Carminho traz ao festival seu novo álbum “Maria”, um trabalho profundo e de grandes emoções, que poderá ser conferido no dia 11 de junho.

Já António Zambujo, vencedor de prêmios como Melhor Intérprete Masculino de Fado pela Fundação Amália Rodrigues, tem uma carreira de sucesso enorme na música portuguesa e se apresenta no festival em 10 de junho, data em que se comemora o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Maior mostra desse tipo a nível internacional, o Festival de Fado tem como objetivo exibir a permanente interação do fado com outros gêneros poético-musicais mundiais, ao levar o público para uma viagem de partilhas, trocas, cruzamentos e fascínios mútuos do fado com outros ritmos musicais.

A globalização do fado é um grande acontecimento cultural no Brasil, e se iniciou no ano de 2013, com uma bem-sucedida primeira edição do Festival nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. O evento regressa em 2019 com novos artistas, uma palestra sobre o tema, uma masterclass de guitarra portuguesa, além de exibição de filmes e uma exposição com o selo de qualidade do Museu de Fado de Lisboa. O Festival do Fado, que nasceu em 2011 em Madrid e, esse ano, ainda faz escalas em 12 metrópoles da Europa, África e da América Latina.

Artistas

Carminho nasceu no meio das guitarras e das vozes do fado, filha da conceituada fadista Teresa Siqueira. Durante a faculdade, cantava em casas de fado e recebeu várias propostas para gravar, mas decidiu esperar. Licenciou-se em marketing e publicidade e percebeu que cantar exigia uma maturidade e um mundo que ainda não tinha. Durante um ano, viajou pelo globo, participou de missões humanitárias e regressou a Lisboa decidida a entregar-se por inteiro a um percurso artístico.

“Fado”, o seu primeiro disco, de 2009, alcançou a platina e abriu os corações de Portugal à sua voz e as portas do mundo ao seu talento: melhor álbum de 2011 para a revista britânica “Songlines”, performances no Womex 2011, em Copenhague, e na sede parisiense da UNESCO, no âmbito da candidatura do fado a patrimônio mundial.

No mesmo ano, colaborou com Pablo Alborán em “Perdoname” e tornou-se a primeira artista portuguesa a atingir o número 1 do top espanhol. Em 2012, o segundo álbum, “Alma”, estreou no primeiro lugar de vendas em Portugal e alcançou posições de destaque em vários tops internacionais.

Depois de passar pelas principais salas da Europa e do mundo, Carminho cantou no Brasil e realizou o sonho de gravar com Milton Nascimento, Chico Buarque e Nana Caymmi, resultando em uma reedição de “Alma” com três novos temas.

No final de 2014, editou “Canto” e a sua relação com o Brasil ganhou raízes ainda mais profundas. Carminha gravou a primeira parceria de Caetano Veloso com o seu filho mais novo, Tom, a inédita “O Sol, Eu e Tu”. “Canto” inclui também dueto com Marisa Monte e participações especiais de Jaques Morelenbaum, António Serrano, Carlinhos Brown, Javier Limón, Naná Vasconcelos, Dadi Carvalho, Jorge Hélder e Lula Galvão.

Em 2016, na sequência de um convite endereçado pela família de um dos maiores compositores do mundo, gravou “Carminho canta Tom Jobim”, com a última banda que o acompanhou ao vivo nos seus derradeiros dez anos, partilhando temas com Marisa Monte, Chico Buarque e Maria Bethânia.

António Zambujo

De Casablanca a Sevilha, passando por Santiago do Chile, Buenos Aires, Rio de Janeiro, São Paulo, Bogotá, Madrid e Barcelona, em 2019 a música de António Zambujo viaja além-fronteiras, no âmbito do Festival do Fado. Acompanhado por Bernardo Couto na guitarra portuguesa, Diogo Aléxis no contrabaixo e Filipe Melo ao piano, António Zambujo revisita fados tradicionais e outros temas do seu repertório, convidando o público a celebrar os novos arranjos propositadamente pensados para estas nove cidades.

O resto é aquilo que já sabemos e que esta caminhada singular nos vem permitindo fixar: que António Zambujo nasceu em Beja, Alentejo, a 19 de Setembro de 1975. Que atravessou uma auspiciosa e sólida infância musical – começou a estudar clarinete com apenas oito anos – e uma adolescência muito ativa nesta atividade que se tornaria o seu ofício, que acabou por fixar-se em Lisboa, onde dividiu o tempo pela experiência diária do fado e pela investida em musicais, garantindo de imediato os primeiros dados que haveriam de fazê-lo chegar ao lugar, tão difícil de “localizar” onde hoje se encontra.

Estreou-se nos discos em 2002 e alcançou uma impressionante série de prêmios e outras distinções, com natural destaque para a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi entregue pelo Presidente da República (em 2015). Vai-se evidenciando a sua tendência, natural e não estratégica, para não escolher uma “via única” (nem rápida) nas suas abordagens musicais: se registra em disco o convite de um grupo (Angelite) de Vozes Búlgaras, nunca disfarça uma pulsão pela música do Brasil. A sua voz leva mesmo a uma declaração enlevada de Caetano Veloso: “quero ouvir mais, mais vezes, mais fundo (…) É de arrepiar e fazer chorar”.

Com as edições internacionais dos seus álbuns, vai marcando pontos no riquíssimo e infinito universo da World Music, um caminho em que se privilegia o direito à diferença, mas nunca se afasta verdadeiramente do planeta Portugal, em que – como vimos – não estabelece nem pratica distinções acadêmicas de gênero. O carinho do público e o reconhecimento da crítica vão crescendo, sem pressas, mas com a cadência desejada pelo próprio cantor, que se desdobra em concertos e festivais, em Portugal e um pouco por toda a parte, com destaque para o Brasil, mas em destinos tão aparentemente improváveis como a Dinamarca, a Noruega, o Azerbeijão, Israel ou a Bulgária.

Esta internacionalização justifica outros sabores para a rica “ementa” de António Zambujo – e aí fica, como paradigma, a nomeação do disco “Até Pensei Que Fosse Minha” para o Grammy Latino, em 2017, na categoria de Melhor Disco… de MPB.

O cancioneiro multifacetado, estimulante, tão tranquilo na forma como inquieto no conteúdo, de António Zambujo ganha um novo capítulo que, insiste-se, não precisa de rasgar para inovar, seguindo à risca as pulsões de um intérprete e autor que, a cada etapa, se tem valorizado – talvez por não se deixar prender demasiado a raízes óbvias mas limitadoras do talento e da vontade, e procurar, ao invés, dar sempre frutos sumarentos e de travo inesperado. É o oitavo disco de estúdio que o artista publica [“Do Avesso” foi editado em Novembro de 2018] e, sabendo que o oito é o número da sorte para os chineses, fica claro que, neste particularmente, a “sorte grande” ganha contornos muito mais globais, pois toca a todos. Mais: numa época em que aprendemos a estimar e defender os nossos direitos, ganhamos outro objetivo – fazer finca-pé pelo nosso direito ao (Do) Avesso.

SERVIÇO:
FESTIVAL “O FADO E OUTRAS MÚSICAS” – SÃO PAULO
Dia 10 e 11 de junho, de 2019
Segunda e terça-feira, às 19h
Duração: 75 minutos
Classificação: livre

Teatro Opus
4º Piso do Shopping Villa-Lobos
Av. das Nações Unidas, 4777 – Alto de Pinheiros – São Paulo, SP.
https://www.teatroopus.com.br

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