Fenômeno da emigração mudado pelas tecnologias, voos ‘low-cost’ e adesão à UE, diz Observatório

Da Redação
Com Lusa

Adeptos da seleção portuguesa assistem ao jogo das meias finais do Euro 2012, Portugal vs Espanha, na Avenida dos Aliados, no Porto, 27 de junho de 2012. ESTELA SILVA / LUSAAs novas tecnologias, os voos ‘low-cost’, a adesão à União Europeia e as mudanças no mercado de trabalho mudaram o fenômeno da emigração portuguesa, que hoje tem mais opções de escolha, mas também novos desafios, defende o Observatório da Emigração.

Em entrevista à agência Lusa, Cláudia Pereira, investigadora permanente do Observatório da Emigração, começou por apontar que na década de 1960 Portugal era um país diferente do que é hoje, já que tinha uma população muito pouco qualificada e uma emigração mais diversificada, fruto do país ainda não ter aderido à União Europeia.

“Havia os países que recrutavam os emigrantes, como o Brasil, a Venezuela, Estados Unidos, Canadá, e depois havia os países para onde conseguiam entrar, como França e Alemanha, portanto nesse sentido era mais diversificada”, explicou.

Cláudia Pereira diz mesmo que há um antes e um depois da adesão de Portugal à então Comunidade Econômica Europeia (CEE), já que a abertura para a Europa, e a maior facilidade de circulação, altera os destinos dos portugueses, aproximando-os de países como o Luxemburgo, a França ou a Suíça.

“Países como o Brasil ou os Estados Unidos deixaram de ser tão atrativos porque por muito que aceitassem imigrantes, eram sempre mais fechados com os países europeus e a emigração portuguesa foi-se tornando cada vez mais europeia”, adiantou a investigadora.

Comparando as dificuldades sentidas pelos emigrantes da década de 1960 com as dos emigrantes da atualidade, Cláudia Pereira dá como exemplo as comunicações, sublinhando que dantes eram sobretudo feitas à base de carta e telefone.

“Hoje é muito mais fácil comunicar todos os dias e até com imagem, por exemplo com o ‘skype’, e isso diminui os custos emocionais de emigrar”, sublinhou.

Por outro lado, as viagens ‘low-cost’ ajudaram a diminuir o intervalo de tempo passado entre cada visita à terra natal, fazendo com que seja possível vir a Portugal entre cada dois ou três meses.

“Outra facilidade é desde logo na saída: a escolha do país para onde se vai, o trabalho, o mercado é muito mais competitivo porque há mais gente, mas também há mais hipóteses, mais vagas de trabalho disponíveis”, destacou.

Não quer dizer, frisou a investigadora, que não continuem a haver dificuldades, já que emigrar “nunca é um processo fácil” e quem emigra passa sempre por ter de encontrar casa, integrar-se num mercado de trabalho mais competitivo, aprender outra língua, mesmo quando vai para um trabalho qualificado.

A propósito da questão da língua, a investigadora lembrou que nos anos 60 havia muito menos recursos e as pessoas não tinham como aprender línguas, dizendo mesmo conhecer casos de emigrantes que ainda hoje não falam a língua do país de destino, mesmo depois de já lá viverem há mais de 20 anos.

“Isso é algo que é muito mais difícil de acontecer hoje porque há uma maior competitividade no mercado de trabalho, enquanto antes isso funcionava na base de redes familiares e de amigos”, apontou.

No que diz respeito à realidade do mercado laboral, Cláudia Pereira diz que atualmente tanto há o caso do emigrante que sai do país com vista a um emprego na sua área, como há quem, apesar das qualificações, agarre o primeiro emprego que apareça, independentemente da área.

Uma realidade que leva a investigadora a sublinhar que apesar dos emigrantes de hoje serem mais qualificados do que os emigrantes da década de 1960, a taxa de emigração dos qualificados apesar de tudo é menor do que a população qualificada.

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