Da Redação com Lusa
A falta de trabalhadores imigrantes, a ausência de ofertas de emprego atrativas e o envelhecimento da população ativa explicam a escassez de mão de obra em setores de atividade que começam a recuperar em Portugal, segundo economistas.
Apesar de a taxa de desemprego estar nos 6,1%, o nível mais baixo dos últimos anos, e do emprego estar em recuperação após a crise pandêmica, há sinais de escassez de mão de obra em vários setores de atividade, como o turismo, a restauração ou a construção.
Segundo João Cerejeira, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Minho, a escassez de mão de obra pode ser explicada pelos fluxos internacionais de trabalhadores imigrantes, que ficaram “praticamente congelados” devido à pandemia de covid-19.
“Há uma dificuldade porque ficaram praticamente suspensos os fluxos internacionais de trabalhadores, o que levou a uma queda da mão de obra imigrante, que habitualmente viria para ocupações com salários mais baixos e menos procuradas pelos trabalhadores portugueses”, afirma o economista.
O professor da Universidade do Minho refere que, além da “menor entrada de imigrantes”, sobretudo em setores como a construção, também o envelhecimento da população contribui para a escassez de trabalhadores que tem sido referida pelas empresas.
“A população mais jovem é mais qualificada do que a mais velha e, portanto, não procura empregos com níveis de qualificação mais baixos”, afirma João Cerejeira.
O diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, José Reis, converge com esta posição e aponta que, além, da imigração, “há alguma população ativa que é colocada fora do mercado de trabalho durante as crises”.
“Em 2020, a taxa de subutilização do trabalho era de 14%, muito acima da taxa de desemprego, e superior em dois pontos à de 2019”, refere José Reis.
A subutilização do trabalho é um indicador que agrega a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego, mas não disponíveis, e os inativos disponíveis, mas que não procuram emprego.
Também o ex-presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) Francisco Madelino diz que a pandemia “implicou o regresso de imigrantes”, nomeadamente para o Brasil, contribuindo para a escassez de mão de obra em setores como a construção civil ou o turismo interno, atividades que estão a dar sinais de retoma.
Francisco Madelino, que é professor no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, indica igualmente que outro fator a ter em conta é “a menor entrada de jovens” e o envelhecimento do mercado de trabalho.
Outro fator que pode explicar a falta de mão de obra é, segundo afirma por seu lado o ex-secretário de Estado do Emprego Pedro Martins, a falta de ofertas atrativas de emprego para as pessoas que ficaram desempregadas durante a pandemia.
Para Pedro Martins, que é professor na Nova School of Business and Economics, “muitos trabalhadores ainda estão a receber subsídio de desemprego”, uma vez que “as durações máximas destes subsídios tendem a ser entre 12 e 24 meses”.
“Esses trabalhadores não estarão, em grande parte dos casos, interessados nas condições de trabalho oferecidas”, afirma o ex-secretário de Estado do governo de Pedro Passos Coelho.
“Outro fator relacionado serão as preocupações com o risco de infecção, no local de trabalho ou nos transportes públicos, mesmo entre os vacinados”, acrescenta Pedro Martins.
Nesta semana, a Associação da Hotelaria e Restauração (AHRESP) diz faltarem mais de 40 mil trabalhadores no setor, dos quais cerca de 15.000 nos hotéis, segundo dados avançados pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).