Por Thais Matarazzo
A fadista Terezinha Alves durante muitos anos foi sócia-proprietária do restaurante Adega Lisboa Antiga.
Seu nome completo é Tereza Alves da Silva, nascida no Minho, norte de Portugal, a 24 de junho de 1938. Quando criança gostava de cantar em casa para divertir seus parentes. Veio para o Brasil aos 15 anos, a fim de conhecer seu pai. Acabou por ser apresentada ao fadista Manoel Monteiro em um restaurante típico no Rio. Com o auxílio de Monteiro, iniciou sua carreira artística aos 16 anos, quando cantou pela primeira vez no restaurante Parreira do Rio Lima, no bairro de São Cristóvão, a convite da fadista Maria José Villar, artista da casa.
Um ano depois, sua família mudou-se para São Paulo. Manoel Monteiro veio realizar uma festa artística no Teatro Colombo, no Brás, na Pauliceia, e convidou Terezinha para tomar parte no espetáculo. Aproveitou a ocasião e a apresentou a Irene Coelho, que se tornaria sua madrinha.
O jornalista Santos Mendes deu-lhe a alcunha de “A voz quente do fado”, muito embora Terezinha cante – e bem – outros estilos musicais, como o samba. Em 1957, começou a trabalhar também no Solar da Alegria, restaurante típico do casal Irene e Manuel Coelho.
Principiou a ganhar destaque a partir de 1960, quando do registro da sua carteira profissional na Ordem dos Músicos do Brasil. Antes, em setembro de 1959, inaugurou a Adega Lisboa Antiga. Segundo o jornalista Vander Pratt. “Terezinha Alves era a melhor fadista. Dona de voz macia, muito boa cantora. Ela apresentava muita gente, mas era a melhor”.
Gravou diversos discos no Brasil e em Portugal. Excursionou por todo o Brasil, Portugal Espanha, França e Argentina. Terezinha Alves é fã de muitos intérpretes portugueses, como Amália Rodrigues, Fernanda Maria, Tristão da Silva e Fernando Maurício.
Nos anos de 1965, 68 e 71 viajou para sua terra e viu o sucesso lhe sorrir. Para mostrar o quanto era querida do público paulista, vamos acompanhar a crônica de Vander Pratt, publicada em A Gazeta, na edição de 15/6/1970.
“Quando canta ela dá entonação necessária às palavras. É quase o sentimento que faz a música. O tema é sempre o amor, traído ou não correspondido, a amargura da paixão impossível, o desejo pelo ser amado distante e não esquecido. Entre nós, o fado tem melhor interpretação com Terezinha Alves. (…) Em 65 volta a Portugal. Revê amigos, canta em cassinos, shows, na Emissora Nacional e grava discos. Faz sucesso como a filha prodiga que volta ao lar. Regressa ao Brasil. (…) Resolveu parar e se instalar num lugar seu, com o público que viesse ouvi-la, num ambiente muito próximo do Fado. Surge a Adega Lisboa Antiga, onde ela canta, apresenta convidados e você pode saborear vários pratos típicos. Ali todas as noites, com o xale às costas, cantando com o Alcídio Guerra e Alípio Correia, Terezinha poderia lembrar as palavras do poeta. ‘Um fadista já cansado, quando o passado lembrou, ao ouvir uma guitarra, não pode cantar. Chorou’. Prepara agora nova viagem para Portugal, onde já tem contrato com vários cassinos, na TV, rádio e gravações. Vai levar algumas músicas brasileiras para cantar lá. Apenas uma mágoa ela guarda do Brasil: as músicas portuguesas estão esquecidas, quase não aparecem nas programações das nossas rádios. Alguns programas, feito por portugueses e dedicados a comunidade, ainda estão em algumas emissoras. Mesmo assim são de pouca projeção, só ouvido mesmo pela própria comunidade. Terezinha, que passa um verão em Portugal e outro no Brasil, leva músicas que são bem aceitas (mais ouvidas lá do que aqui) em Portugal e espera trazer músicas portuguesas dos ídolos de lá como Antônio Calvário, Antônio Mourão, Simone de Oliveira, Maria da Fé e a sempre fadista Amália Rodrigues. Terezinha vai, mas volta sempre, porque é coisa nossa”.
Atualmente afastada das lides artísticas, por motivos de saúde, Terezinha foi e sempre será uma das grandes vozes do Fado nas noites paulistanas.
Por Thais Matarazzo
Trecho do livro “O Fado nas Noites Paulistanas…” (2015), de Thais Matarazzo, Editora Matarazzo (São Paulo-SP). Assina a Coluna Fado no Brasil no Mundo Lusíada Online.