EGAS MUNIZ
Egas Moreira Landim nasceu aos 5 de agosto de 1912, em São Simão-SP, sendo o filho varão de Benedito Euclides Landim e Judith Moreira Landim, professores renomados do “Grupo Escolar” e “Escola Normal” de São Simão. O casal teve mais duas filhas, Nair (1915 – 1932) e Juracy (1917).
O professorado era uma tradição na sua família: avós, tios, primos, seus pais e irmãs, todos atuaram como conceituados docentes em São Simão e adjacências.
O rapaz começou a trabalhar desde pequenino, como contínuo de jornal. Por volta de 1929, a família Landim veio residir na capital paulista. Fixaram residência à Rua da Consolação, nº. 590, na Vila Buarque.
Em 1931, Egas Muniz iniciou-se no jornalismo, era “foca” nas “Folhas”. Entre os anos de 1932 a 34, Egas trabalhou também no Correio de São Paulo, realizando diversas reportagens. Foi um dos primeiros cronistas radiofônicos da Pauliceia. Sua figura tornou-se popular entre os artistas.
Egas fazia camaradagem com facilidade. Era uma figura ágil e bem falante, famoso dançador de sambas e boleros nas jornadas noturnas da cidade. Seu sucesso junto às casas de diversões da época, seus comentários sobre o rádio e o teatro ditavam imposição no gosto do público.
Pelos serviços jornalísticos prestados ao Governo da Lituânia, em 1937, Egas Muniz foi homenageado com o título de “Comendador pela Ordem Grão Duque de Gediminas”. Na ocasião, tinha 25 anos e já era um jornalista respeitado.
Para fazer suas anotações utilizava qualquer papelzinho ou um bloquinho que carregava no bolso.
A partir de então até o seu falecimento, Egas Muniz registrou os principais acontecimentos do mundo artístico da cidade. Era aberto a todos os ritmos musicais e grande conhecedor do tema. Quando alguém queria saber qualquer coisa sobre o assunto, Egas era logo indicado para dar informações.
Boêmio inveterado, sua vida e seu trabalho aconteciam à noite. Tinha estatura mediana e era magro. Sofria de bronquite e não gostava de cuidar da sua saúde. Apreciava futebol e o seu time favorito era o São Paulo Futebol Clube. Foi um torcedor “roxo”.
Viveu sempre na casa da família, à Rua da Consolação. Após a morte dos pais e da irmã Nair, Egas e a mana Judith passaram a ter a companhia da tia Mariquita Landim, também professora.
De 1955 a 1963, escreveu a coluna Giro Noturno – um noticiário sintético -, para o Correio Paulistano. Foi um dos pontos altos da sua carreira de cronista. O jornal era um dos mais lidos em São Paulo. Egas promoveu inúmeros artistas. Frequentava diariamente o afamado restaurante Parreirinha, na Vila Buarque.
Era admirador da música portuguesa. Numa das suas visitas ao restaurante Adega Lisboa Antiga, em março de 1962, aconteceu um fato engraçado: o cronista teve uma surpresa ao ser apresentado pelo proprietário da casa, Luiz de Campos, ao cantor luso Moniz Trindade. A surpresa deu-se quando Moniz afirmou que se chamava Egas Moniz Trindade. E, em Portugal, não usava seu nome em respeito ao cientista e humanista homônimo. Egas estranhou aquela situação e afirmou. “Mas no Brasil não tem disso, não, ainda bem. E nosso bate-papo, com propósito do mesmo nome e outros assuntos, foi farto e agradabilíssimo”.
Outro momento inesquecível ocorrido na “Lisboa Antiga”, foi durante a estreia da cantora Ângela Maria, em fevereiro de 1970. Egas já estava afetado pela tuberculose e todos sabiam da sua saúde frágil; Ângela Maria, num ato de delicadeza, dedicou o choro Carinhoso (Pixinguinha / João de Barro) ao velho cronista.
Quando o Correio Paulistano encerrou suas atividades em 1963, Egas ficou sem emprego. A seguir, passou por vários periódicos menores.
1969 não foi um ano bom para o jornalista. Doente e sem emprego, encontrou apoio no amigo e também cronista noturno Vander Pratt, que cedia um espaço na sua página na Folha de S. Paulo, onde Egas produzia a coluna E tem mais essas… Logicamente ele não assinava, mas todos sabiam que ele escrevia. Nesse mesmo ano, recebeu o convite de Ferdinando Baeder, diretor do caderno de Variedades de A Gazeta, e passou elaborar a seção Vamos lá, Egas.
Em junho de 1970, o Dr. Fauze Carlos, médico amigo da família, recomendou que Egas Muniz se internasse no Hospital do Mandaqui, referência no tratamento de tuberculosos. Mesmo assim, só seguiu a recomendação médica porque fez Vander Pratt prometer que ele daria continuidade a sua coluna na Gazeta, enquanto ele não melhorasse.
Não houve solução, a doença havia avançado gravemente e o velho cronista das noites paulistanas acabou falecendo aos 58 anos, em 27 de setembro de 1970.
A noite ficou mais triste, como seus inúmeros amigos. Seu sepultamento, no cemitério do Araçá, foi concorrido, compareceram diversos jornalistas, radialistas, donos de casas noturnas, artistas e familiares para a última homenagem a Egas Muniz.
Em tributo a sua memória, Paulo Meinberg, proprietário do Hotel Comodoro e do Captain’s Bar (anexo ao hotel), à Av. Duque de Caxias, instituiu o “Troféu Egas Muniz”. A primeira entrega aconteceu em junho de 1971. Vários profissionais da imprensa e artistas foram contemplados.
Por Thais Matarazzo
Trecho do livro “O Fado nas Noites Paulistanas…” (2015), de Thais Matarazzo, Editora Matarazzo (São Paulo-SP).
1 comentário em “Fado no Brasil: Os cronistas dos bastidores da noite”
MUITA ADMIRAÇÃO PELA TRAJETÓRIA DE UM JORNALISTA QUE FOI TÃO IMPORTANTE. MAIS QUE TEVE UMA PASSAGEM TÃO RÁPIDA NO CENÁRIO DA VIDA. MAIS QUE FOI O SUFICIENTE PARA CONSTRUIR UMA CARREIRA ADMIRÁVEL DENTRO DO JORNALISMO DA SUA ÉPOCA.