Por Thais Matarazzo
Florência é do Porto, uma das mais belas cidades portuguesas. Bela também é a voz desta intérprete.
Veio para o Brasil em 1953, aos 15 anos, na companhia de seus pais, foram residir na Cidade Maravilhosa.
Não demorou muito para Florência ser descoberta pelo fadista Manoel Monteiro, que a levou para fazer um teste na gravadora Todamérica.
Conseguiu gravar seu primeiro disco 78 rotações, em seguida, ganhou um LP. Passou a ser conhecida como Florência de Fátima. Foi contratada da Rádio e TV Tupi carioca.
O compositor e fadista Joaquim Pimentel lhe deu os primeiros sucessos.
Do seu primeiro LP, lançado entre 1959, destacamos o fado “Velho Portugal menino”, com música de Abel Ferreira e versos de Vânia Ferreira. Com certeza, a gravação resultou numa bonita combinação: a voz de Florência e a clarineta de Abel em “Velho Portugal menino”.
Conhecido chorão, o clarinetista brasileiro Abel Ferreira (1915 – 1980) tem seu nome ligado ao Choro. Também pertencia ao elenco da Todamérica.
Entre suas composições mais conhecidas estão “Chorando baixinho”, “Doce melodia” e “Acariciando” (com Lourival Faissal).
O músico esteve duas vezes na Europa, com destaque, para suas atuações em Portugal em 1958. Nos conta a cantora Vânia Ferreira, filha do músico Abel Ferreira e irmã do maestro Leonardo Bruno. “Tive a felicidade de compor essa letra quando eu tinha 16 anos. Papai havia passado alguns meses em Portugal e afeiçoado-se à ‘terrinha’, onde fez muitos amigos. Voltou com o coração cheio de lembranças e saudades. Nos sentamos, ele com o violão, como fazia em momentos de mais intimidade, e eu com a voz. Nós dois íamos cantarolando a melodia. Algumas ideias iam brotando em mim, como se eu também estivera em Portugal. E assim, foram aparecendo as estrofes, num português que fundia as duas pátrias. Desde então, ‘Velho Portugal menino’ fez parte do meu repertório, toda vez que me apresentava ao lado de papai e me embalava ao doce e inigualável som de seu clarinete”.
Velho Portugal Menino
(Abel Ferreira / Vânia Ferreira)
Velho Portugal menino
Canto mouro d’além mar
Trazes desfraldado o mastro,
Tua glória na história.
Fazes da alma lusa um hino
Velho Portugal menino.
Povo ingênuo bom e amigo
Que apesar de tão antigo.
Faz lembrar feliz criança
De olhos fitos na esperança.
Fado, amor e paz, teu hino
Velho Portugal menino.
Por Thais Matarazzo
Trecho do livro “O Fado que cantei e outras canções…” (2015), de Thais Matarazzo, Editora Matarazzo (São Paulo-SP).