“Sei que não sou do Fado por nascença/ E só o posso ser por condição/ Por isso, ao começar, peço licença/ E assim que terminar, peço perdão (“Na Companhia de Fadistas-Fado Margaridas de Miguel Ramos e Tiago Torres da Silva).
Por Eulália Moreno
Para Mundo Lusíada
Nos passados dias 27 e 28, no palco do SESC Pompéia em São Paulo Jussara Silveira lançou o “Água Lusa”, espetáculo que contou com a participação especial do poeta português Tiago Torres da Silva e teve Pedro Jóia na guitarra clássica, Sacha Amback ao piano e Marcelo Costa na percussão. O roteiro foi baseado no álbum mas incluiu também “Nem as Pares Confesso” e uma emocionante interpretação a duo de “Fado Tropical” de Chico Buarque e Ruy Guerra.
Jussara Silveira é natural de Minas Gerais mas considera-se baiana. Foi vocalista de Caetano Veloso e cantou em trio elétrico. O seu primeiro álbum foi lançado em 1997. Em 2008 juntou-se a Teresa Cristina e Rita Ribeiro (hoje Rita Benneditto) e fizeram o espetáculo “Três Meninas do Brasil” que foi gravado em DVD e excursionou por todo o Brasil. Em 2011 gravou dois álbuns, “Ame ou Se Mande” e “Flor Bailarina” onde canta compositores angolanos.
O “Água Lusa” surgiu em 2012 idealizado por Tiago Torres da Silva com produção e arranjos do violonista Pedro Jóia pelo selo Dubas Música. Todas as letras são de Tiago em parceria com Miguel Ramos (” Na Companhia de Fadistas- Fado Margaridas”), Armando Machado (“Vou Num Rio- Fado Licas” e “Meu Amor Abre a Janela-Fado Santa Luzia”), Ernesto Leite (“O Mar Fala de Ti”), Rão Kyão (“Cantiga do ladrão”), Armandinho (“Voltarei à Minha Terra”), Carlos Gonçalves (“Beijo Alentejano”), Rui Veloso (” O Nome do Mar”), Pedro Jóia (“Uma Canção Por Acaso” e “Quase a Amanhecer”) e Jaime Cavalheiro (“Sereia- Fado Menor do Porto”, na voz de Amália “Não é desgraça ser Pobre” e na de Mariza “Meus Olhos que Por Alguém”).
O Fado faz parte da vida de Jussara Silveiura desde que, aos 10 anos de idade, ouviu Amália Rodrigues pela primeira vez. Desde o seu primeiro espetáculo ela faz referências a música portuguesa, seja gravando no seu primeiro álbum de 1997 “Orientação” de Tuzé de Abreu, em 2002 no álbum “Jussara”, “Fria Claridade” (J.Amaral/Pedro Homem de Melo) e “Caravela” (Maurício Pacheco) ou ainda a música de José Miguel Wisnik sobre poema de Fernando Pessoa,”Tenho Dó das Estrelas” no “Ame ou Se Mande” de 2011.
Jussara Silveira considera que o cenário brasileiro está bem propício para os artistas portugueses. “Atualmente há muitas parcerias entre brasileiros e portugueses e temos de reconhecer o pioneirismo de Tiago Torres da Silva, autor teatral poeta e letrista portugues gravado por grandes vozes brasileiras”. Tiago , por sua vez, saúda Jussara Silveira por ser a primeira cantora brasileira a dedicar um álbum inteiro à obra de um letrista portugues. “Considero Jussara a mais portuguesa das cantoras brasileiras”, afirmou Tiago em entrevista recentemente concedida. Com “Agua Lusa” temos Jussara Silveira, a Fadista por condição. E nem sequer precisa pedir perdão.