Faculdade de São Paulo lamenta doação de acervo de arquiteto para Portugal

FOTO GERARDO SANTOS/GLOBAL IMAGENS

Da Redação
Com Lusa

A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) manifestou “grande pesar” pela doação do acervo do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha à Casa de Arquitetura, em Matosinhos, anunciada nesta quarta-feira.

“Apesar de inúmeras tentativas e propostas de acolhimento do seu acervo, a decisão soberana do arquiteto foi diversa da nossa expectativa (…). Lamentamos a decisão (…), mas reafirmamos nosso compromisso com a pesquisa e a formação de novas gerações”, lê-se na mensagem da direção da faculdade, que tem Paulo Mendes da Rocha por professor emérito.

A incorporação do acervo do arquiteto brasileiro, Prêmio Pritzker 2006, na Casa da Arquitetura – Centro Português de Arquitetura, em Matosinhos, no distrito do Porto, foi anunciada na quarta-feira.

Segundo a instituição portuguesa, a entrega envolve a totalidade do acervo de Paulo Mendes da Rocha e segue-se à doação, em 2015, do projeto do Museu Nacional dos Coches, à Casa da Arquitetura e, em 2018, de um conjunto de outros sete, para a Coleção Arquitetura Brasileira do Centro Português de Arquitetura.

Na mensagem da FAU-USP, divulgada em rede social, a sua direção afirma que o acervo de Paulo Mendes da Rocha teria, para um “duplo significado” para a instituição.

“Por um lado, a importância do material, nos seus próprios termos, e o vínculo [do arquiteto] à história desta instituição pública de ensino; por outro, integraria o maior acervo público de arquitetura, urbanismo e design” do Brasil, especifica na mensagem.

A FAU-USP recorda que “guarda mais de 400 mil desenhos, aproximadamente 100 mil registros fotográficos e algumas centenas de objetos” de arquitetos como Ramos de Azevedo, Dubugras, Rino Levi, Jacques Pilon, Eduardo de Almeida e Cauduro e Martino, entre outros.

“Mais de 40 profissionais depositaram na FAU a confiança da guarda e ampla difusão ao ensino e pesquisa de arquitetura, urbanismo e design, os registos de suas trajetórias profissionais. A FAU-USP é reconhecida, nacional e internacionalmente, pelo seu acervo e pela produção do conhecimento realizada a partir de pesquisas nele realizadas. São alunos de graduação (…), investigadores seniores e instituições os utilizadores deste material de riqueza excecional”, escreve a direção da faculdade.

A revista brasileira Veja, que noticia a posição da FAU-USP, na sua edição ‘online’, cita “pessoas que acompanharam o processo”, próximas do arquiteto, e que garantem que aquela instituição brasileira “só se manifestou quando soube da intenção” de entrega do acervo à Casa da Arquitetura.

“Paulo [Mendes da Rocha] foi convidado pelo governo de Portugal a projetar o Museu dos Coches e ali surgiu o convite [para o país receber o acervo]”, disse uma pessoa próxima do arquiteto, citada pela revista.

O fato de a Casa da Arquitetura disponibilizar ‘online’, gratuitamente, o seu patrimônio, numa nova plataforma a lançar até ao final do ano, foi também decisiva, segundo as fontes citadas pela revista.

“O acervo de Paulo Mendes da Rocha que agora chega à Casa da Arquitetura engloba todo o material produzido durante a sua longa vida profissional, desde a década de 50 do século passado até aos nossos dias”, disse a instituição portuguesa, no anúncio da doação.

A incorporação envolve cerca de 8.800 objetos, relativos a mais de 320 projetos, e “é composta por cerca de 6.300 desenhos analógicos, 1.300 desenhos físicos, três mil fotografias e ‘slides’, um conjunto de maquetes feitas pelo próprio” Mendes da Rocha e aproximadamente 300 publicações, segundo a instituição portuguesa.

A Casa da Arquitetura irá realizar uma exposição monográfica dedicada ao arquiteto em meados de 2022, e “tem como compromisso a manutenção da unicidade deste acervo”, a sua apresentação “partilha e disponibilização a investigadores, estudantes e universidades, a custo zero”, lê-se no comunicado da instituição.

Prêmio Pritzker, em 2006, e Leão de Ouro de carreira na Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2016, Paulo Mendes da Rocha nasceu em 1928, em Vitória, no estado do Espírito Santo.

Entre as suas mais conhecidas obras estão o Museu Brasileiro de Escultura (1987), o Museu de Arte de Campinas (1989) e o restauro da Estação da Luz, em São Paulo, convertida em Museu da Língua Portuguesa (2006).

Em Portugal

“A obra de Paulo Mendes da Rocha é reconhecida pelo seu mérito e qualidade em todo o mundo”, afirma Nuno Sampaio, diretor executivo da da Casa da Arquitetura, onde Paulo Mendes da Rocha é ainda primeiro sócio honorário.

“Tive a oportunidade de trabalhar com o arquiteto no projeto do Museu dos Coches e admiro-o muito pelo seu pensamento e frontalidade. Podendo escolher qualquer instituição mundial para incorporar o seu acervo, regozijo-me que tenha optado por integrá-lo na Casa da Arquitetura”, afirmou.

A ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, também disse que “é com muito orgulho” que Portugal acolhe “o acervo integral do prestigiado arquiteto brasileiro”, “tão importante para a história e conhecimento da arquitetura contemporânea a nível mundial”.

O presidente da Casa da Arquitetura, José Manuel Dias da Fonseca, vê na doação do arquivo, “um momento grande para Portugal”.

“Um dos maiores arquitetos do mundo reconheceu no país e na Casa, o abrigo certo para todo o seu arquivo, através desta doação. Exemplar”.

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