Exportações de bacalhau devem repetir níveis recordes de 2014 com Brasil a liderar

Mundo Lusíada
Com Lusa

Bacalhau_ProconRiodeJaneiroAs exportações de bacalhau estão em níveis recordes, com o Brasil a liderar os destinos, e devem continuar a evoluir positivamente este ano, segundo o secretário-geral da Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB), Paulo Mónica.

A indústria não foi afetada negativamente pela crise e as exportações atingiram, em 2014, os 100 milhões de euros, “um valor histórico para o setor” que tem vindo a conhecer um aumento das vendas ao exterior “consistente e sustentável” que se deve manter este ano.

“Segundo os dados disponíveis até julho, estamos ao mesmo nível do ano passado no período homólogo e esperamos que o ano corra da mesma forma”, afirmou Paulo Mónica à agência Lusa.

O Brasil é o principal mercado de exportação, representando cerca de 50% do total, seguindo-se França, Angola e Espanha.

Apesar das novas tendências de consumo e do crescimento do bacalhau demolhado e ultracongelado, sobretudo nos mercados de exportação, a indústria nacional continua a apostar na cura tradicional portuguesa, uma tradição que remonta aos tempos iniciais da pesca na Terra Nova e que era usada para conservar o peixe na ausência de refrigeração.

“A cura tradicional portuguesa é um método usado pela indústria nacional, uma tradição que se criou nos tempos em que Portugal pescava e tinha uma frota considerável a pescar nos mares do Norte. Nessa altura a forma de conservar o pescado era através da salga, não havia sistemas de frio e faziam-se longas viagens em que o produto tinha que ser conservado durante meses”, explicou o responsável da AIB.

Por isso, quando era pescado, o peixe era imediatamente salgado e arrumado nos porões dos navios, chegando a Portugal, por vezes, com cinco meses de contato com o sal.

“Hoje em dia a indústria procura reproduzir esse sistema, selecionando as suas matérias-primas, com rigor, usando sal da mais elevada qualidade e tendo períodos de salga e maturação longos”, adiantou Paulo Mónica, argumentando que é esta cura “que dá ao produto final aquelas características tão apreciadas, a nível físico, químico e organoléptico”.

Outra forma de preservar o bacalhau é a secagem, um processo para o qual Ílhavo – a cidade do distrito de Aveiro que Paulo Mónica classifica como o ‘cluster’ do bacalhau – reunia condições únicas, devido ao vento constante que retirava o máximo possível de humidade ao peixe.

Antigamente, o peixe era estendido em mesas e seco ao ar, mas o processo foi alterado, adaptando-se às exigências industriais. Atualmente, o bacalhau é seco em túneis que reproduzem as condições ideais para a secagem e o fato de não estarem dependentes das condições meteorológicas permite às fábricas laborar em qualquer altura do ano.

Paulo Mónica mostra-se convicto de que os consumidores valorizam o bacalhau produzido em Portugal e faz algumas recomendações para uma boa escolha: “As pessoas devem procurar um peixe que seja agradável à vista, a cor deve ser um amarelo palha, não muito intenso, devem verificar se tem sal na sua superfície e procurar verificar o nível de humidade. Isso pode ser feito pegando pela parte do cachaço e verificando se dobra muito ou pouco, quanto mais dobrar menos seco estará com certeza”.

A indústria portuguesa de transformação do bacalhau conta atualmente com cerca de 30 empresas num total de aproximadamente 40 unidades industriais e dá emprego direto a cerca de 2000 pessoas. Na última década, a produção estabilizou em torno das 50 mil toneladas em peso e o volume de negócios ronda os 400 milhões de euros anuais.

“Curiosamente nestes últimos anos em que se fez sentir mais a crise, o consumo de bacalhau aumentou, tendo em conta que o seu preço baixou e tornou-se, por isso, um produto mais atrativo para a economia familiar”, notou o secretário-geral da AIB.

Para enfrentar o principal concorrente, a Noruega (que é simultaneamente o maior fornecedor), a indústria portuguesa tem procurado fazer a diferença “inventando produtos que criam valor” como o bacalhau ultracongelado, pronto a cozinhar e muito direcionado para os mercados externos que não dominam a forma de confeccionar o bacalhau. A tendência para procurar este tipo de bacalhau tem vindo a crescer também em Portugal.

Bacalhau pronto
O bacalhau pronto a cozinhar destronou, pela primeira vez, o tradicional nas vendas da empresa líder do mercado nacional, Riberalves, passando a representar 52% do volume de negócios.

“Pela primeira vez, a nossa faturação global vai ser de cerca de 52% de bacalhau pronto a cozinhar e 48% de bacalhau seco e essa tendência também se verifica nas vendas deste natal”, afirmou Ricardo Alves, administrador da empresa, à Lusa.

A inversão da tendência de vendas do bacalhau pronto a cozinhar, já demolhado, cortado e congelado, e do bacalhau seco tradicional reflete os novos hábitos de vida e de consumo.

“Cada vez mais, as pessoas passam mais tempo fora de casa, trabalham mais horas e, como demolhar o bacalhau obriga a mudar a água de seis em seis horas, essa prática torna-se impraticável”, explicou.

Para fazer chegar ao consumidor o bacalhau demolhado, cortado e ultracongelado, a empresa tem vindo a investir desde 2003 na fábrica da Moita 45 milhões de euros em maquinaria para as novas linhas de transformação da matéria-prima.

Além da tradicional secagem com sal, o bacalhau é cortado em postas, demolhado em enormes tanques de água e congelado. As várias fases de produção empregam 160 trabalhadores, de um total de meio milhar nas várias fábricas da empresa.

Para acompanhar as exigências dos consumidores, a Ribeiralves prepara-se para lançar, no início do próximo ano, um novo produto, o bacalhau sem espinhas e sem pele, que obriga a um investimento de meio milhão de euros.

A empresa porém estima uma quebra de 5% nas vendas da quadra natalícia e no resto deste ano. “As vendas estão ligeiramente abaixo, cerca de 5%, devido à crise económica no Brasil e Angola”, os dois principais países para onde a empresa exporta, prevendo fechar o ano com menos 10% de exportações, disse Ricardo Alves.

Neste período do ano, a Ribeiralves estima faturar 27 a 30 milhões de euros, dos quais 22 milhões com o bacalhau pronto a cozinhar.

Com fábricas em Torres Vedras, Moita, Brasil e Angola, a empresa estima fechar este ano com uma faturação entre 138 a 140 milhões de euros, 30% dos quais no mercado da exportação, com o bacalhau pronto a cozinhar a representar 20% das vendas e o seco 35%.

Por ano, vende 32 mil toneladas, tendo 13% da quota do mercado mundial, e é a maior em todo o mundo a transformar bacalhau.

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