Da Redação
A peça “Infância” de Graciliano Ramos estreia em São Paulo, na biblioteca Mário de Andrade, no próximo dia 12, às 19h, com entrada franca.
Depois de se apresentar em cidades de Minas Gerais, pelo sertão e Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas, em Maceió, Aracaju e Salvador, no Teatro Municipal de São Paulo e em municípios do Paraná, o grupo rodateatro mostra sua versão cênico-musical-literária da obra prima de Graciliano Ramos no auditório da Biblioteca Mário de Andrade em apenas quatro apresentações: 12, 16, 23 dezembro e 30/01/2023.
Após a apresentação haverá uma conversa/debate, mediada pela jornalista, pesquisa e crítica Lucian Araujo Marques.
PESQUISA
Em dezembro de 2021, Ney Piacentini (ator que também pertence a Companhia do Latão de São Paulo) e Alexandre Rosa (músico da Osesp [Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo] principal conjunto sinfônico da América Latina), foram até o sertão de Pernambuco e Alagoas, em busca dos espaços onde se dão os episódios de Infância e de seu mundo sensorial. Passaram por Quebrangulo, Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE). Visitaram as ruas citadas no livro, as casas em que Graciliano viveu, e puderam conviver e conversar com os “viventes” locais. Além dessa viagem de imersão e da leitura das obras completas do autor, a pesquisa contou ainda com quatro palestras proferidas por especialistas como Ieda Lebensztayn, Ivan Marques, Leusa Araujo e Luciana Araujo Marques.
ENCENAÇÃO
Conhecido por seu estilo “seco”, o autor se utiliza apenas das palavras e frases essenciais, e a encenação segue na mesma direção. A montagem é simples, porém inventiva: a cenografia é feita de objetos imprescindíveis ao palco, com sofisticados instrumentos musicais que se transformam, por meio de sugestões indiretas, na indumentária do projeto. O trabalho está planejado de modo a facilitar a adaptação às condições materiais dos espaços e não o contrário. E o programa engloba a encenação (de 60 minutos), seguida de uma conversa sobre o universo de Graciliano Ramos. Entram em debate os conteúdos, as formas, as demais obras do autor, sua inserção no panorama da história e literatura brasileiras, além de outros aspectos de interesse da plateia. Haverá ainda a apresentação do processo de construção do espetáculo, especulando sobre como Ney Piacentini (ator) e Alexandre Rosa (músico) deram vida cênica ao Infância. Trazer ao palco um dos livros mais importantes de Graciliano Ramos tem a intenção de estimular a leitura e a formação de público na conjugação entre literatura, teatro e música.
OBRA
Infância é a transcrição cênica e musical a partir do livro homônimo de Graciliano Ramos, publicado em 1945. Nestas memórias, o alagoano traz à tona seus primeiros anos de vida até o despertar da puberdade vividos no interior dos Estados de Alagoas e Pernambuco. Em meio à dura vivência com a família e marcado por uma difícil alfabetização, surge página a página uma criatura interessada nos vários personagens à sua volta e no mundo das letras. Meninice que não inspira nostalgia e que tem estreita relação com obra do escritor como um todo e tudo aquilo que ela denuncia, criando uma movimentação entre as vozes da criança e a daquele que a rememora. Esse jogo literário que acumula temporalidades (as diferentes idades do menino e a perspectiva do adulto) é explorado na adaptação à cena que, ao priorizar a falta de trato familiar, a precariedade do ambiente escolar e as dificuldades sofridas pelo garoto no letramento, cria um contraste epifânico, uma vez que aquele que passa a vislumbrar novas paisagens a partir da aproximação aos livros se tornará (ao mesmo tempo que já é) um de nossos maiores escritores.
GRACILIANO RAMOS
Primeiro de dezesseis filhos, nasceu na pequena Quebrangulo, interior de Alagoas, na tarde de 27 de outubro de 1892. Três anos depois, seu pai compra uma fazenda em Buíque, sertão pernambucano que, mais tarde, será o cenário de Vidas secas (1938). Essa mudança da família, a propósito, figura no primeiro capítulo de Infância. Numa escola que servira de pouso para a viagem, o menino ouve um senhor de barbas longas entoar um bê-a-bá único e que restará cravado em sua lembrança. Em 1899, seguem para Viçosa, Zona da Mata alagoana, marcando a passagem da vida rural para a de uma pequena vila, onde o pai se estabelece como pequeno comerciante.
Graciliano surge como romancista em 1933 com a publicação de Caetés, estreia que se dá tempos de depois de seus relatórios como prefeito de Palmeira dos Índios terem caído nas mãos de um editor. Nesse mesmo ano é nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas (cargo equivalente ao de secretário de Educação) e, no seguinte, publica São Bernardo. Em março de 1936 é preso sem qualquer acusação formal no dia em que entrega os originais do romance Angústia à datilógrafa de confiança.
Levado para o Rio de Janeiro, é confinado em diferentes prisões, conforme conta em Memórias do cárcere, publicado em 1953, ano de sua morte. Entre outros de seus livros de contos, crônicas e os infantis estão A terra dos meninos pelados, Histórias de Alexandre, Insônia, Viagem, Linhas tortas e Viventes das Alagoas.
Serviço
AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE
Rua da Consolação, 94, Centro. SP/SP.
DIA 12/12/2022
Às 19H
DURAÇÃO: 60min
ENTRADA FRANCA
Obs: após o espetáculo haverá uma conversa/debate, conduzido pela jornalista, pesquisadora e crítica literária Luciana Araujo Marques.
REALIZAÇÃO: PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO, SECRERIA MUNICIPAL DE CULTURA DE SÃO PAULO, BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE
INDICADO PARA MAIORES DE 10 ANOS
IDEALIZAÇÃO: RODATEATRO (SP/SP)
CONTATOS: Em São Paulo Whatsapp 11 97283-6199 / [email protected] / Instagram: @neypiacentini