Mundo Lusíada
Com agencias
Portugal sagrou-se campeão da Europa de futebol pela primeira vez na sua história, ao bater na final a anfitriã França por 1-0, após prolongamento, em encontro disputado no Stade de France, em Saint-Denis.
Um gol do suplente Éder, aos 109 minutos, selou o triunfo da formação das ‘quinas’, que perdeu por lesão, aos 25, o ‘capitão’ Cristiano Ronaldo, substituído por Ricardo Quaresma, depois de uma falta dura de Dimitri Payet, logo aos oito.
A seleção lusa tornou-se a segunda na história da competição a vencer a equipa da casa na final, 12 anos depois de ter perdido por 1-0 com a Grécia a do Euro2004, em pleno Estádio da Luz, em Lisboa.
Até final do tempo normal, Portugal e a anfitriã França estiveram empatados a zero, até o final do primeiro tempo do prorrogação. Rui Patrício foi um destaque sendo responsável por muitas defesas difíceis segurando o placar em 0x0.
O encontro ficou marcado pela lesão do ‘capitão’ Cristiano Ronaldo, que foi substituído aos 25 minutos depois de uma falta dura de Dimitri Payet, logo aos oito. Sem a sua maior referência em campo, Portugal se fortaleceu em espírito de equipe e trouxe o resultado improvável para muitos.
O ‘capitão’ da seleção portuguesa que levantou a taça de campeão da Europa, pelas 23:48 locais (22:48 em Lisboa), no Stade de France. Dezesseis minutos depois do último apito do árbitro inglês Mark Clattenburg, o jogador com mais jogos e golos pela seleção das ‘quinas’ ergueu o troféu.
O autor do único gol Éder fez sua declaração: “Por todo o trabalho que fizemos, todos os jogadores, todo o ‘staff’, todos os portugueses que procuram este título há muito tempo, acho que é fantástico, é muito merecido. Estamos todos de parabéns. Desde o primeiro dia, desde que o Fernando Santos me convocou, ele sabe das minhas qualidades, o grupo sabe, confiou em mim. Trabalhei para dar o meu contributo e hoje foi possível, muito contente pelo que fizemos. Ele [Cristiano Ronaldo] disse-me que seria eu a fazer o golo da vitória. Passou-me essa força, essa energia dele, foi importante marcar o golo, mas foi muito trabalhado pela nossa equipa. Desde o início do Europeu fomos espetaculares. Acho que o povo português merece”.
A história de superação do maior herói da conquista portuguesa
O título de Portugal teve muitos heróis. O astro Cristiano Ronaldo, que tanto se dedicou. O zagueiro Pepe, sempre muito firme. O Rui Patrício, com suas defesas espetaculares, especialmente na final. E claro, o atacante Éder, o autor do gol que deu a Portugal o inédito título europeu.
Éder tem uma história digna de um filme. Ele nasceu em Guiné-Bissau, na África, mas imigrou para Portugal ainda na infância, Éderzito, como foi batizado teve que se separar dos pais, que não tinham condições de criá-lo. Foi levado para um orfanato nos arredores de Coimbra onde viveu e começou a jogar futebol. Do orfanato, foi levado por um professor para fazer um teste na Adémia, clube amador da cidade, e onde começou no futebol. Defendeu o clube de 1999 a 2006, dos 11 aos 18 anos.
Passou pelo F. C. de Oliveira do Hospital, da terceira divisão e logo depois foi para o Tourizense, da segunda divisão. Com 21 anos, em 2008, foi para o Académica, de Coimbra. Foram quatro temporadas até ir para o Braga, onde foi campeão da Taça de Portugal em 2013 em uma decisão contra o Porto. Foi o seu melhor momento. Em três temporadas ele marcou 33 gols em 82 jogos. Foi também nesta época que foi convocado pela primeira vez para a seleção portuguesa.
Depois de sua passagem pelo Braga, Éder foi vendido ao Swansea, mas teve uma passagem apagada pelo clube galês. Quinze jogos e nenhum gol. Seu recomeçou foi na última temporada, quando marcou seis gols em 14 jogos pelo francês Lille. Por isso acabou convocado para a Eurocopa, e foi decisivo, fazendo a alegria da sua família e de milhões de portugueses.
“Fiquei contente e é um grande orgulho para mim”, disse a avó de Éder, Ricardina, em entrevista ao jornal “Record”, de Portugal. Ricardina e parte da família de Éder ainda vivem em Guiné-Bissau. Todos comemoraram a conquista com o gol do atacante guinense. Foi ela que criou Éder enquanto os pais procuravam uma vida melhor no exterior. Agora Éder está no centro dos holofotes e tem seu destino em aberto.
Mas sua história de vida não foi fácil. O menino magro e alto que se destacava nos juvenis do Adémia, nunca deixou que as dificuldades o afetassem. No lar, tornou-se num exemplo. No clube, uma “pérola”.
As palavras surgem em soluços, numa voz embargada e acompanhada de lágrimas, quando Anabela Santos, 52 anos, tem de falar de Éder, o seu menino. “Ele é único. É o nosso orgulho”, sintetiza a funcionária do Lar O Girassol, em Coimbra, onde o atacante luso entrou em 1998 e saiu em 2007, com 20 anos.
Na instituição toda a gente fala de um rapaz muito humilde, bem comportado, de sorriso na cara, pacato e, claro, sempre “com a bola nos pés”, correndo com ela pelo pátio, onde muitos vidros já foram partidos à custa do futebol.
No domingo, funcionárias e jovens do lar viveram o gol com uma alegria especial. A esperançazinha de Anabela Santos confirmou-se e viu o seu menino marcar um gol. “Saltei, pulei, chorei. Foi uma alegria muito grande”, disse ela em entrevista à agência Lusa.
A reação foi a mesma para Maria Letra, há 18 anos na instituição, sublinhando que o gol mostrou aos comentadores que o “Éder é um grande cisne”. “Com a alegria dele, tentava sempre puxar-nos para cima. É o nosso menino de ouro”, explica Ana Gomes, também funcionária no lar de acolhimento para jovens.
Apesar de Éder ser um futebolista profissional, nunca se esqueceu do lar por onde passou em Alcarraques (Coimbra), sublinha a psicóloga da instituição, Filipa Nobre. Lá dentro, é uma referência para os menores, havendo “muitos que lhe telefonam para pedir ajuda em tomadas de decisão. É um bom exemplo, pela luta que ele teve e pela volta que ele deu à vida”. “Sonhar deve ser assim: sem limites. É isso que queremos transmitir”, notou.
Perto de Alcarraques, situa-se o campo do Adémia. Diogo Santos que foi o capitão de infantis e juvenis, disse que aquilo que lhe faltava em formação, superou com vontade, desejo e garra, “coisas que não se ensinam e não se treinam”, a capacidade de se recompor era a qualidade que mais sobressaía na “pérola” do clube, que fazia questão de vestir por debaixo do uniforme a camisa do Manchester United, o seu clube de sonho.
“Quando era novo, mesmo quando havia comentários racistas e xenófobos nos jogos de futebol, ele mantinha sempre a mesma postura. Creio até que isso lhe dava mais força. Agora, que toda a gente punha em causa a sua qualidade, deu uma bofetada de luva branca”, diz à Lusa Tiago Nogueira, antigo colega de equipe.
Aquele gol aos 109 minutos, é também “um bocadinho” de Diogo Santos, assim como dos restantes colegas do Adémia. “Há um orgulho desmesurado. É o cumprir de um sonho daqueles garotos todos”, que jogavam à bola, num simples pelado, com chuteiras de dez euros, nos arredores de Coimbra.