CPI do Senado deve ir a Portugal ouvir empresário foragido da Justiça

Da Redação com Agência Senado

 

A CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas no Senado Federal aprovou na quarta-feira (9) requerimento para ouvir, em Portugal, o empresário foragido da Justiça brasileira William Rogatto e coletar provas, após o empresário ter confessado, em depoimento realizado por videoconferência, que manipulava jogos de futebol no Brasil, para lucrar com o rebaixamento de times. Rogatto admitiu ter faturado cerca de R$ 300 milhões.

Foi aprovado requerimento para que os senadores Jorge Kajuru (PSB-GO), presidente da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, Romário (PL-RJ) que é o relator, e Eduardo Girão (Novo-CE), vice-presidente do colegiado, façam a viagem a Portugal para ouvir, em sessão reservada, o investigado.

O empresário William Rogatto, que prestou depoimento na terça-feira (8) à CPI, quer mostrar provas aos senadores em Portugal, onde vive, por temer por sua segurança. Ele disse que começou a operar na ilegalidade, se aproveitando das condições precárias de clubes e atletas de divisões inferiores.

O empresário declarou-se réu confesso e disse que já rebaixou 42 times de futebol, tendo atuado nas federações de futebol de todos os estados brasileiros, no Distrito Federal e em nove países, como a Colômbia. Ele afirmou ainda que “o esquema de manipulação dos jogos só perde para política e o tráfico de drogas, em termo de valores”.

Investigado na Operação Fim de Jogo, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), e na Operação Jogada Ensaiada, conduzida pela Polícia Federal, Rogattto afirmou que o esquema de manipulação dos jogos existe há mais de 40 anos e que a “hipocrisia maior do mundo está em ter um clube de futebol hoje e ser patrocinado por uma casa de aposta”.

“O sistema é muito além disso, os grandes não vão cair nunca. Estamos falando de dentro da CBF, de dentro das federações, tenho provas e vídeos. Isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 40 anos, eu fiz parte do sistema. Se eu tiver que pagar, vou voltar para o Brasil e pagar. Eu sou só apenas uma ferramenta, o mundo do futebol é muito mais do que a gente pensa. Não vai dar em nada, a gente vai passar por isso, nunca vai acabar, a maior máfia está dentro da federação” disse aos senadores.

Segundo ele, o fato de uma casa de aposta patrocinar um clube “já abre um gatilho para que tudo aconteça”.

“Quando uma bet patrocina o seu clube, automaticamente o jogador se transforma em aposta, ele não recebe um salário digno e a bet vem e dá um suporte. Já operei nos 27 estados e no Distrito Federal, onde bati de frente com um cara muito forte. A gente vai na luta de poder. Infelizmente, eu perdi e fiquei exposto. Hoje, no futebol do Candangão, tem um cara que é poderoso e tem três clubes. Isso já é manipulação, já começou errado. O sistema é muito além do que a gente está fazendo aqui. Apreenderam coisas minhas, me pegaram em 2020, o sistema pode acabar comigo, mas não vai acabar” afirmou.

Romário sugeriu a Rogatto a realização de uma delação premiada. O empresário, porém, disse que esse instituto, embora “interessante”, não lhe garante a devida proteção, dadas as ameaças que vem recebendo de muitas pessoas envolvidas no esquema de manipulação, que inclui árbitros, presidentes de clubes e federações.

Rogatto disse ainda aos senadores que atua em nove países, em virtude das “brechas do sistema”.  “Eu tenho nove países diferentes em apostas, eu pago caro para o atleta e também gosto de ganhar. Hoje eu uso nove países diferentes. Na semana passada eu fiz dois jogos na Colômbia, na primeira divisão. O sistema está fazendo que eu não pare. Querendo ou não, a gente tem uma vida cara, sabe como é, viver na Europa. Eu preciso fazer jogos, sou réu confesso, não consigo parar porque o sistema está me dando brechas”.

Depoimentos

A CPI também aprovou agora as convocações do ex-jogador de futebol Matheus Gomes e do jogador Fernando Neto.

Foram aprovados, ainda, convites para depoimento do economista Eduardo Moreira; do jornalista esportivo Juca Kfouri; do influenciador digital Jon Vlogs; do presidente da Associação em Defesa da Integridade, Direitos e Deveres nos Jogos e Apostas, Carlos Prado; e do presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Daniel Vasconcelos.

Também a influenciadora Deolane Bezerra e o jogador Lucas Paquetá estão oficialmente convocados para depor no dia 29 de outubro. Diferentemente do convite, no qual o comparecimento é opcional, a convocação obriga o comparecimento para depor.

“Eu acho um absurdo, eu acho abominável o jogador Paquetá ainda estar na seleção brasileira, sendo convocado, jogando (vai jogar amanhã, vai jogar na semana que vem), sendo que o nome dele está sendo investigado totalmente. Os indícios são fortes. Ouvimos até, ontem aqui, o próprio William [Rogatto], que deixou claro que o Paquetá realmente envolveu a família dele, não é isso? Agora vem mais uma informação de outro jogador ligado a ele” afirmou nesta quarta-feira Kajuru.

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