Da Redação
Com Lusa
Docentes da Universidade da Beira Interior defenderam que a língua portuguesa assume diferenças “saudáveis”, entre os vários países lusófonos, mas alertaram para a necessidade de evitar que essas disparidades signifiquem “muros” ou “discriminação”.
As posições foram assumidas durante a apresentação, na Covilhã, do livro “Portugal/Brasil/PALOP – Relações Culturais”, que reúne súmulas de oito ensaístas de Portugal, Brasil, Angola e Cabo Verde que participaram num congresso internacional realizado em 2017.
“O interesse do livro é que mostrando a existência e a importância da lusofonia, a unidade que existe em torno daqueles povos e culturas que se exprimem em língua portuguesa, mostra também as diferenças que existem e aquilo que ainda tem que ser trabalhado”, explicou José Carlos Venâncio, catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Beira Interior (UBI).
O responsável realçou que as diferenças na lusofonia “são saudáveis” desde que não se traduzam em discriminação.
“O que temos que evitar é que essas diferenças venham a gerar discriminação ou desconhecimento do outro. Isso é que é negativo”, frisou.
O livro reúne um conjunto de súmulas de oito ensaístas de Portugal, Brasil, Cabo Verde e Angola que estiveram presentes, em 2017, no Congresso Internacional Portugal Brasil PALOP – Relações Culturais.
“Foram abordadas [no congresso] áreas diversas, como a literatura portuguesa [Fernando Pessoa), a literatura brasileira e a nível das artes pictóricas, podemos conhecer melhor o que se passa no panorama angolano. A nível musical, podemos conhecer as origens da morna [gênero musical de Cabo Verde]”, explicou à Lusa Cristina Vieira, diretora do Departamento de Letras da UBI e uma das organizadoras do livro.
A docente adiantou que o conjunto de oito ensaístas presentes no livro abordam as áreas da literatura, artes plásticas, música e cinema.
“Aquilo que há de comum é a língua portuguesa. E o que pretendemos demonstrar é que em língua portuguesa podemos ser tão diversos. A diferença é acentuada e deve ser valorizada”, sublinhou.
Cristina Vieira alertou para a importância de se conhecerem essas discrepâncias e, caso isso não seja feito, “essas diferenças podem criar muros”.
“Enquanto que há alguns que querem estabelecer muros, nós queremos criar pontes e essas pontes só se estabelecem quando se fazem colóquios que depois são transpostos para livro para que todos tenham acesso aos trabalhos feitos aquando do congresso internacional”, sustentou.
Defendeu ainda que a chamada periferia da língua portuguesa, na realidade, é uma pseudo-periferia.
“Considerar a língua portuguesa periférica é uma questão assumida se assim o quisermos. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa existe se valorizarmos a língua portuguesa como língua de trabalho, de investigação, de cultura e união entre povos”, concluiu.