>> "Desembarque da Princesa Leopoldina”, J.B.Debret, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
“Príncipe Regente dom João sobre a Revolução em Pernambuco”
“Como é que meus súditos se revoltam! Não me consta que tenha ofendido a qualquer um deles: que desejam eles?”
A 20 de Março de 1816, após um longo período de demência, a Rainha dona Maria I falece tendo sido enterrada no Convento de Nossa Senhora da Ajuda. Embora já fosse considerado Rei, só então o Príncipe Regente assumiu o trono de direito, com o título de dom João VI tendo a sua “Aclamação” (o reconhecimento formal da ascensão ao trono) ocorrida a 6 de fevereiro de 1818.
Para a Família Real, o ano seguinte à morte de dona Maria I seria marcado por alguns acontecimentos de grande importância, dentre eles, o casamento de dom Pedro e a Revolução de Pernambuco.
Por um tratado, celebrado em Viena a 29 de Novembro de 1816 entre dom João e o Imperador Francisco I da Áustria, ficou acertado o casamento do Príncipe Real- título que dom Pedro passara a usar desde a morte de dona Maria I- com a arquiduquesa da Áustria, dona Maria Leopoldina Josefa Carolina. O casamento realizou-se na Áustria, a 13 de maio de 1817, por procuração, tendo a arquiduquesa chegado ao Brasil a 5 de novembro desse mesmo ano acompanhada de suntuosa comitiva, formada por damas de honra, criados, artistas médicos e alguns naturalistas. A frota da arquiduquesa, que teve a sua bagagem aumentada à conta de inúmeras gaiolas com papagaios e araras adquiridos na Ilha da Madeira, veio escoltada, desde Florença, pela esquadra portuguesa.
O Príncipe foi receber a noiva a bordo. Uma galeota os conduziu ao cais e dali se organizou o cortejo em direção à Capela Real, com pompa e suntuosidade até então desconhecida nesta parte do mundo.
No ano de 1817, Pernambuco, era uma das mais adiantadas províncias do Brasil onde existia uma tradicional rivalidade entre os “reinóis” e os nativos, sentimento alimentado desde a expulsão dos holandeses em 1654. Os ânimos se exaltaram quando surgiram os novos impostos que serviriam apenas para manter as extravagâncias da Corte. Com algum campo propício para a propagação de suas idéias, Domingos José Martins, começou a realizar reuniões onde pregava a revolução, tornando-se assim, líder do movimento e envia diversos emissários às províncias vizinhas em busca de apoio. A 6 de março foi proclamada a “República de Pernambuco” extinta 75 dias depois graças a intervenção de uma força militar esmagadora enviada por dom João que capturou e executou os rebeldes. Sufocado o movimento, permaneceram as sementes da ânsia de liberdade, tão bem lançadas, que apenas cinco anos depois surgiria a Independência.
Em 6 de fevereiro de 1818, quase dois anos depois da morte de dona Maria I, a cidade do Rio de Janeiro preparou-se para a “Aclamação”. Até então, várias desculpas tinham sido dadas para o adiamento, dentre elas, a necessidade do clero declarar que a rainha dona Maria I tinha deixado oficialmente o Purgatório. Mas, segundo alguns historiadores, o golpe em Pernambuco e o clima por ele gerado foram as razões principais para tais atrasos. Para dom João o evento era uma afirmação importante do seu compromisso com o Brasil, uma resposta aos boatos sobre o regresso da Corte para Portugal.
O Rei não queria voltar. Gostava do Rio de Janeiro, das plantas do Jardim Botânico, das casas que iam surgindo, da cidade que crescera de 60 mil habitantes em 1808 para 150 mil em 1817. Gostava das vidraças das casas novas e proibira as grades feias de madeira que antes fechavam as janelas. Vira surgir edifícios de três andares, limpos e caiados. As ruas haviam se tornado mais largas, calçadas iluminadas com os lampiões.
Ali construíra o seu Império, ali era forte e poderoso, ali era o seu lugar e a sua vida. Contudo, o povo português alimentava um crescente ressentimento pela prolongada ausência da Corte. Em julho de 1817, quatro meses após o movimento republicano de Pernambuco, uma conjuração eclodiu em Lisboa chefiada pelo Tenente –General Gomes Freire de Andrada com o objetivo de derrubar a regência. Os revolucionários foram presos e enforcados mas a 24 de agosto de 1820, na cidade do Porto, uma nova revolução, a Constitucionalista, saiu vitoriosa.
A notícia chegou ao Rio de Janeiro a 17 de fevereiro de 1821. Dom João com a velha tática de protelar as soluções, não respondia às exigências vindas de Lisboa limitando-se a anunciar a ida do Príncipe Regente, dom Pedro, para Portugal. Os portugueses do Rio tomaram a defesa dos seus compatriotas. Aos brasileiros agradava a idéia de um regime constitucional que cerceasse os poderes do Rei. Outros, ainda, viam a oportunidade de desencadear um movimento republicano.
Quase ninguém se colocou na defesa de dom João como soberano absoluto. Muitos brasileiros viam com bons olhos a sua ida para Lisboa, pois isso facilitaria a obtenção de uma independência total, com a separação dos vínculos que ainda uniam os dois países. Mas dom João nada decide. Continua hesitante, não sabe o que fazer.
A 26 de fevereiro de 1821, as tropas portuguesas dos quartéis do Rio de Janeiro se amotinam. Intimam o Rei a jurar a Constituição que ia ser redigida em Lisboa e a regressar imediatamente para Portugal.
O Rei cede. Jura a Constituição inexistente e a 7 de Março dá instruções para eleição dos deputados brasileiros à Constituinte de Lisboa. No entanto, o Rio de Janeiro se agita. Muitos percebem que a volta do Rei pode significar uma tentativa de retirar do Brasil a autonomia que havia obtido.
Guarnições portuguesas e o povo do Rio de Janeiro trocam insultos e provocações e o mesmo acontece em outros lugares do país. A 21 de abril as tropas portuguesas investem contra o povo reunido na Praça do Comércio. Há mortos e feridos. O choque parece iminente, só o Rei pode evitar a guerra civil.
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