Espanha: Equipe portuguesa encontra “cenário devastador, bem pior do que estava à espera”

A Comunidade Valenciana foi a mais afetada pelo temporal, na Espanha. Crédito © 2024 LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

A equipe da Associação Portuguesa de Busca e Salvamento que chegou na sexta-feira à noite a Valência, Espanha, para ajudar nas operações de resgate disse à Lusa que encontrou um “cenário devastador, bem pior do que estava à espera”.

Em declarações por telefone, o comandante Pedro Batista adiantou que a equipa, composta por dez operacionais, três cães de busca e salvamento e três viatura equipadas com material pré-hospitalar e para abertura de acessos, foi para Valência em resposta a um pedido de ajuda feito pelos bombeiros valencianos da Unidade de Resgate em Emergências e Catástrofes (UREC) e da Embaixada espanhola.

Segundo o responsável, apesar de terem chegado na sexta-feira à noite, só começaram a trabalhar pela manhã por causa da falta de condições de segurança, sobretudo pelas “pilhagens e roubos que têm existido”.

“ [Encontrámos] um cenário devastador, bem pior do que o que estávamos à espera, com um povo bastante desesperado e a necessitar de ajuda, sem dúvida nenhuma”, disse Pedro Batista.

O comandante operacional explicou que é “bastante difícil” progredir no terreno, dada a quantidade de lama.

“Nós muitas vezes colocamos os pés e ficamos com lama até aos olhos. Ficamos completamente atolados sem conseguir andar. Muitas vezes precisamos de ajuda até para sair daquele local, o que também dificulta-nos a progressão no terreno”, relatou.

Acrescentou que há zonas onde não conseguem sequer colocar os cães de busca e salvamento porque a lama tem mais de um metro de altura e o animal “fica logo atolado”.

O comandante adiantou que até agora encontraram duas vítimas, graças aos cães de busca de salvamento, estando agora a “visualizar outras zonas onde poderão existir vitimas para fazer busca, quer apeada, quer cinotécnica”.

As duas vítimas encontradas, “em princípio, serão cadáveres” e não foi possível ainda resgatá-las por estarem debaixo de um contentor.

“É necessário maquinaria pesada, o que aqui está difícil de arranjar. O local ficou sinalizado pela ‘Guardia Civil’ e mal tenham maquinaria para proceder à remoção do contentor irão ser resgatadas”, explicou Pedro Batista.

Adiantou que as operações estão a ser dirigidas pelo centro de emergência local, com os bombeiros e a Proteção Civil, que definem os locais para onde as várias equipas, incluindo a portuguesa, se devem dirigir.

“Logo de manhã cedo é feito um ponto de situação e distribuídas as equipas pelos cenários, digamos assim, com cães, e abrir acesso caso seja necessário. Também estamos em prevenção, caso seja necessária a ajuda pré-hospitalar”, explicou.

Acrescentou que a equipa tem “uma viatura só para se deslocar onde for necessário”, havendo também um desfibrilhador automático externo, podendo, por isso, prestar os primeiros socorros, caso seja necessário.

Pedro Batista adiantou que a missão da equipa portuguesa é de três dias, mas afirmou que todos estão disponíveis para ficar por mais tempo, caso venha a ser necessário, o que, para já, ainda não sabe.

217 mortos

O número de mortos nas cheias em Espanha subiu para 217, segundo os balanços mais recentes das autoridades divulgados hoje, que são ainda provisórios.

O temporal e as inundações de terça-feira no leste de Espanha atingiram sobretudo a região de Valência, onde estão confirmados 213 mortos, disse hoje o ministro de Política Territorial, Ángel Victor Torres.

Na região vizinha de Castela La Mancha, as autoridades regionais confirmaram três mortos e há mais uma vítima mortal na Andaluzia, no sul de Espanha, segundo o governo autonómico desta região.

Equipas de resgate continuam no terreno e as autoridades reconhecem haver ainda dezenas de desaparecidos, sobretudo, na região de Valência.

O leste de Espanha foi atingido na terça-feira por um temporal que causou, provavelmente, as maiores inundações da Europa neste século, disse no sábado o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que reconheceu haver uma “situação trágica” na região de Valência e anunciou o envio de mais 5.000 militares para o terreno e de mais 5.000 elementos das forças de segurança.

Com este reforço, há já mais de 7.000 militares nas zonas afetadas pelas cheias e 10.000 elementos da Polícia Nacional e da Guarda Civil, no maior dispositivo de forças do Estado jamais mobilizado em Espanha em tempos de paz.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, fez dia 02 uma declaração a partir da sede do Governo de Espanha, em Madrid, referiu que há ainda dezenas de pessoas que continuam a procurar familiares e amigos desaparecidos, sem concretizar um número.

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