Mundo Lusíada
Organizada e realizada pela Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, a 23ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto já começou, e segue até o próximo domingo (11/08), com extensa programação.
A Feira, que consagrou-se como um dos maiores eventos culturais do país e tornou-se internacional em 2020, recebeu a escritora portuguesa Isabel Rio Novo no último sábado. A cada ano, a programação reúne autores, artistas, intelectuais, educadores, estudantes e participantes de diversas localidades.
No auditório da Biblioteca Sinhá Junqueira, Isabel Rio Novo, convidada do Salão de Ideias Internacional, falou sobre seu processo criativo com a literatura e fez o lançamento de “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte: biografia de Luís Vaz de Camões”, seu novo livro.
Durante cinco anos, Isabel se dedicou a pesquisas sobre a vida de Camões, incluindo visitas a diversos locais onde o poeta português esteve e/ou viveu, e que influenciaram sua escrita. “É impressionante como uma pessoa que teve grandes aflições, grandes sofrimentos e grandes dificuldades, como Camões teve, ter conseguido escrever, no século 16, uma obra como “Os Lusíadas”, provavelmente, a obra de uma vida. Certamente, ele poderia ter ido muito mais longe se tivesse tido um acompanhamento direcionado, como Shakespeare teve”, enfatizou Isabel, que aceitou o pedido do público e declamou um soneto de Camões.
No ano do 500º aniversário de nascimento do poeta português, a romancista lançou a biografia em Portugal no mês de junho e trouxe para a FIL a primeira apresentação da obra no Brasil.
Envelhecer
Em sua já tradicional e aguardada participação na FIL – ele vem desde a primeira edição, realizada em 2000 -, o escritor Ignácio de Loyola Brandão esteve na Biblioteca Sinhá Junqueira para falar sobre um tema inevitável aos 88 anos de vida, mesmo tendo se tornado um “imortal” da Academia Brasileira de Letras: o envelhecimento. “Me perguntaram qual o segredo para se chegar à velhice. Para mim, é viver e fazer aquilo que gosto, que é escrever. Não sei fazer outra coisa. Pode ser que um dia eu nunca mais escreva, mas vou sentir muito. Hoje sei que sempre tem alguém, em algum lugar, de dia ou de noite, que encontra um texto meu, e isso me deixa menos solitário”, afirmou.
O escritor antecipou ao público da FIL que está iniciando a escrita de um romance sobre o envelhecimento, mas que, desta vez, o processo tem se mostrado diferente. “Eu sempre comecei meus romances com uma ideia clara do personagem principal, do início e do final da história. Mas agora, venho construindo a história. Tem horas que travo, mas sei que vou destravar. Não quero um livro clichê, como aquelas plaquinhas do velhinho com uma bengala nas vagas dos estacionamentos”, disse com seu bom humor característico.
Sessão Homenageado
O autor local homenageado desta 23ª FIL, Perce Polegatto, falou sobre “A escalada impiedosa da literatura”, durante encontro no auditório Meira Junior. O escritor lembrou como as tragédias humanas inspiraram obras memoráveis. “As coisas ruins da humanidade geraram as melhores obras literárias. O suicídio aparece em ‘Romeu e Julieta’, em ‘Madame Bovary’, ‘Crime e Castigo’, de Dostoiévski. As guerras inspiraram ‘Ilíada’, de Homero. E o próprio ‘Os Lusíadas’ é um livro sobre guerras. A corrupção aparece em ‘Dom Quixote’, quando Miguel de Cervantes usou sua vivência como trabalhador em um estoque de grãos onde, sem fiscalização, era fácil desviar o produto e a verba pública. Ele foi preso por isso e escreveu boa parte do livro na cadeia”, exemplificou Perce.
Abertura
Com repertório que homenageou o Brasil, Portugal e Itália, o coral da Unaerp – regido por Cristina Modé -, recepcionou um público de cerca de 900 pessoas no Theatro Pedro II na noite de 1/8, para a abertura oficial. A solenidade foi iniciada por Dulce Neves, presidente da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto – entidade responsável pela organização e realização do evento -, com leitura de trechos do poema “A Poesia”, do brasileiro Ferreira Gullar; e do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, do português Luís de Camões, ambos nomes em destaque nessa edição.
O tema central da feira – “Cotidianos Poéticos: do épico de Camões às batalhas de rua” – foi apresentado por meio de roteiro artístico conduzido pelo grupo teatral Divino Ato que, com ludicidade e poesia, mesclou pontos da história que une Brasil e Portugal, referências às obras da filósofa e escritora Sueli Carneiro e do poeta Carlos de Assumpção.
Também presente, o embaixador português Luís Faro Ramos agradeceu o destaque dado pela feira à Camões, e o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jorge Lima, patrono da FIL, ressaltou o caráter fundamental da literatura para o desenvolvimento humano e do país, destacando a importância de uma cidade do interior promover eventos da magnitude da feira de Ribeirão Preto.
O evento tem Apoio Institucional da Fundação Dom Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, Consulado Geral de Portugal, Camões Instituto da Cooperação e da Língua Portugal, CUFA – Central Única das Favelas, ONG Arco Íris, Coletivo Abayomi, Diretoria de Ensino – Região de Ribeirão Preto, ETEC José Martimiano da Silva, Fundação Educandário, SESI, SENAC, Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Unaerp, IE – Instituto de Estudos Avançados Da Universidade de São Paulo, Adevirp – Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto e Região, Ann Sullivan, Associação dos Surdos de Ribeirão Preto e outros.
O embaixador de Portugal e a diretora do Instituto Camões no Brasil iniciaram no dia 1 de agosto uma visita de trabalho a Ribeirão Preto. Ao final da tarde terá lugar a abertura da 23ª edição da Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, este ano dedicada aos 500 anos do pic.twitter.com/Bl6hpApfxw
— Embaixada de Portugal em Brasília (@EmbaixadaEm) August 1, 2024