Da Redação
O Ministro português da Educação, João Costa, destacou a forma como as crianças ucranianas estão a ser recebidas nas escolas de Portugal, à chegada ao Conselho da União Europeia da Educação, Juventude, Cultura e Desporto (EJCD), no Luxemburgo.
A reunião foi dominada pela guerra na Ucrânia, tendo o Ministro afirmado que esta «é uma excelente oportunidade para uma reflexão conjunta sobre a forma como os sistemas educativos respondem a crises».
“Queremos que as escolas sejam laboratórios de democracia, oficinas de paz para que todos os alunos possam crescer num ambiente saudável e num ambiente que os protege», sublinhou João Costa.
O ministro explicou que “em Portugal, estamos a receber crianças ucranianas integrando-as nas nossas escolas, apostando sobretudo no desenvolvimento de competências linguísticas e do seu bem-estar social e emocional”.
Escola inclusiva e aberta para todos
O momento vivido atualmente na Europa coloca novos desafios, nomeadamente à Educação, como referiu o Ministro João Costa, que espera que se evidencie o que de melhor pode ser feito em termos de inclusão.
“Vivemos a pandemia, não esperávamos esta guerra terrível, bruta e injustificada na Ucrânia. Isto põe os nossos sistemas educativos à prova, mas também nos leva para a tomada de consciência da verdadeira missão dos sistemas educativos: promover inclusão, a mobilidade social, o acolhimento e a integração”, disse o Ministro.
Segundo ele, é o momento para «mobilizarmos os nossos melhores recursos humanos e financeiros para estes desígnios, conquistando também a capacidade de monitorizar a eficácia e a eficiência dos recursos alocados.»
Guia para escolas
O ministro da Educação disse neste dia 06, em Leiria, que foram divulgados às escolas “novos guiões de trabalho” para a integração das crianças refugiadas, entre as quais 2.115 já em estabelecimentos de ensino portugueses.
“Hoje mesmo publicamos e divulgamos às escolas novos guiões de trabalho para a integração das crianças refugiadas que estão a chegar, quer na educação pré-escolar quer a partir do 1.º ciclo, com sugestões práticas de como fazer. Orientações que são sempre indicativas e não normativas”, afirmou à Lusa o ministro João Costa, no Agrupamento de Escolas de Marrazes, em Leiria.
Segundo explicou, algumas das indicações presentes nos documentos “passam por utilizar os alunos ucranianos que já estão nas escolas a servir de mediadores e de mentores dos alunos que chegam”, assim como o uso de “materiais didáticos que o próprio Governo ucraniano tem vindo a disponibilizar para serem utilizados nas salas de aulas”.
“Passa por tornar os alunos portugueses conscientes de como é que se pronunciam as palavras [como os nomes dos ucranianos], fazer pequenos jogos de sensibilização e de consciência da língua”, com a preocupação de dar “uma grande atenção ao bem-estar psicológico”.
João Costa salientou que “estas crianças fogem de uma guerra, estão num contexto de trauma, são bombardeadas todos os dias com imagens do seu país a ser destruído, veem o seu bairro a ser atacado e deixaram os seus pais, os seus avós para trás”, pelo que a “escola tem de ser um espaço de felicidade para elas, em que a educação acontece”.
“Temos 2.115 crianças já integradas, um número que tem vindo a crescer. Aqui no concelho de Leiria são 96 crianças. Fizemos questão que a nossa primeira saída fosse numa escola TEIP [Territórios Educativos de Intervenção Prioritária], que tem mais de 30 nacionalidades. Alargamos o programa TEIP recentemente para as escolas que têm uma percentagem elevada de alunos migrantes, exatamente para que estas escolas tenham recursos adicionais para gerir o multilinguismo e o ensino de português língua não materna”, acrescentou.
O ministro socialista participou numa reunião com os diretores das escolas do concelho de Leiria, para “colher as práticas que já estão a ser implementadas” e que serão “divulgadas a todas as escolas”.
“A diretora de uma escola referia como usam as ferramentas muito fáceis de tradução automática, de um aluno que fala ucraniano e tem a tradução automática para português e vice-versa, o que também permite que não haja os ucranianos de um lado e os portugueses do outro, mas esta integração progressiva”, reforçou.
João Costa considerou ainda que “os alunos têm tido um papel fundamental enquanto mentores ou padrinhos para estes alunos que chegam e são assim acompanhados desde a primeira hora por alunos portugueses, que são uma espécie de responsáveis por eles neste trabalho de integração”.
Afirmando que os “ecos são muito positivos”, o ministro prometeu “acompanhar diariamente” a integração para garantir também “uma muito saudável convivência entre alunos russos e ucranianos”.
“Os alunos russos não são responsáveis pelo que o Presidente da Rússia faz. Sinalizaram-nos que poderia haver um ou outro caso de ‘bullying’ sobre alunos russos, o que já não está a acontecer. Isso é muito bom. O que queremos é que as escolas sejam lugares onde o conflito não existe”, declarou à Lusa.
[Atualizado 06/04/2022]