Por Vanessa Sene
Há 29 anos à frente do Rancho Folclórico Pedro Homem de Mello, Justiniano Macedo é um folclorista defensor de uma representação fiel ao folclore português.
Numa entrevista sobre o tema, Justiniano conversou com o Mundo Lusíada no último evento de 2017, durante a comemoração de mais um ano de fundação do Rancho, no passado dia 17. Uma história que tem tido a continuidade dos jovens. “O folclore é isso, a continuação do que era antigamente”.
Em novembro passado, Justiniano esteve em Portugal e claro que aproveitou para encontrar folcloristas por lá, como amigos do Rancho da Reguenga e Grupo da Areosa – quando recebeu inclusive uma homenagem -, além de poder estar com outros ranchos de Viana do Castelo, Fafe, e na famosa Quinta de Santoinho acompanhado do dono, seu Cunha. “Quando vou nessas festas está o Justiniano e o Rancho Pedro Homem de Mello” conta ele que sempre é anunciado pela presença em representação ao grupo do Brasil. “A Quinta de Santoinho consegue reunir numa noite 2 mil pessoas, é muito organizado, dá gosto. E nunca tem convites a venda na entrada, são sempre reservados pelas agencias de turismo, porque vai muita gente da Galiza pela proximidade e do centro e norte de Portugal”.
Mas em todo lugar existem ranchos e existe o folclore português. “Existem ranchos que podem ser chamados de qualquer coisa, mas não é folclore português. Há certos detalhes que são simples, há cem anos as mulheres usavam batom? Então por que usam no rancho folclórico? Se partirmos para o que é tradição, o que é original, temos que respeitar. Não estou criticando ninguém e cada um faz o que quer no seu rancho. Acha que bater com o pé no chão vai ser mais aplaudido do que aquele que apenas dança, continue fazendo. Há certas músicas, por exemplo uma chula picada, acham que tem que bater o pé no chão e não é. A palavra ‘picado’ é corrido, uma música que é dançada mais rápida, mas as pessoas não entendem assim”.
A recolha de informação sobre o folclore dá trabalho, segundo Justiniano. É preciso pesquisar, estudar, requer tempo. “Mas tem como se fazer, há diversos livros e hoje é muito mais fácil do que há 30 anos, com a internet conseguimos pesquisar muitas coisas que existiam”.
Por isso, em sua opinião, o folclore no Brasil não está mal. Para Justiniano, São Paulo mesmo, e no Rio também, tem ranchos que “eu gosto de assistir” relata. “Não temos preconceito, temos um conceito de ver as coisas por outro ângulo. Há certas coisas que poderiam ser melhoradas, o que é bom sempre pode ser melhorado”.
E o PHM também tem ainda uma longa estrada, apesar de estar no caminho, defende o presidente. “Há limitações para nós hoje, por exemplo há certos tecidos que não se encontram mais como antigamente com lãs, linhos e algodão. Então temos que nos adaptar, as vezes compramos coisas usadas muito caras. Não podemos ir numa loja comprar um traje, temos que pesquisar antes. Um traje que está numa vitrine não é um traje. Muitas pessoas falam que comprou em Viana do Castelo mas não tem nada a ver, com cores que não existiam na época”.
Esse mercado que existe em Portugal é caminho de muitos folcloristas do Brasil, mas para Justiniano é preciso perguntar sobre o traje, sobre a freguesia e a região que representa. “As pessoas viviam comunitariamente, eram micro comunidades, o que se usava desse lado da serra não se usava do outro lado da serra”.
Em Portugal, existem pessoas que frequentam casas da terceira idade e levam violas e concertinas, para animar as pessoas e também fazer recolhas de canções antigas. “Tenho amigos de ranchos que estão fazendo isso, um anota, outro toca, porque muitas pessoas tocavam aquilo só ali na minha terra por exemplo” diz ele sobre sua aldeia de Bastelo, em Fafe.
2017
Segundo ele, um ano de crise no país mas bom para o grupo folclórico. “Foi proveitoso, o Rancho se estabilizou bem, aprimorou-se mais em repertório, conhecimento das tradições, em procurar coisas mais de raiz realmente, houve uma valorização muito grande” diz o presidente do grupo, que na semana anterior tinha sido entrevistado pela Rádio Folclore de Portugal, com a sua filha e ensaiadora Vanessa Macedo, sobre o trabalho do rancho.
“Eles acompanham tudo o que vemos fazendo e valorizam muito isso. Fomos no Rio há uns 15 dias, e o Rancho participou de dois festivais, na Casa dos Açores, e na Casa dos Camponeses de Portugal onde só participam ranchos federados, e ficou todo mundo impressionado com o Rancho Pedro Homem de Mello, do que viram há dois anos e vendo novamente. Realmente as pessoas ficam impressionadas com o trabalho que se faz, tanto em roupas como recolha de músicas, tem sido muito bom”.
E o futuro do PHM, Justiniano visualiza mais 29 anos de história “comigo aqui, pelo menos, a bater palmas” brincou. A juventude é disposta a fazer continuar essa história. “A exemplo de outros, o Rancho PHM recebe gente de fora de São Paulo para dançar, porque eles acreditam nesse projeto, eles sentem-se orgulhosos de participar desse projeto”.
É a juventude atrás das tradições, que recebe moças “despidas” das modas atuais, sem maquiagem ou esmalte nas unhas, porque defendem o mesmo projeto. “Em Portugal dizem que os folcloristas têm um bichinho dentro deles, chamado folclore, e quando entra não sai mais”.
Citou como exemplo o amigo Ernesto Lemos da Casa de Portugal de SP, que já é uma presença esperada à frente do Grupo Folclórico da casa. “São os ranchos mais antigos que as pessoas estão lá há muitos anos e não conseguem sair”. Ele também estará onde estiver o folclore. E as novas eleições para presidente do grupo estará aberta para todos que participam do rancho, que ao todo são 65 componentes, entre os que trabalham, os que dançam e os que tocam.
Hoje o grupo é ensaiado pela filha Vanessa, de forma “competente” defendeu. “Ela estuda bastante, faz as coisas com o pé no chão, é bem criteriosa” diz sobre a filha que é engenheira e professora de Química. “É um orgulho essa minha filha, formou-se na FEI e teve diploma de melhor aluna do curso, é um orgulho, não é só pelo folclore. Todas são boas folcloristas, além dela, a irmã, a mãe e todas que se dedicam merecem um troféu” disse homenageando seus componentes que trabalham com afinco e dedicação.
Justiniano finalizou a entrevista deixando uma ideia a todos os folcloristas. “Os componentes deveriam sempre questionar os seus ensaiadores e diretores, porque fazem isso, vestem aquilo, eles têm obrigação de saber. Na medida que o fazem, o folclore pode melhorar muito” finalizou.
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