Entre muitas brasileiras, imigrantes satisfeitas com serviços de apoio à maternidade em Portugal

Da Redação

Um projeto do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou o acesso das mulheres grávidas (portuguesas e imigrantes) aos serviços de saúde em Portugal e a sua satisfação quanto aos cuidados prestados na gravidez, durante e após o parto, concluiu, até ao momento, que a maioria das participantes no estudo está satisfeita com os serviços de apoio à maternidade de que usufruem no país.

O projeto chama-se “Bambino – Saúde Perinatal em Imigrantes: Barreiras, Incentivos e Resultados” e pretende “compreender de que forma os serviços de saúde perinatais são utilizados pelas mulheres imigrantes, em comparação com as mulheres portuguesas nativas”, refere o coordenador do projeto, Henrique Barros.

Alguns dos resultados do estudo, que iniciou em março de 2017, mostram que, até ao momento, foram recrutadas 2.000 mulheres, de 30 centros hospitalares com maternidade (todos os que se localizam em Portugal Continental). Destas, 957 são imigrantes, vindas de 62 países diferentes. A maioria (42%) destas mulheres estrangeiras é proveniente dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), 18% do Brasil e 14% da Ásia Central e Leste Europeu.

Através de uma entrevista a 635 participantes no projeto (das quais 333 são imigrantes), percebeu-se que, de uma forma geral, o acesso aos serviços de saúde parece ser assegurado a todas as mulheres, independentemente de estas serem imigrantes, e do seu tempo de permanência em Portugal.

Mais de 90% das inquiridas indicou “sentir-se acolhida pelos profissionais de saúde”, “sentir que os profissionais foram prestáveis” e “sentir-se satisfeita com os cuidados de saúde”. Regra geral, as imigrantes foram aquelas que responderam mais positivamente a estas questões.

Quando questionadas sobre se as suas preocupações foram levadas a sério durante a gravidez, trabalho de parto/parto e pós-parto, verificou-se que grande parte referiu que sim. Contudo, neste tópico, as mulheres imigrantes com menos tempo de residência em Portugal foram aquelas que responderam “sempre/às vezes” com menor frequência.

Também uma elevada percentagem de mulheres portuguesas e imigrantes mencionou ter-se mantido informada sobre o que estava a acontecer durante a gravidez, trabalho de parto/parto e pós-parto. Apenas um número reduzido de mulheres que vivem há menos de 10 anos no país indicou com menos frequência ter recebido informação e também não ter compreendido a informação dada pelos profissionais de saúde.

No que toca às principais barreiras identificadas no acesso aos serviços de saúde, constatou-se que a indisponibilidade de serviços de saúde na área de residência foi o fator mais apontado por todas as mulheres (nativas e imigrantes), sendo mais evidente naquelas que estão há menos de 10 anos em Portugal. As razões administrativas (falta de documentos, de seguro de saúde, etc.) e a falta de informação sobre o funcionamento do sistema de saúde, como a disponibilidade dos serviços e critérios de elegibilidade, foram também algumas barreiras identificadas. Contrariamente ao esperado, a língua parece não ser um obstáculo significativo para as imigrantes acederem aos serviços de saúde, pois apenas uma pequena percentagem mencionou este fator.

Os resultados do “Bambino”, que serão tratados até finais de 2018 e divulgados no início de 2019, vão ser utilizados para melhorar a eficácia dos programas de acompanhamento da população imigrante, que é considerada vulnerável, a curto e a longo prazo.

“Um estudo recentemente publicado concluiu que, entre 2006 e 2014, houve uma subida do número de nascimentos com baixo peso em Portugal, sobretudo entre as mulheres imigrantes, o que revela a importância de monitorizar o acesso aos serviços de saúde por parte destas mulheres, algo que está a ser feito no âmbito do Bambino. Para conseguirmos dados, é essencial o envolvimento destas mulheres, cujas experiências no acesso aos serviços de saúde são fundamentais para o nosso estudo”, remata.

Participam no estudo 16 investigadores do ISPUP, bem como cerca de 80 investigadores clínicos pertencentes aos Serviços de Obstetrícia dos hospitais públicos portugueses.

O projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), conta igualmente com o apoio técnico do Alto-Comissariado para as Migrações nas traduções necessárias.

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