Por Jack Soifer
A emigração traz riqueza à família atraída por desafios. Ganha o País, com remessas, poupanças e novas casas onde eles desfrutam das férias e da reforma. Sabemos muito sobre os emigrantes que foram para França, Suíça e Canadá, mas pouco sobre os que foram para a Suécia.
No início dos anos 60 houve uma grande expansão do comércio intercontinental. Isto exigiu novos navios de carga e a transição dos motores a fuel para vapor ou diesel. Os armadores europeus aumentaram o tamanho dos navios. Os estaleiros navais passaram a usar docas secas face ao novo peso.
A posição geoestratégica de Portugal trouxe investidores estrangeiros à Lisnave. Entre outros, o estaleiro Kockums, em Malmoe, Suécia. O representante sueco na Lisnave viu a qualidade de muitos dos soldadores e lembrou-se que a expansão da Kockums era travada pela falta de pessoal qualificado. Começou então a recrutar soldadores para a Suécia.
As diferenças na tecnologia eram superadas com cinco dias de qualificação na Escola Profissional que o governo sueco apoiava. Mas o estudo da língua e da cultura era pago pela Kockums no pós-laboral. O estaleiro oferecia uma habitação temporária para as famílias até arrendarem a sua própria.
O frio e as diferenças culturais eram compensados por um bom salário e adicional por horas extras. O rápido crescimento económico da Suécia naquela altura ofereceu bons salários também às mulheres. Os filhos andavam nas escolas públicas e, após as aulas, havia opções para música, desporto e outras línguas.
A IKEA facilitou aos emigrantes mobilarem, pouco a pouco, os seus lares. O sistema público de financiamento à casa própria trouxe a realização do sonho de todos, a compra da sua própria residência.
A Kockums expandiu e inovou. Com a então maior doca seca do mundo construiu petroleiros para 320 mil toneladas. Adicionou um pequeno globo na proa inferior do casco, o que reduzia a fricção e aumentava a velocidade. Construiu uma oficina para mega- secções que saiam pelo teto, que se abria. A escola profissional estava sempre a oferecer cursos, minutos após o final do turno.
Em Estocolmo já havia o Clube Luso-Sueco, com um almoço mensal aos sábados. Em Malmoe surgiu outro. Ali se falava da terrinha, dos vinhos que não chegavam à Suécia, dos planos de férias, das festas. E ainda das oportunidades de negócios em comum. Vários desses profissionais formaram pequenas oficinas de reparos,
usando a tecnologia da Kockums. As PMEs expandiram a outros setores, como o da restauração e importação.
Nos anos 80, os filhos, já com qualificação profissional na Suécia, ao deixar a casa dos pais para formar a sua família, motivaram a questão “o nosso futuro?” E muitos desses regressaram a Portugal trazendo as inovações lá praticadas para a sua terra em pleno crescimento, almejando entrar no Mercado Comum Europeu, sedenta de modernidade.
Muitos emigrantes ao regressarem com capital e tecnologia, enfrentam o problema universal de se adaptarem a burocracias para eles já ultrapassadas. Uns até influenciam algo o seu ambiente, outros ficam frustrados e desenrascam-se. Uns poucos acabam por emigrar novamente.
Mudar algumas coisas na sua terra e no seu país, é a razão de sucesso de empresas, regiões e países. Na Irlanda, o emigrante é acatado como um fator de inovação. No início dos anos 90, o país tinha um PIB per capita similar ao nosso, hoje tem 2,4 vezes mais. Graças à maior transparência, menor burocracia e uma justiça célere. A República Checa, após a queda do muro de Berlim, recebeu ex-emigrantes e modernizou a sua estrutura política, jurídica e comercial; tornou-se o país que mais atrai investidores tecnológicos na UE. E nós? O que é feito dos filhos das esforçados e simpáticos soldadores que em 1966 progrediram num país tão diferente e frio?
Por Jack Soifer
Consultor internacional em artigo para revista PORT.COM