Mundo Lusíada
Com Lusa
Os embaixadores dos países lusófonos se despediram do presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas, em 27 de outubro, oferecendo um livro com depoimentos dos chefes de Estado e de Governo dos respectivos países, um presente que Durão Barroso guardará com particular “carinho”.
Na semana em que abandona o “quartel-general” do executivo comunitário – o seu segundo mandato termina na próxima sexta-feira – José Manuel Durão Barroso almoçou com embaixadores/chefes de missão de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que no final lhe ofereceram um livro com testemunhos de chefes de Estado e de Governo sobre os 10 anos de “Um Europeu Lusófono” à frente da Comissão Europeia.
“Obrigado pela surpresa com esta publicação onde tenho depoimentos de todos os chefes de Estado, e é sem dúvida uma das coisas que vou guardar com mais atenção e com mais carinho depois destes 10 anos à frente da Comissão Europeia”, afirmou Durão Barroso.
O livro de depoimentos inclui testemunhos dos chefes de Estado de Angola, José Eduardo dos Santos, do Brasil, Dilma Rousseff, de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, de Moçambique, Armando Guebuza, de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, e de Portugal, Cavaco Silva. Também deixaram testemunhos os primeiros-ministros português, Pedro Passos Coelho, guineense, Domingos Simões Pereira, cabo-verdiano, José Maria Neves, são-tomense, Gabriel Costa, e timorense, Xanana Gusmão.
Os antigos presidentes Pedro Pires (Cabo Verde), Joaquim Chissano (Moçambique), Fradique de Menezes (São Tomé e Príncipe) e José Ramos-Horta (Timor-Leste) também contribuem com os seus depoimentos para o livro, coordenado por Sónia Neto, uma das responsáveis pelas relações da Comissão com os países de língua oficial portuguesa no gabinete de conselheiros de política europeia do presidente da Comissão.
Durão Barroso apontou que foi “com muito orgulho” que trabalhou durante estes 10 anos (2004-2014) “por uma visão lusófona também na Comissão Europeia e na União Europeia”, e indicou que, durante a reunião de trabalho, foram evocados alguns “desses objetivos e dessas realizações”, como por exemplo o programa multilateral específico para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PIR-PALOPs), a delegação em Timor-Leste, o estabelecimento de uma parceria estratégica com o Brasil, e a “atenção para que a Guiné-Bissau, mesmo durante momentos muito difíceis, não saísse do radar da atenção internacional” e tivesse apoio.
“Muito obrigado por esta ocasião em que me foi permitido dizer não ‘adeus’, mas um ‘até breve’. Tenho a certeza que durante as nossas vidas ainda nos vamos encontrar, e continuar a trabalhar por valores que são muito importantes para a Europa e para a lusofonia”, concluiu.
Falando em nome dos embaixadores, Maria de Jesus Mascarenhas, antiga chefe de missão de Cabo Verde, comentou que esta era “uma muito justa homenagem”, para “um europeu de primeira linha, mas um europeu lusófono também, e que durante toda a vida, e não só aqui na presidência (da Comissão), desempenhou um papel particularmente importante para os países de língua portuguesa, e para os PALOP em particular”.
Portas Abertas
Ao ser questionado sobre o seu futuro e, designadamente, a possibilidade de rumar à ONU, Barroso disse que ainda não tomou “decisões finais”. “Honestamente, não tenho agora ambições neste aspeto. Ainda não tomei decisões definitivas relativamente ao que vai ser a minha atividade depois da Comissão. Uma coisa que já aceitei foi dar algumas conferências e alguns cursos em universidades, incluindo aqui na Bélgica, pelo que ainda ficarei mais algum tempo em Bruxelas, mas ainda não tomei decisões finais sobre nomeações políticas ou eleições, quer no meu país, quer nas Nações Unidas”, declarou.
A única certeza, apontou, é que para já fará “uma pausa”, após 30 anos de atividade política muito intensa, durante os quais foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação (1987-1992), ministro dos Negócios Estrangeiros (1992-1995), líder da oposição como presidente do PSD (1999-2002), primeiro-ministro (2002-2004) e presidente da Comissão Europeia (2004-2014).
“Após 30 anos muito envolvido em política nacional, europeia e global, os últimos 10 anos como presidente da Comissão, penso que mereço pelo menos uma pausa”, afirmou.