Embaixada de Cabo Verde apela à “calma e serenidade” após morte na Amadora

Forças policiais acompanham os protestos dos moradores do bairro do Zambujal após um homem ter sido morto por um agente da polícia na segunda-feira, na Amadora, 22 de outubro de 2024. JOÃO RELVAS/LUSA

Da Redação com Lusa

 

A Embaixada de Cabo Verde lamentou nesta terça-feira a morte de um cidadão cabo-verdiano baleado pela PSP na Cova da Moura, na Amadora, apelando “à calma e serenidade” da comunidade do Bairro do Zambujal enquanto aguarda que a justiça funcione.

Em comunicado, a Embaixada de Cabo Verde em Portugal lamenta “profundamente” a morte de Odair Moniz, “em consequência de tiro com arma de fogo empunhada por agente da PSP”, no Bairro da Cova da Moura, concelho da Amadora, apresentando “à família enlutada e aos amigos mais chegados as suas mais sentidas condolências”.

A embaixada “aguarda com serenidade os resultados das investigações que já foram anunciadas, acreditando que elas serão conduzidas com rigor, competência e objetividade, procurando apurar verdade, sem olhar às suas consequências”, lê-se na nota.

“A justiça deve funcionar, esclarecendo cabalmente os fatos e imputando responsabilidades, se esse for o caso, pois só deste modo se reforça a confiança na justiça e nas instituições”, acrescenta.

A representação diplomática da República de Cabo Verde refere que acredita “no sistema de Justiça vigente” e promete “acompanhar muito de perto este processo, na medida do possível, e dispensando apoios aos familiares mais diretos nesse âmbito, se tal se vier a mostrar útil ou necessário”.

“Não obstante a natural consternação e choque que a morte violenta provoca, apelamos à calma e à serenidade, pois que a solução só pode ser encontrada num ambiente onde impere a aplicação criteriosa da lei e a paz social”, salienta a missão cabo-verdiana.

“A firmeza na reivindicação do que achamos justo não é incompatível com o ambiente de calma e serenidade para apuramento dos fatos e eventuais responsabilidades decorrentes”, é ainda referido na nota.

Odair Moniz, de 43 anos, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

Segundo a direção nacional da PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial na Avenida da República, na Amadora, e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa já contestaram a versão policial e exigem uma investigação “séria e isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias. De acordo com os relatos recolhidos no bairro pelo Vida Justa, o que houve foram “dois tiros num trabalhador desarmado”.

Na segunda-feira, o Ministério da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito urgente e também a PSP anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da ocorrência. O agente que baleou o homem foi entretanto constituído arguido, indicou fonte da Polícia Judiciária.

Uma centena de habitantes do Bairro do Zambujal, na Amadora, concentraram-se hoje pedindo “justiça”. Pessoas de todas as idades e das diferentes comunidades étnicas que residem no Zambujal reuniram-se no centro do bairro, bem perto do café de Odair Moniz, de 43 anos.

“Era uma pessoa bastante cordial, que dava conselhos sensatos, e não criava rebuliço no bairro”, descreveu, reconhecendo a surpresa ao saber da sua morte, o presidente da direção da associação fundada por Johnson Semedo, Carlos Simões, que relatou um ambiente de “indignação” no bairro, que, confirmou, resultou em “aglomerados de pessoas” durante a noite e em distúrbios que obrigaram à intervenção da polícia e dos bombeiros (motivada por focos de incêndio em caixotes do lixo).

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