Da Redação com Lusa
Cerca de 400 pessoas, autoridades políticas e religiosas, sociedade civil e cultural, ouviram neste dia 09 o primeiro discurso do Papa em Timor-Leste, que terminou pedindo em tétum que Deus abençoe o país.
O discurso de 18 minutos, no palácio presidencial, foi o ponto alto do primeiro dia da visita do Papa a Timor-Leste, que termina na quarta-feira.
Antes, o Papa já tinha participado numa cerimônia de boas-vindas oficiais na entrada do edifício. Francisco teve depois um encontro privado com o Presidente da República, José Ramos-Horta, de cerca de 15 minutos, ao mesmo tempo que o secretário de Estado do Vaticano se reuniu com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, e respetivas delegações.
O Papa reuniu-se depois com as autoridades juntas na sala China, decorada com fotos de heróis da resistência, pinturas e objetos tradicionais timorenses, além de uma pintura da grande muralha da China. O palácio foi construído pela China.
Antes de entrar na sala, o Papa já tinha cumprimentado 10 membros da família do Presidente.
Depois dos discursos do chefe de Estado de Timor-Leste e de Francisco seguiu-se uma troca de presentes e houve ainda uma bênção final aos funcionários e uma foto de grupo, composto por mais de mil pessoas.
Na saída do Papa foi tocada uma melodia por corneteiros de “karau dikur”, um instrumento de sopro tradicional que é feito de chifre de búfalo e que é usado para chamar ou informar a comunidade de um acontecimento importante.
O Papa Francisco recebeu um tais, um pano tradicional de Timor-Leste, um terço e uma escultura feitos de sândalo, do artista Ricardo Nheu.
E assinou também um Livro de Honra que foi especialmente concebido para comemorar a visita a Timor-Leste, com capa de tecido e madeira, representando um peixe, um dos primeiros símbolos cristãos, e uma peça de madeira com a inscrição “Unitur in Pace” (Unidos na Paz, em Latim).
Educação
O Papa Francisco exortou hoje os timorenses a prosseguirem a construção e consolidação do Estado para servirem os timorenses e a apostarem na educação dos jovens, que representam a maioria da população do país.
“Exorto-vos a prosseguirem com renovada confiança na sábia construção e consolidação das instituições” da República, para que “estejam completamente aptas a servir o povo de Timor-Leste” e para que os “cidadãos se sintam efetivamente representados”, afirmou Francisco, na primeira declaração pública em Díli.
“Que a fé que vos iluminou e susteve no passado continue a inspirar o vosso presente e o vosso futuro. ‘Que a vossa fé seja a vossa cultura’, isto é, que inspire critérios, projetos e escolhas segundo o Evangelho”, disse o Papa, referindo-se ao tema da sua visita ao país e a lembrar que agora Timor-Leste tem um “novo horizonte, com céu limpo, mas com novos desafios a enfrentar e novos problemas a resolver”.
No “meio de tantas questões atuais”, Francisco destacou o fenômeno da “emigração, que é sempre indicador de uma valorização insuficiente ou inadequada dos recursos, bem como da dificuldade de oferecer a todos um emprego que produza lucro equitativo e garanta às famílias um rendimento que corresponda às suas necessidades básicas”.
O Sumo Pontífice falou também da pobreza e da necessidade de uma “ação de longo alcance, envolvendo distintas responsabilidades e múltiplas forças civis, religiosas e sociais, para remediar e oferecer alternativas viáveis à emigração”.
“Penso naquelas que podem ser consideradas as chagas sociais, como o excessivo consumo de álcool entre jovens e a formação de bandos que, munidos dos seus conhecimentos de artes marciais, em vez de os utilizarem ao serviço dos indefesos, utilizam-nos como ocasião para mostrar o poder efémero e nocivo da violência”, afirmou.
As autoridades timorenses suspenderam desde o ano passado a prática de artes marciais, associada ao aumento da violência no país.
“Não esqueçamos também muitas crianças e adolescentes feridos na sua dignidade: todos somos chamados a agir de forma responsável para evitar qualquer tipo e garantir que as nossas crianças cresçam tranquilamente”, disse.
“Para a solução destes problemas, bem como para uma melhorada gestão dos recursos naturais do país é indispensável preparar adequadamente, com uma formação apropriada, aqueles que serão chamados para a classe dirigente do país num futuro não muito distante”, salientou o Papa.
Apesar dos problemas, Francisco pediu aos timorenses para serem confiantes e a manterem um “olhar cheio de esperança em relação ao futuro”.
O Papa destacou que 65% dos 1,3 milhões de timorenses têm menos de 30 anos e que o “primeiro campo a investir é na educação, na família e na escola”.
“Uma educação que coloque as crianças e os jovens no centro e promova a sua dignidade”, disse, sublinhando que o entusiasmo dos mais novos, juntamente com a sabedoria dos mais velhos, forma uma “combinação providencial de conhecimento”.
No discurso, aplaudido de pé pelas pessoas que assistiam à cerimônia, o Papa recordou também os “anos de calvário” dos timorenses e a forma como souberam reerguer-se, louvando o “esforço assíduo para alcançarem uma plena reconciliação” com a Indonésia, país que ocupou Timor-Leste durante 24 anos.
No dia 10 de setembro, o Papa Francisco começará o dia com uma visita ao Convento das Irmãs Alma, onde partilhará um momento com crianças com deficiência. Posteriormente, terá um encontro com bispos, sacerdotes, religiosas e seminaristas na Catedral da Imaculada Conceição, em Díli.
O ponto alto da visita será a celebração da Santa Missa Solene, presidida por Sua Santidade, que ocorrerá em Taci Tolu, às 16h30.
No último dia da visita, 11 de setembro, o Papa Francisco encontra jovens timorenses no Centro de Convenções de Díli, às 09h30, onde dirigirá uma mensagem aos jovens. A visita culminará com a cerimónia de despedida no Aeroporto Internacional Presidente Nicolau Lobato, às 10h45, antes da partida do Santo Padre para Singapura.