Mundo Lusíada
Com Lusa
O governo brasileiro espera ter concluído o processo legislativo relativo à criação do Prêmio Monteiro Lobato de Literatura para a Infância e a Juventude até junho, para lançar “imediatamente” a primeira edição, segundo o secretário especial da Cultura, em visita a Portugal.
“Esperamos que até metade do ano esteja concluído o processo legislativo, para que possamos imediatamente iniciar esse processo de escolha e das premiações, tanto na área da escrita como da ilustração”, afirmou o secretário especial de Cultura, José Henrique Pires, ao final de uma reunião com a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca.
O acordo para a criação do prêmio foi assinado pelos titulares da pasta da Cultura de Portugal e Brasil, em 05 de maio de 2017 – respetivamente Luís Filipe Castro Mendes e Roberto Freire -, durante a X Reunião dos Ministros de Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorreu na cidade brasileira de Salvador.
Em janeiro deste ano, o Presidente da República Portuguesa ratificou a resolução parlamentar que aprova o protocolo de criação do prêmio. De acordo com José Henrique Pires, há “muita expectativa em relação ao prêmio”.
“E, por isso, justifico uma certa demora brasileira em concluir o processo, porque queremos que este prêmio efetivamente se torne uma política de Estado, não de governo, que seja perene como o Prêmio Camões”, afirmou.
O secretário especial da Cultura do Brasil referiu ainda que “o Congresso Nacional, eleito no ano passado tomou posse a 18 de fevereiro e já duas comissões aprovaram a entrega desse prêmio”.
José Henrique Pires lembrou que a distinção, “homenageia um grande escritor brasileiro, que este ano completa 70 anos do seu falecimento e com base disso entra em domínio público”. “Prevemos este ano muitas publicações de Monteiro Lobato”, disse.
O governo português, referiu Graça Fonseca, “gostaria muito que 2019 pudesse ser o primeiro ano em que se anuncia o prêmio”.
O prémio Monteiro Lobato, concebido nos “mesmos moldes do Prêmio Camões”, como foi então anunciado, terá atribuição bienal, em duas categorias, autor e ilustrador, sendo aberto a autores de todos os membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O prêmio tem uma componente monetária, com o valor a ser acordado pelos governos dos dois países responsáveis pela iniciativa.
O nome do prêmio vem do escritor brasileiro José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), o criador de “O Sítio do Picapau Amarelo”, figura precursora da literatura infantil e juvenil brasileira.
“A Menina do Narizinho Arrebitado”, “História do Mundo para as Crianças”, “Emília no País da Gramática e da Aritmética”, “Geografia de Dona Benta”, “D. Quixote das Crianças” e “Histórias de tia Nastácia” são outros títulos que firmaram o nome de Monteiro Lobato Monteiro Lobato no universo da literatura infantil.
O Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, que enquadra constituição do prêmio, foi assinado em Porto Seguro, em 22 de abril de 2000.
Visita
A reunião entre o Secretário Especial da Cultura do Brasil e a ministra portuguesa da Cultura realizou-se em Lisboa no âmbito de uma visita de José Henrique Pires a Portugal, iniciada na segunda-feira.
Na reunião, explicou Graça Fonseca, os dois governantes estiveram a fazer “um ponto de situação das diversas iniciativas que unem os dois governos”, como o Prêmio Camões, o Prêmio Monteiro Lobato, o protocolo de cooperação na área do cinema e do audiovisual e a participação de técnicos portugueses na recuperação do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que perdeu grande parte do acervo num incêndio em setembro do ano passado.
O secretário da Cultura, além de tratar das relações brasileiras no bloco, terá intensa agenda para debater temas da cooperação bilateral com autoridades portuguesas, como os preparativos para o Bicentenário de Independência do Brasil, cujas atividades de celebração já começaram e ocorrem até 2022, e cooperações nas áreas do audiovisual, patrimônio, literatura e teatro.
“Será uma grande oportunidade de fortalecimento do intercâmbio de nossas ações culturais, ampliando o acesso e a visibilidade de nossas produções não só para Portugal, mas para toda esta comunidade de nove países que têm o português como língua materna”, declarou o secretário.
Patrimônio Cultural
A cooperação bilateral com Portugal visa, entre outros aspectos, trazer ao Brasil modelos de negócio que garantam a viabilidade econômica dos monumentos brasileiros. Portugal, que foi eleito o melhor destino turístico do mundo em 2017, é referência em turismo cultural.
É neste sentido que a presidente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, que também participa da deslocação, destaca que “essa missão tem uma importância ímpar porque o Brasil merece ter sua história contada da melhor forma, para que brasileiros e estrangeiros vivam melhor a experiência de visitar esses bens, que são mundiais”. Kátia Bogéa completa dizendo que “Portugal é, por excelência, ‘a fonte’ onde buscar as melhores estratégias para a promoção do Patrimônio Cultural Brasileiro”. O Brasil, por sua vez, é referência na política de salvaguarda de patrimônio cultural imaterial.
Segundo ela, a reunião da Comissão do Patrimônio Cultural da CPLP deve, entre outras questões, definir a metodologia para elaboração do Atlas do Patrimônio Cultural, que vai mapear os bens culturais dos nove países-membros da comunidade internacional. Em 2019, o Brasil vai oferecer oficina técnica de formação em elaboração de listas indicativas de Patrimônio Cultural aos nove países-membros. Em 2020, será aberto um novo curso, de Salvaguarda de Patrimônio Cultural Imaterial.
Bogéa se reúne na quarta-feira, dia 20, com a diretora-geral do Patrimônio Cultural de Portugal, Paula Araújo da Silva, com quem o Brasil está desenvolvendo intercâmbio de experiências. O Paço Imperial, Centro Cultural do Iphan no Rio de Janeiro (RJ), vai receber em breve uma exposição sobre o Patrimônio Imaterial luso-brasileiro.
No dia 22, a presidente do Iphan participa de reunião de trabalho com o diretor regional de Cultura do Norte, António Ponte para conhecer a experiência dos Centros de Interpretação Turística em sítios do Patrimônio Mundial de Portugal. O Iphan pretende levar a experiência portuguesa para as 13 cidades brasileiras detentoras de sítios de Patrimônio Mundial. Será apresentada proposta de intercâmbio de gestores locais brasileiros junto a casos portugueses.
Henrique Pires ainda se reúne, dia 22, com os diretores dos festivais teatrais DDD e Fitei, que levarão este ano cerca de 15 peças de teatro brasileiras para os palcos portugueses. E encerra a viagem em Matosinhos, município a nove quilômetros de Porto, onde visita a Casa de Cultura, que abriga a exposição Infinito Vão, uma homenagem a 90 anos de arquitetura brasileira.