Da Redação com Lusa
Em visita oficial a Angola, o chefe da diplomacia brasileira remeteu as polêmicas da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola para o plano judicial, negando que afetem a relação entre os dois países.
Carlos Alberto França disse que o assunto não foi abordado com o seu homólogo angolano na reunião da III Comissão Bilateral de Alto Nível entre Angola e o Brasil, que decorreu nesta quarta-feira em Luanda, sublinhando que este não é um problema na relação entre os dois países e que o governo brasileiro não comenta decisões da justiça.
“É apenas um aspecto na nossa relação. Há outros que temos e que reforçam a nossa relação. Seguramente não é um problema nas relações do Brasil com Angola (…) é apenas uma das muitas dimensões que tem a nossa relação bilateral”, disse o ministro das Relações Exteriores à saída da reunião.
Salientou ainda que o Brasil “tem orgulho” na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma igreja cristã nascida no Brasil e que “se espalhou pelo mundo” com “quase tantos templos quanto o ministério das Relações Exteriores do Brasil tem embaixadas”.
Carlos Alberto França considerou também que a IURD presta um serviço de caráter religioso e espiritual, mas também humanitário “e de grande valia para as comunidades brasileiras no exterior”, nomeadamente as que estão na Estados Unidos, onde realiza junto das representações consulares brasileiras, “um trabalho de caráter humanitário” que proporciona não apenas “conforto espiritual”, mas ajuda na adaptação dos nacionais brasileiros no exterior.
Reiterando que o Brasil é um estado laico, o ministro assinalou, no entanto, que a religião faz parte das atividades do país e nesse sentido, o governo está atento à atuação das igrejas no exterior.
As divergências internas da IURD em Angola arrastam-se desde 2019 e culminaram na separação da igreja em duas alas, reclamando ambas a designação IURD Angola: uma, ligada ao Brasil, atualmente com direção angolana; outra, formada pela ala angolana dissidente, reconhecida pelo governo angolano, através do Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR) como representante legitima.
Esta semana a IURD em Angola (ala brasileira) queixou-se de ter sido “impedida” pelo Governo de Luanda de realizar no domingo um “clamor pelas famílias ao pé da cruz”, apesar de ter comunicado às autoridades.
Um acórdão do Tribunal da Comarca de Luanda (TCL), datado de 31 de março de 2022, absolveu os pastores da IURD dos crimes de que vinham sendo acusados e determinou o “levantamento das apreensões e a restituição imediata” dos templos, encerrados há dois anos, como disse em abril passado o bispo Alberto Segunda.
Alberto Segunda (líder da ala brasileira), que falava em conferência de imprensa, deu conta que a reabertura dos templos da IURD, foi seguida de alegadas “ameaças e intimidações” por parte de responsáveis do INAR angolano e de agentes da polícia contra os seus fiéis.
O bispo angolano pediu, na ocasião, a intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, para “mediar o conflito” que persiste, sobretudo em relação aos mais de 100 templos, e uma “atenção especial” aos mais de 500 mil de fiéis.
Ambas as alas – a de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda, e a ala dissidente, angolana, dirigida por Bizerra Luís – reclamam ser as legítimas representantes da igreja fundada pelo brasileiro Edir Macedo.
Visita oficial
O Ministro Carlos Alberto França, na capital de Angola, participa da 3ª reunião da Comissão Bilateral de Alto Nível Brasil-Angola (CBAN) e da XXVII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), até 3 de junho.
Durante a 3ª CBAN, serão celebrados os 47 anos de relações diplomáticas e a fluidez da parceria estratégica entre os dois países. A história de amizade e de cooperação entre Brasil e Angola tem-se desdobrado em iniciativas no campo da cooperação em defesa, técnica e educacional, na concertação no âmbito dos organismos multilaterais e no crescente comércio bilateral.
O Ministro Carlos França anunciará ao governo de Angola a aprovação, pelo Governo brasileiro, do Acordo de Cooperação no Domínio da Defesa entre Brasil e Angola.
Os indicadores da relação econômica entre Brasil e Angola têm aumentado, com o fluxo de comércio bilateral crescendo 8% em 2021 e somando US$ 577,5 milhões. No primeiro quadrimestre de 2022, as trocas totalizaram US$ 276,7 milhões, o dobro em relação ao mesmo período do ano passado. As exportações brasileiras concentram-se em carnes; açúcares e melaços; e veículos rodoviários. Já as importações são constituídas majoritariamente por petróleo e gás natural.
No âmbito da Reunião Ministerial da CPLP, serão tratados temas como a cooperação econômica, prioridade da presidência de turno angolana assumida em julho de 2021. Em fevereiro deste ano, foi estabelecido o Fórum de Agências de Promoção do Comércio e do Investimento da CPLP, que será instrumento relevante para concretizar o potencial de cooperação econômica da Comunidade.
Durante a viagem a Angola, o Ministro Carlos França participará, ainda, em 2 de junho, do seminário “Parceria econômica Brasil-Angola – soluções de financiamento”, com presença de empresários brasileiros e angolanos interessados em incrementar os negócios entre os dois países, e de evento cultural na unidade do Instituto Guimarães Rosa em Angola, com apresentação do grupo Cores de Aidê, que exibe espetáculo de percussão, dança e voz com repertório, figurino, coreografias e arranjos próprios a partir de influências afro-brasileiras.