Em Lisboa, ministro afirma que a posição do Brasil é pela paz mundial

Mundo Lusíada com Lusa

Nesta terça-feira, o ministro das Relações Exteriores do Brasil afirmou, em visita a Lisboa, que a posição do Brasil na guerra da Ucrânia é pela paz mundial, mais do que “apontar culpados”.

Carlos Alberto França, que esteve em visita oficial a Portugal, falava numa conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, com quem, entre outros assuntos, abordou as comemorações do bicentenário da independência do Brasil, que se assinala este ano.

“A posição do Brasil é clara: estamos do lado da paz mundial. Brasil é um construtor de consensos. A nossa fortaleza é a capacidade negociadora”, disse, escusando-se a responder diretamente sobre se o Brasil condena a invasão russa da Ucrânia.

O ministro brasileiro defendeu a “paz e segurança mundiais”, afirmando que estes se atingem “instando o Conselho [de Segurança das Nações Unidas] a encontrar uma saída e não a apontar culpados”.

Carlos Alberto França expressou ainda a sua preocupação sobre “o caráter seletivo” das sanções aplicadas no contexto da guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia e, em particular, o facto de os Estados Unidos estarem a considerar importar petróleo da Venezuela.

“Expulsam o Banco Central da Rússia do Banco de Pagamentos Internacionais [BIS], mas mantêm dentro do BIS uma câmara de compensação que permite o pagamento da energia que é fornecida pela Rússia à Europa”, disse.

Brasília está também preocupada com o fato de Washington estar a estudar a importação de petróleo da Venezuela e “ao mesmo tempo bloquear os negócios de fertilizantes brasileiros com países como o Irão”, recordou.

O ministro aproveitou para indicar que na quarta-feira chega a Varsóvia uma aeronave com 12 toneladas de doação humanitária brasileira, a qual inclui 50 máquinas capazes de produzir água para consumo humano, comida desidratada (para 2.400 refeições) e duas toneladas de medicamentos.

“É um pequeno contributo do governo brasileiro ao povo ucraniano”, disse, recordando que no Brasil vivem entre 500 e 600 mil ucranianos e descendentes de ucranianos.

Por seu lado, na Ucrânia vivem 500 cidadãos brasileiros. Desses, disse o ministro, muitos tiveram ajuda do governo brasileiro para serem repatriados, todos pediram auxílio para sair do território da Ucrânia, e uma boa parcela voltou ao Brasil por meios próprios.

Ameaças russas

Já o ministro português disse que as ameaças da Rússia não amedrontam nem intimidam Portugal, um país pouco exposto ao gás e ao petróleo russo.

“Essas ameaças [da Rússia e do presidente Putin] não nos amedrontam nem nos intimidam. Nós decidimos as nossas posições em concertação, quer no quadro das Nações Unidas, quer no quadro da União Europeia e da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte – NATO], e fazemos valer essas decisões que tomamos autonomamente nas organizações a que pertencemos”, disse Santos Silva.

A Rússia elaborou uma lista de países “hostis”, incluindo Portugal, enquanto Estado-membro da União Europeia, juntamente com Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá, entre outros, aos quais as empresas russas poderão pagar dívidas em rublos, moeda que desvalorizou 45% desde janeiro.

Sobre as sanções à Rússia, no seguimento da invasão de 24 de fevereiro à Ucrânia, Santos Silva recordou que estas foram as que foram aprovadas, designadamente no quadro da União Europeia (UE).

Essas sanções, recordou o ministro, foram aprovadas em três momentos diferentes, constituindo três pacotes diferentes, sendo sanções de natureza política, dirigidas a um conjunto de pessoas russas, e outras de caráter econômico.

Face a um eventual corte no abastecimento do gás e petróleo russo à Europa, Augusto Santos Silva recordou que há vários anos que Portugal, com os seus sucessivos governos, tem vindo a fazer o seu trabalho “no sentido de tornar Portugal casa vez menos dependente de energia fóssil”.

“Neste momento, da eletricidade consumida em Portugal, 60% já decorre de fontes renováveis de energia produzidas localmente: energia hídrica, eólica e solar”, prosseguiu.

Em relação ao gás e petróleo, o ministro explicou que Portugal importa-os de “um conjunto diversificado de países, situado nas Américas, em África e na Europa”.

“Em resultado dessa política de diversificação, a nossa exposição atual ao gás e petróleo russo é muito baixa”, frisou.

E adiantou: “Não temos consequências diretas, não somos um país de grande exposição à energia proveniente da Rússia. Fazemos parte de uma UE muito dependente e, dentro da UE procuramos fazer valer a importância absolutamente estratégica de fazer diminuir a dependência da Europa face à Rússia em matéria de energia”.

Nesse domínio, o ministro disse que a estratégia de Portugal passa por “diversificar as fontes e as rotas de abastecimento de energia à Europa”, o que “passa por aumentar as interconexões ente Portugal e Espanha e entre Portugal e Espanha e o resto da Europa”.

“Nós neste momento precisamos de aumentar o gás que recebemos de outras origens que não a Rússia. Uma das duas origens possíveis e exequíveis são os Estados Unidos e os países africanos”, afirmou.

“O gás que vem, vem por mar, nos navios que aportam nos portos europeus, havendo na Península Ibérica o mais habilitado para os receber, de águas profundas (Sines). De Sines, o gás pode ir por mar ou por terra. Por terra precisa de um gasoduto. Neste momento há duas interconexões de gás entre Portugal e Espanha e queremos construir uma terceira e queremos que haja mais uma interconexão entre Espanha e a França, para justamente o gás que chega à Europa pela Península Ibérica possa chegar à Europa central e de leste”, referiu.

Bilateral
O Ministro Carlos França encontrou-se também com o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, com quem tratou da situação na Ucrânia e de iniciativas culturais conjuntas em 2022, no âmbito das celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil.

Outro tema abordado na visita entre os MNE esteve as recentes iniciativas de cooperação em ciência e tecnologia, com destaque para a entrada em operação do cabo ótico de alta capacidade Ella Link, conectando América do Sul e Europa por meio de Brasil e Portugal. O cabo ótico “possibilitará a continuidade de projetos estratégicos em áreas como energia nuclear e astrofísica” informa o governo.

Em 2021, a corrente de comércio entre Brasil e Portugal teve expressivo aumento de 43% em relação ao ano anterior, atingindo 3,49 bilhões de dólares.

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