Em Lisboa, bolseiros vaiam ministro durante discurso em encontro sobre ciência

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor (D), acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva (2-D), discursa durante a no primeiro dia do Ciência 2018 – Encontro com a Ciência e Tecnologia em Portugal, considerada a maior reunião nacional de investigadores de diferentes instituições e áreas do conhecimento realizado no Centro de Congressos de Lisboa, 02 de julho de 2018. MANUEL DE ALMEIDA / LUSA

Da Redação
Com Lusa

O ministro português da Ciência, Manuel Heitor, foi vaiado por bolseiros de investigação científica enquanto discursava na sessão de encerramento do encontro Ciência 2018, em Lisboa.

Dezenas dos que haviam protestado horas antes contra a precariedade laboral na ciência, no exterior do Centro de Congressos, acompanharam de pé, na sala, a intervenção de Manuel Heitor com assobios quando o ministro disse que o Governo está “sempre a favor de mais emprego científico e mais diálogo”.

Alguns dos manifestantes viraram costas ou pontuaram o discurso do ministro gritando “cumpram a lei!”, numa referência à legislação que prevê a contratação de investigadores-doutorados em substituição de bolsas de formação de pós-doutoramento.

Irredutível, Manuel Heitor fez o balanço do Ciência 2018 e passou em revista as reformas feitas pelo Governo no setor e as metas alcançadas, como o de a despesa privada em investigação superar “pela primeira vez” a despesa pública.

Dirigindo-se indiretamente aos manifestantes, que volta e meia se riram quando falava, o ministro afirmou, irônico: “Todos queremos que todos vocês se riam”.

No final do discurso, os bolseiros, que vestiam camisetas pretas com um ponto de interrogação nas costas, voltaram a assobiar Manuel Heitor e gritaram “Carreiras é preciso” e “Contratos sim, bolsas não”.

Clarificar lei

Já o presidente da República sugeriu que se clarifique a lei para impor às universidades a regularização contratual dos investigadores científicos em situação precária, considerando que isso pode ser feito na próxima sessão legislativa.

“Quer clarificar-se isso? É um caminho a seguir, e uma sessão legislativa é suficiente para essa clarificação”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, durante uma intervenção de cerca de 25 minutos no encontro “Ciência 2018”, que dedicou inteiramente ao problema da precariedade laboral neste setor.

Esta foi uma “pista de solução” deixada pelo chefe de Estado para resolver a situação precária dos bolseiros de investigação científica, que durante esta iniciativa no Centro de Congressos de Lisboa se juntaram em protesto e o abordaram à chegada, pedindo-lhe que “dentro da sua magistratura” tente intervir.

Marcelo Rebelo de Sousa apontou um “segundo caminho, o da persuasão” das instituições universitárias, através do diálogo, mas advertiu que “o caminho da persuasão tem limites”, salientando que “o Governo não tem instrumentos de tutela sobre as universidades, que são autônomas”.

No seu discurso, o Presidente da República recordou que, apesar da contestação de vários responsáveis universitários, promulgou a lei em causa, aprovada pelo parlamento, e foi aplaudido quando defendeu que “não há país que tenha futuro sem ciência e não há ciência sem cientistas”.

Dirigindo-se aos bolseiros em protesto, agradeceu a sua contestação pública, para a sociedade portuguesa “perceber que tem de apostar nos cientistas e tem de gastar dinheiro nos cientistas”, e declarou: “Não posso ser mais sensível às vossas preocupações”.

“É mais fácil apostar às vezes em obras públicas do que apostar em obras aparentemente não públicas mas que são mais duradouras nos seus efeitos. Apostar na educação e na ciência é apostar no médio longo prazo”, acrescentou.

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