Em Fátima, Arcebispo destaca contributo dos migrantes para riqueza econômica e cultural

PAULO CUNHA /LUSA

Da Redação com Lusa

O arcebispo do Luxemburgo, cardeal Jean-Claude Hollerich, destacou neste dia 13 o contributo dos migrantes para a riqueza econômica e cultural dos países de acolhimento, e considerou que a fé sem espírito de serviço não passa de um sentimento.

“Caros amigos portugueses, caros emigrantes, caros refugiados, com as vossas mãos, trabalho, suor do rosto, inteligência, sacrifício das vossas famílias tendes ajudado a construir a riqueza econômica e cultural dos países que por esse mundo fora vos acolhem”, afirmou Jean-Claude Hollerich, também presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), na missa que encerra a peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de agosto ao Santuário de Fátima.

A peregrinação, considerada como a dos emigrantes, integra a peregrinação nacional do migrante e do refugiado, este ano subordinada ao tema “Rumo a um nós cada vez maior”, o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, em 26 de setembro.

O arcebispo referiu a sua experiência na arquidiocese do Luxemburgo, onde 15% dos cerca de 634.700 habitantes são portugueses, para dizer que encontra “frequentemente muitas famílias portuguesas e lusófonas”, assinalando que as comunidades portuguesas “um sinal de esperança para a Igreja” que peregrina no grão-ducado.

Agradecendo aos emigrantes e refugiados pelo “serviço ao bem comum da sociedade e da Igreja” e considerando que “a Europa hoje vive longe de Deus”, que esqueceu, o presidente da Comece pediu àqueles para que com o espírito de serviço, fé e religiosidade procurem “continuar a ajudar os países que vos acolhem para viver, a não perderem a esperança”.

Antes, o cardeal desafiou os fiéis a colocarem-se ao serviço dos outros, começando pela família.

“Apelo-vos a alargar este espírito de serviço aos vossos vizinhos, às pessoas com quem vos cruzais habitualmente, aos vossos amigos”, mas também aos doentes e idosos, continuou.

Para Jean-Claude Hollerich, “a verdade é que a fé sem espírito de serviço não passa de um sentimento e os sentimentos são passageiros”, defendendo que “a atitude de serviço pode ser posta à disposição da Igreja”.

“As paróquias precisam de homens e mulheres, jovens e adultos, dispostos a servir o Evangelho e o próximo. Na catequese não é necessário ter um doutorado em teologia, mas uma fé viva é bem mais importante e fecunda na transmissão da fé aos mais novos ou adultos”, disse.

O cardeal jesuíta acrescentou que “nos grupos de solidariedade cristã são precisas pessoas abertas que favoreçam o acolhimento dos refugiados e migrantes”, e, no final, abençoou os peregrinos de Fátima, as comunidades portuguesas e seus missionários, e Portugal.

Na celebração, que contou com dois cardeais, cinco bispos e 47 sacerdotes, os peregrinos rezaram pelas comunidades de portugueses e lusodescendentes espalhadas pelo mundo e pelas vítimas da pandemia de covid-19, e pediram aos governantes “para que evitem o nacionalismo indiferente à sorte dos mais pobres e desenvolvam políticas de hospitalidade que abram as sociedades que governam aos migrantes e refugiados”.

A peregrinação, limitada à presença de cerca de 15 mil fiéis devido à pandemia, tendo sido atingida, pelas 11:00, 90% da lotação no decurso da missa, incluiu, no ofertório, a entrega de trigo.

Segundo o santuário, no ano passado foram oferecidos 4.973 quilogramas de trigo e 504,5 quilogramas de farinha, tendo-se consumido no templo cerca de sete mil hóstias médias, 50 hóstias grandes, cerca de 371.300 partículas e 30 partículas para celíacos, nas 2.784 missas.

Povos

O bispo da Diocese de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, afirmou na saudação final aos fiéis que participavam na peregrinação internacional no Santuário de Fátima, que todos são chamados a construir uma fraternidade universal multicolor.

“Esta peregrinação de migrantes, emigrantes e imigrantes, vindos dos mais diversos povos, é uma experiência viva e concreta daquela fraternidade universal multicolor que todos somos chamados a construir através do intercâmbio e da riqueza de povos e culturas, mas na harmonia e na paz entre todos”, disse António Marto.

Para o bispo de Leiria-Fátima, “esta peregrinação de migrantes vindos de diversos povos mostra a evidência [de] como a oração” do Santuário de Fátima “está ligada à geografia do mundo, a todas as necessidades e problemas dos povos e países de onde partem ou onde chegam e são acolhidos todos os migrantes e refugiados”.

“A nossa oração é universal e torna o nosso coração universal também e aqui recebemos, por intercessão de Maria, o dom da consolação, da esperança, da fortaleza e da alegria, para caminharmos juntos, para construirmos juntos o futuro de justiça e de paz do mundo planeta”, realçou o cardeal.

Ao referir-se ao presidente da peregrinação, o arcebispo do Luxemburgo e presidente Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia, Jean-Claude Hollerich, António Marto salientou que se tem “mostrado um grande defensor da dignidade e dos direitos dos migrantes e dos refugiados”, além de que é um grande devoto de Fátima e grande amigo das comunidades portuguesas.

A peregrinação de 12 e 13 de agosto, considerada a dos emigrantes, integrou a peregrinação nacional do migrante e do refugiado, no âmbito da 49.ª Semana Nacional de Migrações.

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