Da Redação
Em audiência pública realizada no último dia 4 pela Comissão de Educação na Câmara dos Deputados, proposta pelos deputados Dr. Jaziel (PL-CE) e Paula Belmonte (Cidadania-DF) em Brasília, a maioria dos participantes criticou a adoção do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990 e em vigor há cerca de uma década no país.
Favorável à revogação do documento, Dr. Jaziel destacou que aproximadamente 0,4 % das palavras sofreram modificações. Para ele, a revogação é anseio de muitos escritores, professores e linguistas, que fizeram várias indagações a respeito desse acordo. “Por isso nós propusemos uma audiência para a gente discutir, porque há uma inconveniência grave da nossa língua”, disse.
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa propôs a unificação da ortografia entre os países que usam o português como língua oficial. Mas, segundo o escritor Sidney Silveira, o documento está longe de reunir consenso, sobretudo em Portugal e no Brasil.
Aqui, as modificações incluíram a eliminação dos acentos em terminações ‘eia’ e ‘oo’; a supressão do trema; além de mudanças nas regras para emprego do hífen. As letras k, w e y foram incorporadas oficialmente ao alfabeto.
Alfabetização
Para Sidney Silveira, o acordo tem impacto negativo, inclusive, na alfabetização. “Estamos diante de algo que precisa ser revogado ontem e diz respeito a cada um de nós. Hoje os professores de português ensinam muitas vezes coisas que têm regra praticamente incompreensíveis, o hífen por exemplo. (…) É muito difícil, é confuso, é abstruso”, disse.
Doutora em Filologia e Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP), Amini Hauy também concorda com a revogação do acordo.
“Eu sou contra o acordo pelo seu aspecto formal e de conteúdo. Pelo prejuízo e desconcerto na sala de aula, desconcerto na atividade profissional do professor, além dos desacertos evidentes inaceitáveis do texto escrito do novo acordo e sobre o aspecto gramatical principalmente”, observou.
Gramática preservada
Representante do Ministério das Relações Exteriores, a embaixadora Márcia Donner Abreu reconheceu que o acordo tem imperfeições, mas, na sua avaliação, é importante na promoção da Língua Portuguesa no mundo.
“Da perspectiva do Itamaraty, não haveria uma razão para buscar a denúncia do acordo. O acordo de 90 preserva nossa gramática, preserva nossa variante lexical. Nós tivemos relativamente poucas mudanças ortográficas, mas principalmente meu argumento é que o acordo mantém una a Língua Portuguesa, na sua riqueza, na sua variação, nas suas várias variantes”, disse.
Mas, para Sérgio de Carvalho Pachá, que foi lexicógrafo-chefe da Academia Brasileira de Letras, a unidade de uma língua não se dá pela ortografia ou o léxico; mas é muito maior do que tudo isso e existe por si, sem necessidade de comprovação.