Mundo Lusíada
Com Lusa
O secretário-geral do PCP apelou ao voto dos portugueses que emigraram nos últimos quatro anos, para penalizarem aqueles que os obrigaram sair do país, mas manifestou preocupação com a possibilidade de um aumento da abstenção.
“Nestes quatro anos, emigraram cerca de meio milhão de portugueses, que, naturalmente, à procura de resolver os problemas da sua vida, acabam por não votar; abstêm-se. Perderam vínculo, perderam afetividade, perderam referências do seu país, que os maltratou e que os obrigou a emigrar. Este elemento é preocupante porque vai haver mais abstenção, designadamente, daqueles que emigraram, forçosamente, para o estrangeiro”, disse Jerónimo de Sousa.
“O que podemos dizer a esses emigrantes é que votem, que participem e condenem aqueles que os obrigaram a uma emigração forçada”, acrescentou o líder comunista, durante uma vista à Festa das Vindimas, em Palmela.
Questionado pelos jornalistas, Jerónimo de Sousa reafirmou a ideia de que um eventual entendimento entre socialistas e comunistas, depois das eleições legislativas de 4 de outubro, depende de uma mudança de políticas por parte do PS.
“O PS não responde a uma pergunta fundamental que nós colocamos: governar para quê e governar para quem? Que política é que deve ser realizada, que ruturas é que devem ser feitas, que respostas aos problemas da renegociação da dívida”, questionou, adiantando que o PS quer apenas ser protagonista das políticas dos últimos anos.
“O PS não está disposto a assumir nenhuma ruptura, mas a dar continuidade a esse caminho que comprometeu o País, que o leva a estar hoje mais dependente do estrangeiro, mais endividado mais injusto. E, nesse sentido, a pergunta deve ser devolvida ao Partido Socialista: quer continuar a fazer o mesmo, ou está disponível para uma rutura com esta política e afirmar em Portugal uma política patriótica e de esquerda”, questionou.
Assegurando que o PCP está disponível para participar no debate das grandes questões nacionais, Jerónimo de Sousa escusou-se, no entanto, a responder a perguntas sobre o impacte que a alteração da medida de coação do ex-primeiro José Sócrates, de prisão preventiva para obrigação de permanência na residência, poderá vir a ter na campanha eleitoral.
“Eu já assumi um compromisso perante os portugueses: nós vamos dedicar-nos totalmente à batalha o esclarecimento, da mobilização, de discutir as grandes questões nacionais e não misturar aqui processos judiciais. Não falaremos sobre isso”, disse.
Artistas também
No mesmo dia, o diretor do Teatro Viriato, Paulo Ribeiro, lamentou que Portugal esteja a formar bons artistas, em diferentes áreas, que são depois obrigados a emigrar por não terem trabalho em Portugal.
“É de lamentar que os jovens, quando terminam a sua formação, não tenham trabalho no próprio país. Estamos a formar, até na área da dança, e já não se fala em cientistas e por aí fora, mas de artistas que com 19 anos estão a sair do país”, sustentou.
Paulo Ribeiro revelou aos jornalistas que assistiu recentemente à apresentação final dos alunos do Conservatório Nacional de Lisboa. “Vi miúdos de 19 anos, incríveis, fantásticos, mas que vão todos para o estrangeiro. Os bons partem… ainda quis ficar com alguém para a minha nova peça, mas já não havia ninguém”, acrescentou.
De acordo com Paulo Ribeiro, estes jovens artistas depois de formados acabam por partir para as melhores companhias europeias, porque em Portugal não encontram trabalho.
No seu entender, para evitar que os jovens artistas emigrem, depois de um investimento na sua formação, será necessário pensar na ideia de se terem companhias com uma dimensão mais regional.