Tiveram lugar, finalmente, as eleições presidenciais francesas e as legislativas na Grécia, e com os resultados já esperados de há muito. Escrevo este texto nesta segunda-feira imediata àqueles dois atos eleitorais, mas de cujos resultados só conheço os do início dos noticiários da meia-noite do domingo eleitoral. Significa isto, pois, que poderão ter existido, agora já oficialmente, ligeiras discrepâncias face aos resultados da meia-noite de ontem.
Na eleição francesa para o Presidente da República, venceu, e com razoável margem – 3,4 % – François Hollande. Uma realidade sobre que achei uma graça tremenda a uma jornalista de um dos nossos canais televisivos, ao referir que a diferença não chegava aos três por cento! Num ápice, disse para comigo e em voz alta: temos uma Guterres…
Em primeiro lugar, inquestionavelmente, François Hollande tinha contra si a falta de carisma, a própria voz, nada gutural, e o fato de ser uma personalidade baça. Simplesmente, estes fatos voltam-se contra François Sarkozy, porque mostram que a reprovação da sua política foi tão vasta que até uma personalidade com as caraterísticas de Hollande acabou por vencê-lo, e com uma razoável margem.
Imagine-se o que se teria dado se o adversário de Sarkozy tivesse sido Dominique Strauss-Kahn… Bom, teria Sarkozy recebido um verdadeiro tareão. Um tema, este de Stauss-Kahn, tal como os de Carachy, de Muammar Kadhafi e de Dominique de Villepin, que se deseja que venham agora a ser esclarecidos pela justiça francesa.
Em segundo lugar, convém reparar no significado do apoio de Jacques Chirac a François Hollande: aquele sabia bem o que se havia passado com o seu antigo Ministro do Interior contra o então Primeiro-Ministro, Dominique de Villepin, em torno do caso Clearstream…
E, em terceiro lugar, os franceses reagiram contra Nicolas Sarkozy pela posição degradante em que aquele colocou a França face à Alemanha, trazendo ao pensamento o caso do Governo de Vichy, mas em que agora a guerra se desenrola por via dos interesses económicos e financeiros da Alemanha. Inquestionavelmente, Nicolas Sarkozy foi um verdadeiro presidente-capacho da chanceler Merkel.
Os franceses estavam fartos de Nicolas Sarkozy, esperando-se agora que a Justiça francesa esclareça a responsabilidade criminal do agora derrotado nos casos atrás referidos. No mínimo, porque Sarkozy era homem para incomensuravelmente mais,,,
Interessante foi o que esta eleição nos mostrou: afinal, sempre existem alternativas ao atual modelo de empobrecimento neoliberal. Os leitores terão reparado no apoio inicial de Merkel a Sarkozy, mas que se quedou rapidamente. Para lá de se perceber que tal ato constituía nova entrada da Alemanha em França, percebeu-se, por igual, que tudo poderia vir por aí a piorar para o francês.
Passou, depois, a Alemanha ao silêncio. Simplesmente, na última semana e meia este silêncio foi quebrado, com Merkel e os seus homens de mão a perorarem por essa Europa fora em favor do crescimento, e não já da austeridade. Era o completo volte-face, o dito por não dito, dos mil e um que vinham clamando que só existia um caminho: austeridade e pobreza crescentes, desemprego, miséria e suicídios. A fina-flor do neoliberalismo, que conduziu o Mundo ao atual estado de coisas.
Espera-se agora, para bem da França, dos franceses, mas também da generalidade dos europeus, que Hollande seja firme e não venha a fazer o que fizeram os seus antecessores socialistas por todo o lado, ou seja, que se não deixe resvalar para a cantilena do neoliberalismo, que nos trouxe à miséria de hoje, mostrando a completa inutilidade da democracia. A ver vamos.
Em contrapartida, na Grécia estas recentes eleições constituíram uma das melhores lições para os portugueses, porque mostraram que os gregos não estiveram dispostos a continuar a queixar-se, mas continuando a votar nos mesmos, como se dá, desde há trinta e oito anos, em Portugal, e com os lamentáveis resultados que se vêem e sentem dolorosamente.
Ainda assim, muitos gregos ainda caíram na infeliz ideia de dar ao partido responsável pela sua catástrofe – para lá da Alemanha – o primeiro lugar, embora com apenas vinte por cento dos votos. Ao PASOK, atiraram-no para o terceiro lugar, com o mais baixo resultado de sempre, como também com a tal Nova democracia. Mas não tiveram dúvidas, conhecendo já bem o Partido Comunista da Grécia, em o colocar no final, ou perto disso, mas dando o segundo lugar ao “Bloco de Esquerda” grego. Não são parvos…
Uma decisão eleitoral a que se impõe juntar este dado importante e mui significativo, e mais ainda quando o olhamos por via do nosso modo de estar na vida: na Grécia há já um alto responsável político acusado pela Justiça por via do caso dos submarinos, tal como se havia já dado na Alemanha. Entre nós, continua a dúvida: será que a Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, tratou já com o Procurador-Geral da República das verbas que este apontou como essenciais e que teriam sido pedidas há muito? Em que se fica? Vai continuar tudo na mesma, com as verbas sem serem colocadas à disposição de quem delas precisa? Veremos no que tudo vai dar.
No Reino Unido, e tirando o caso de Londres, as eleições autárquicas foram extremamente desfavoráveis para o Partido Conservador, o tal que elevou o valor das propinas para níveis incomportáveis para a generalidade dos seus compatriotas. Também os britânicos já se terão dado conta do buraco em que se meteram, para lá daquela atitude anti-Merkozy de David Cameron, que soube recusar o papel de capacho da Alemanha.
Por fim, os nossos canais televisivos, que, de um modo muito geral, se determinaram a convidar os mais diversos apaniguados do neoliberalismo, que conduziu a Europa ao estado em que se encontra, embora com o lamentável apoio dos trânsfugas oriundos do socialismo democrático… Uma realidade que mostra que o que se deu com as lojas Pingo Doce no passado Primeiro de Maio é coisa rara nos lugares onde se governa capazmente e para o bem comum. E será que o Presidente Cavaco Silva, quando agora escrevo este texto, já terá visionado as tais inenarráveis imagens que todo o Portugal viu?
Por Hélio Bernardo Lopes
De Portugal