Eleições europeias tem abstenção recorde e vitória do PS que não permite “triunfalismo”, diz Portas

Passos Coelho e Paulo Portas. Foto MIGUEL A. LOPES/LUSA
Passos Coelho e Paulo Portas. Foto MIGUEL A. LOPES/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

O PS é o partido com mais mandatos nas eleições europeias de domingo depois de apurados os resultados em todas as 3.092 freguesias de Portugal e em 54 dos 71 consulados, segundo dados da Direção Geral de Administração Interna (DGAI).

Os resultados indicam sete deputados (31,45%) para o PS, seis (27,71%) para a Aliança Portugal (PSD/CDS-PP), dois (12,68%) para a CDU (PCP-PEV), um (7,15%) para o Partido da Terra (MPT) e outro (4,56%) para a Bloco de Esquerda, faltando atribuir quatro dos 21 mandatos de Portugal no Parlamento Europeu, que dependem dos resultados no estrangeiro.

Vitória do PS
O presidente do CDS-PP e vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, recusou qualquer “triunfalismo” na vitória do PS e argumentou que a expressão da abstenção não permite dizer que houve “um voto a pedir eleições antecipadas”.

Numa conferência de imprensa conjunta com o presidente do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas lembrou também que “os dois partidos têm o compromisso de levar esta legislatura até ao fim”. “Eu não creio que, numas eleições em que dois terços dos portugueses ficaram em casa, se possa dizer que há aqui um voto a pedir eleições antecipadas. Há muitos sinais de preocupação que devem ser lidos pelos agentes políticos, agora, é muito difícil poder dizer que com dois terços dos portugueses em casa há aqui uma vontade de derrubar o Governo, fosse ele qual fosse”, declarou.

Portas reconheceu a vitória dos socialistas, mas considerou que não lhes dá motivo para “triunfalismos”, e, tal como Passos Coelho, considerou que os resultados destas europeias deixam tudo em aberto para as próximas eleições legislativas.

“Foi o PS que ganhou estas eleições e, portanto, felicito o PS por essa vitória eleitoral” declarou por sua vez Passos Coelho. O presidente do PSD remeteu para mais tarde uma “leitura mais detalhada dos resultados” dos pontos de vista nacional e europeu, defendendo que isso deve ser feito com “cuidado” e “critério”.

“A Aliança Portugal ficou, evidentemente, aquém das suas expectativas. Perdemos estas eleições e eu quero, no que me toca, reconhecer a responsabilidade política por este resultado”, acrescentou Passos Coelho, considerando, contudo, que “nem a derrota da Aliança Portugal foi tão grande quanto se prognosticou nem a vitória do PS foi tão folgada quanto foi anunciado”.

Passos Coelho lamentou o nível de abstenção e manifestou “alguma preocupação” pela “expressão eleitoral, em termos percentuais, tão elevada” obtida por “forças políticas que são consideradas eurocéticas e manifestamente divergentes de um espírito de construção de projeto europeu responsável e solidário”, que não identificou.

O presidente do PSD felicitou “todos os eurodeputados eleitos” pelas várias forças políticas, “todos os portugueses que entenderam que era importante ir votar nestas eleições” e elogiou os candidatos da Aliança Portugal Paulo Rangel e Nuno Melo.

Abstenção
As eleições para o Parlamento Europeu registraram um novo recorde, com a abstenção a atingir o valor mais elevado de sempre em Portugal, 66,09%, só ultrapassado pela registrada no referendo de 1998.

O valor da abstenção ultrapassou o recorde de 1994, quando, também em eleições europeias, 64,46% dos eleitores optaram por não votar. No anterior ato eleitoral para o Parlamento Europeu, em 2009, 63,14% dos eleitores não foram votar, confirmando que as europeias são as eleições que habitualmente suscitam menos interesse por parte dos portugueses.

Nas presentes eleições para o Parlamento Europeu, votaram 3.280.561 eleitores em 9.674.986 inscritos, quando apurados 99,4% dos votos e faltam atribuir quatro mandatos.

A CDU conseguiu um dos seus melhores resultados de sempre – e deverá passar de dois para três eurodeputados -, o BE caiu para menos de metade em relação a 2009 e a surpresa da noite foi o resultado do MPT – Partido da Terra, com a eleição pelo menos do seu cabeça de lista, António Marinho e Pinto.

De acordo com os resultados provisórios, com 31,45%, o PS fica longe da sua melhor votação em europeias (mais de 44% em 2004). Coligados, o PSD e o CDS-PP conseguiram 27,7%, menos do que o PSD sozinho em 2009, quando conseguiu oito assentos no Parlamento Europeu e o CDS-PP dois. Os populares não deverão conseguiram eleger o seu segundo eurodeputado.

Em relação a 2009, quando perdeu as eleições com 26,58% dos votos, o PS ganhou cerca de 85 mil votos e a maioria perdeu mais de meio milhão em relação a umas eleições em que concorreram separados.

PS e Aliança Portugal fizeram leituras opostas dos resultados da noite de domingo: enquanto o secretário-geral socialista, António José Seguro, disse que “o Governo chegou ao fim”, desafiando os responsáveis políticos a tirarem consequências dos resultados, o líder do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse que a missão do executivo “é levar a legislatura até ao fim”.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, anunciou, na sequência dos resultados das eleições, a apresentação de uma moção de censura ao Governo, que será formalizada no parlamento esta semana, um instrumento que o PS disse que nunca ponderou utilizar por se tratar de “um frete” ao Governo, que dispõe de maioria absoluta na Assembleia da República.

Diáspora
A abstenção nas comunidades portuguesas residentes no estrangeiro foi de 98,25%, superior à de 2009, segundo dados provisórios da DGAI. “Continuamos a ter níveis de participação muito baixos, o que significa que nas nossas comunidades não se tem valorizado muito este ato eleitoral, nomeadamente o próprio parlamento europeu”, declarou à Lusa o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário.

Apenas 3.883 dos portugueses inscritos no estrangeiro (1,75% do total – 221.753) participaram nas eleições, quando estavam apurados os resultados em 54 de 71 consulados (76% do total de votos), cerca da 01:00 de segunda-feira. Nas eleições europeias de 2009, a abstenção foi de 97,8%.

No estrangeiro o resultado da votação é diferente do nacional: a Aliança Portugal (PSD/CDS-PP) foi o mais votado, com 47,82% (1.857 votos), mais do dobro do PS, que teve 23,05% (895 votos).

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