Eleições: Dois “pesos pesados” e dois estreantes nos círculos Europa e Fora da Europa

José Cesário volta a secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Foto divulgação

Mundo Lusíada com Lusa

 

Dois deputados “pesos pesados” da emigração e dois estreantes vão assumir na nova legislatura pelos círculos da Europa e Fora da Europa, numa estreia do Chega que acabou por afastar o veterano Augusto Santos Silva do Parlamento português.

A contagem dos votos dos emigrantes nas eleições de 10 de março, que decorreu entre segunda-feira e quarta-feira, no Centro de Congressos de Lisboa, acabou por corroborar o crescimento do Chega no Parlamento, com o círculo pela Europa a inaugurar as surpresas, uma vez que foi o primeiro a estar fechado.

Com 42.975 votos, o Chega foi o vencedor pela Europa, elegendo José Dias Fernandes, um dos estreantes. A residir em França, onde trabalha como empresário, José Dias Fernandes é natural de Viana do Castelo. Preside à associação Fiel Amigo do Bacalhau, organização em que é bastante ativo, conforme as publicações disponíveis nas redes sociais.

Paulo Pisco conseguiu ser reeleito por este círculo, voltando a assumir funções de deputado. Licenciado em Filosofia e membro da Comissão Nacional do PS e presidente da Subcomissão das Diásporas da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, Pisco exerceu funções de jornalista e é um dos rostos dos deputados pela emigração.

O PS obteve 38.063 votos pelo círculo da Europa, no qual votaram 238.605 cidadãos, o que representa 25,46% dos inscritos. A abstenção rondou os 74,54% e os votos nulos foram 31.980.

No círculo Fora da Europa a vitória calhou à AD, que elegeu o seu cabeça-de-lista José Cesário. Ex-secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Cesário foi eleito por um círculo que já o tinha elegido várias vezes.

Licenciado em Administração e Gestão Escolar através de Diploma de Estudos Superiores Especializados, foi professor do Ensino Básico, membro da direção do Sindicato de Professores da Zona Centro e fundador da Associação Nacional de Professores do Ensino Básico, segundo informação do PSD.

Assumiu o cargo de secretário de Estado das Comunidades Portuguesas no XV, XIX e XX Governos constitucionais e da Administração Local no XVI Governo constitucional, tendo exercido as funções de membro da Assembleia Municipal de Viseu e de Cinfães. Neste circulo a AD obteve 22.470 votos.

Arquivo/Mundo Lusíada

O segundo mandato pelo circulo Fora da Europa foi para o Chega, que elegeu o estreante Manuel Magno Alves. Nascido em Chaves, Manuel Magno Alves reside no Brasil, país onde o seu partido obteve 24,61% dos votos.

É advogado e homem de negócios em áreas como o imobiliário. Em 2009 foi eleito diretor da Casa de Portugal de São Paulo, onde até hoje tem exercido vários cargos. É ainda diretor tesoureiro da ANEPS – Associação Nacional das Empresas Promotoras de Crédito e Correspondente no País.

Foi também presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo. Passou do PSD para o Chega, onde chegou a ser número dois nos candidatos ao círculo Fora da Europa, a seguir a Maló de Abreu que desistiu da candidatura, deixando o caminho aberto para Manuel Magno Alves.

O Chega arrecadou 17.862 votos neste círculo Fora da Europa, para o qual votaram 98.360 cidadãos. A abstenção foi de 83,86% e os votos nulos totalizaram 31.980.

A Aliança Democrática (AD) venceu as eleições de 10 de março e o líder do PSD foi indigitado primeiro-ministro pelo Presidente da República. Luís Montenegro apresenta o seu Governo em 28 de março e a posse está prevista para 02 de abril.

As duas coligações lideradas pelo PSD – AD (PSD/CDS/PPM) e Madeira Primeiro (PSD/CDS) – conseguiram 28,84% dos votos e 80 deputados, segundo os resultados provisórios da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna – Administração Eleitoral.

O PS foi o segundo partido mais votado com 28% e 78 deputados, e o Chega obteve 18,07%, com 50 mandatos no novo parlamento.

A Iniciativa Liberal (IL) foi a quarta força política com 4,94% dos votos e com oito deputados, seguida do Bloco de Esquerda, com 4,36% e cinco deputados. Também elegeram deputados o PCP, com 3,17% e quatro deputados, os mesmos que o Livre, com 3,16%. O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) manteve o seu deputado, com 1,95%.

Vitória do Chega

Para o pesquisador José Carlos Marques, o sentimento de abandono das comunidades portuguesas no estrangeiro e uma campanha “intensa e eficaz” por parte do Chega contribuíram para a eleição de dois deputados deste partido pela emigração.

O docente do Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa e do Instituto Politécnico de Leiria disse à Lusa que ficou “surpreendido” com a eleição de dois deputados do Chega pelos emigrantes que tradicionalmente escolhem entre dois partidos: PS e PSD.

“Tem sido bastante difícil aos restantes partidos, até aos partidos com maior história parlamentar, conseguirem mobilizar os emigrantes para votarem nesses partidos”, afirmou.

“Foi surpreendente o fato de um partido relativamente recente conseguir fazer esta mobilização, que não foi conseguida no passado”, acrescentou.

“A inclinação do voto para um partido novo de extrema-direita é, de alguma forma, surpreendente, mas compreensível por duas ordens de razões: Primeiro, algum sentimento de abandono e menor atenção a que as comunidades portuguesas têm sido vetadas ao longo das décadas. Temos um secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Consulados e Embaixadas, mas provavelmente a sua ação não é muito eficaz nem muito bem percepcionada pelos emigrantes portugueses”.

A outra razão apontada pelo investigador foi “a campanha muito intensa e muito eficaz que foi feita pelo partido que acabou por obter dois deputados, um pela Europa e outro por Fora da Europa”, incluindo “tecnologias de informação modernas, redes sociais, que têm uma grande capacidade de chegar a públicos dispersos no território”.

Sobre a forte votação no Chega pelos portugueses na Suíça, onde este partido foi o mais votado, obtendo 32,62% dos votos, José Carlos Marques acredita que estes cidadãos quiseram passar “alguma mensagem de descontentamento”.

“São territórios mais pequenos em termos de espaço, em que talvez tenha sido mais fácil mobilizar os eleitores”, disse, acrescentando que “nos territórios mais pequenos é mais fácil passar a mensagem e mobilizar eleitores para permitirem eleger um deputado”.

Em 2022, a Suíça foi o principal país de destino da emigração portuguesa, sendo este o segundo país do mundo com mais portugueses emigrados (204.000), logo a seguir à França.

Também no Brasil, o partido Chega foi o mais votado com 24,61 % (13.724 votos), seguido da coligação AD com 20,45 %
(11.406 votos), estando o PS em terceiro com 15,30 % (8.536 votos).

José Carlos Marques recordou que “as alterações dos métodos de voto são uma exigência antiga da comunidade portuguesa no exterior”, para quem o atual processo é “muito arcaico”.

“O fato de quase metade dos votos [32,62%] terem sido anulados, deve-nos fazer refletir que se calhar é preciso pensar noutras formas de voto para as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, que já existem, é só preciso que não sejam possíveis de ser adulteradas”, disse.

E concluiu: “A democracia como um todo ganharia, pelo menos para as comunidades portuguesas no exterior, se fossem desenvolvidos métodos de eleição mais célere, como o voto eletrônico”.

Resultados oficiais no estrangeiro. Fonte CNE

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