Eleições: Abstenção no estrangeiro “é infelizmente uma tradição”, diz Braga

Para CCLB, houve "desinteresse e decepção", já que as Comunidades não são alvo de uma real política. Cônsul de Portugal em São Paulo sugere uma pesquisa com os eleitores que não votaram.

Mundo LusíadaCom Lusa

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, lamentou a fraca participação dos emigrantes nas eleições presidenciais, salientando a necessidade de uma "reflexão para mobilizar mais eleitores" no estrangeiro.

"É infelizmente uma tradição", afirmou à Lusa António Braga, quando instado a comentar a elevada abstenção, na ordem dos 95&, que se verificou nas comunidades portuguesas nas eleições presidenciais de Portugal.

O governante explicou que há "uma baixa inscrição nos cadernos de recenseamento", precisando que "não chega a 200 mil o número de portugueses no estrangeiro que estão recenseados", e que desses emigrantes, apenas "poucos participam".

"É uma reflexão que cabe a todos realizar", disse Braga, garantindo, no entanto, que "estão criados mecanismos de facilitação do recenseamento em toda a rede diplomática e consular", e que a "campanha de informação e de mobilização para as eleições, realizadas em parceria com Comissão Nacional de Eleições, atingiu os seus objetivos comunicacionais".

Campanhas que foram lançadas "justamente no sentido de levar a informação das datas e dos prazos para o recenseamento, que não é obrigatório no estrangeiro", acrescentou o secretário de Estado das Comunidades.

De acordo com o governante, outra "questão associada" é o fato de haver eleições que exigem o voto presidencial (como é o caso das eleições presidenciais e europeias), enquanto outras são feitas por correspondência (legislativas).

Estas duas modalidades "também provocam um pouco de ruído na comunicação, fazendo, sobretudo naquelas que têm voto presencial, que muitas vezes as pessoas não se desloquem – por deficiente informação – convencidos que o voto lhes chegará a casa como em outras ocasiões", explicou. "Creio que há uma reflexão a fazer para justamente podermos mobilizar mais eleitores", concluiu António Braga.

Os deputados da Assembleia da República pela Emigração contatados pela Lusa indicaram o Cartão do Cidadão e a falta de desdobramento das mesas de voto como algumas das causas para a fraca participação dos emigrantes nas eleições presidenciais.

 

Em São Paulo 

Ao Mundo Lusíada, o cônsul-geral de Portugal, José Guilherme Ataíde, informou que em São Paulo 45.289 eleitores estavam aptos a votar nesta eleição. Este é, segundo disse, o Consulado com o maior número recenseados da rede consular portuguesa.

Porém, os portugueses de São Paulo representaram nessas eleições uma abstenção de 99,92%, já que apenas 489 votaram de um total de mais de 45 mil recenseados.

"Uma explicação científica das causas da abstenção teria que partir de um inquérito cujo objeto seria precisamente aqueles que não votaram. Entretanto, podemos avançar com a hipótese plausível de que o período de férias e o fim-de-semana prolongado em São Paulo, por um feriado municipal, terão desmobilizado muitos eleitores da participação no ato" afirmou Ataíde ao Mundo Lusíada.

Para o presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira de São Paulo, Antonio de Almeida e Silva, a abstenção é "lamentável", já que esperava uma participação "efetiva" da comunidade. "A abstenção não foi só em São Paulo, mas em todo mundo, infelizmente, embora por aqui a situação tenha se agravado em razão do fim de semana prolongado, já que do dia 25 comemoramos o aniversário da cidade de São Paulo" disse ao Mundo Lusíada Almeida e Silva.

Segundo ele, mais do que omissão, houve "desinteresse e decepção, já que as nossas Comunidades de há muito não são alvo de uma real política definida para os portugueses que vivem foram das fronteiras de Portugal" defende.

"Continuam a agir como se não fossemos uma `Pátria de Comunidades`, com uma representação mínima de apenas 4 deputados no Parlamento, sem a criação de um Ministério próprio das Comunidades Portuguesas, sem a mínima ajuda as nossas valorosas associações, sem posturas e normas que contemplem efetivamente a importância que os portugueses residentes no estrangeiro têm na afirmação de um país de vocação realmente universalista" acusa.

De acordo com o presidente do CCLB, tratamentos diferenciados colocam em dúvida a igualdade que "deve haver a todos os portugueses". Como exemplo, citou a questão da tributação do IR, maior para os emigrantes, "como foi corajosamente denunciado neste respeitável jornal pelo notável empresário, e também Consul Honorário de Santos, Armênio Mendes".

Além disso, citou as contas de poupança-emigrantes que foram extintas, embora estas tenham representado em certa época umas das principais fontes de renda do país.

"Para alguns governantes é como se os emigrantes, ou portugueses residentes no estrangeiro, como preferem os tecnocratas, fossem diferentes, ou seja `portugueses de segunda`, o que repudiamos com todas as letras. Mas, por tudo isso, não surpreende que tenha havido essa abstenção tão alargada".

 

 

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