Da Redação
Com Lusa
A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o maior evento literário brasileiro, que este ano se realizou virtualmente devido à covid-19, chegou ao fim no domingo, com mais de 60 mil visualizações, informou a organização.
A 18.ª edição da Flip, cuja programação teve início na quinta-feira e terminou no domingo, foi palco de 12 mesas virtuais, sendo oito realizadas ao vivo e quatro gravadas antecipadamente, reunindo 22 autores, como os brasileiros Caetano Veloso e Itamar Vieira Júnior, a romancista britânica Bernardine Evaristo ou o nigeriano Chigozie Obioma.
Apesar da pandemia de covid-19 ter alterado o tradicional formato físico da Flip, que decorre anualmente no município brasileiro de Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, o diretor artístico do evento, Mauro Munhoz, congratulou-se com a edição virtual, classificando a adesão do público como um “sucesso”.
“O sucesso de público da Flip Virtual 2020 demonstra que este formato, quando utilizado de maneira inovadora, pode proporcionar encontros artísticos de muita potência. A videografia e o design desta edição trouxeram o espírito da Flip e o território de Paraty para a linguagem virtual, apresentando uma dinâmica inédita”, considerou Munhoz, em comunicado enviado à imprensa.
“Trouxemos Paraty para o ambiente virtual, mas também presenciamos grandes encontros além-mar, como entre o brasileiro Itamar Vieira Júnior e o nigeriano Chigozie Obioma, que mostraram como estamos mais próximos do que imaginamos das nossas ancestralidades”, acrescentou o diretor artístico.
O primeiro dia da festa literária, na quinta-feira, arrancou com uma mesa sobre “Diásporas”, com a participação das escritoras Bernardine Evaristo e Stephanie Borges, que fizeram reflexões sobre a questão de gênero, a criação artística no mundo contemporâneo e a linguagem criada por Bernardine no romance “Garota, Mulher, Outras”.
No segundo dia foram abordados temas muito atuais no Brasil e no mundo, como os impactos da ação humana sobre o clima, sobre a causa indígena e a sustentabilidade do planeta, numa mesa que contou com a presença do escritor e ambientalista norte-americano Jonathan Safran Foer e da poeta brasileira Márcia Kambeba.
Lilia Moritz Schwarcz abriu o terceiro dia da Flip com uma reflexão sobre as raízes do autoritarismo brasileiro: “A pandemia fez com que os Governos fossem obrigados a intervir nos seus Estados. Fez com que Presidentes fossem obrigados a executar aquilo para o que eles vieram. Eles têm de cuidar da educação, segurança e cuidar da nossa saúde”, defendeu a historiadora.
Ainda no mesmo dia, sob a temática “Ancestralidades”, Chigozie Obioma e Itamar Vieira Júnior (vencedor do Prêmio Jabuti de Romance do Ano, em 2020, por “Torto Arado”), abordaram questões ligadas à linguagem e à religiosidade de matriz africana.
“A nossa história foi uma história interrompida e que sofreu um grande processo de apagamento durante anos. Parece que, especialmente neste momento, estamos muito atentos para resgatar tudo isso, resgatar essa história. Aí acho que a literatura tem um papel muito importante, porque é capaz de recriar mundos e é capaz de conectar, de dar laços, entre histórias que parecem estanques, que estão separadas no tempo”, sustentou o brasileiro.
A noite de sábado foi encerrada com um dos encontros mais aguardados da Flip, que colocou Caetano Veloso e o filósofo espanhol Paul B. Preciado a falarem sobre liberdade, sexualidade e gênero, e que garantiu a maior audiência de todo o festival literário, com quase 10 mil visualizações durante a exibição.
“O modelo de masculinidade que me foi ensinado desde a infância pela sociedade não foi aceite por mim como indiscutível. Ao contrário, foi algo com que eu tive uma relação de mais do que desconfiança, uma relação de problematização”, explicou Caetano durante a conversa com Preciado.
A Flip encerrou no domingo com mesas como “Vocigrafias Insurgentes”, que juntou a poeta norte-americana Danez Smith e a ativista brasileira Jota Mombaça, abordando temas contemporâneos como a descolonização das narrativas históricas, identidade de gênero, racismo ou diáspora africana.
A 18.ª edição da Flip terminou ainda com livros de autores brasileiros entre os três mais vendidos: “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior, “Garota, Mulher, Outras”, de Bernardine Evaristo, e “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório.
A Flip virtual não teve nesta edição a figura do autor homenageado, devido à pandemia.