Partidos criticam medidas anunciadas pelo governo contra crise na habitação em Portugal

Rua Terreirinho, Lisboa. Reprodução Google

Mundo Lusíada com Lusa

Partidos políticos se manifestaram após as novas medidas anunciadas pelo governo português para responder à crise da habitação em Portugal e fim dos vistos gold. Na quinta-feira, o primeiro-ministro apresentou um pacote de medidas, estimado em 900 milhões de euros, com cinco eixos: aumentar a oferta de imóveis utilizados para fins de habitação, simplificar os processos de licenciamento, aumentar o número de casas no mercado de arrendamento, combater a especulação e proteger as famílias.

Entre as medidas que visam estimular o mercado de arrendamento, assim como a agilização e incentivos à construção, incluem-se o fim dos vistos ‘gold’, o Estado substituir-se ao inquilino e pagar rendas com três meses de incumprimento, a obrigatoriedade de oferta de taxa fixa pelos bancos no crédito à habitação ou famílias que vendam casas para pagar empréstimo da sua habitação ficarem isentas de mais-valias.

O programa Mais Habitação foi aprovado em Conselho de Ministros e ficará em discussão pública durante um mês. As propostas voltarão a Conselho de Ministros para aprovação final, em 16 de março, e depois algumas medidas ainda terão de passar pela Assembleia da República.

BE
A coordenadora do BE, Catarina Martins, afirmou hoje que os anúncios do Governo relativamente ao setor da habitação não mudam “absolutamente nada” e frisou que as pessoas não podem esperar sete anos para que algo mude.

“Não muda absolutamente nada na habitação com os anúncios do Governo. Mas muda no país, a cada dia que as pessoas não conseguem ter uma casa onde morar e é por isso que, é minha convicção, que aquela que tem sido a convocatória do movimento de protesto que sai à rua não vai parar, porque as pessoas não podem ficar à espera que alguma coisa comece a mudar, talvez daqui a sete anos, porque as pessoas precisam agora de uma casa que possam pagar”, afirmou.

A líder bloquista salientou que a questão da habitação não é só um problema dos centros de Lisboa e do Porto e defendeu que tal também afeta concelhos do interior do país, sublinhando que aí também se regista um agravamento dos preços das rendas.

Considerando que a “especulação imobiliária” está a alimentar o problema a nível nacional, Catarina Martins classificou como um “drama” as pessoas estarem confrontadas com terem de escolher entre uma casa sem condições ou uma casa que não podem pagar.

CDS
O presidente do CDS-PP e eurodeputado, Nuno Melo, pediu a “intervenção” da Comissão Europeia para defender o que considera serem os direitos dos cidadãos atingidos pelas regras anunciadas pelo Governo, que “violam o Estado de Direito, a Constituição (art. 62) e a Carta dos Direitos Fundamentais da UE (art. 17)”, lê-se numa nota de imprensa enviada às redações.

Nuno Melo defende no comunicado que, “nos Estados de Direito democráticos, compete aos proprietários decidirem a forma de utilização dos seus bens, desde que de forma legal e todas as restrições impostas pelos Estados implicam o pagamento de indenizações”.

“A questão é que Portugal não é a Venezuela e mantém-se membro da UE [União Europeia]”, afirma. O eurodeputado também questionou a Comissão Europeia sobre a forma como a instituição “interpreta” a medida imposta pelo Governo português “em violação do Estado de Direito, por ser contrária às imposições constitucionais e a Tratados livremente subscritos pelo Estado português”.

PSD
O presidente do PSD afirmou sentir “uma grande frustração” com as medidas do Governo para responder à crise da habitação, que considerou revelarem “um primeiro-ministro na sua faceta de sobrevivente e de comunista”.

Montenegro disse temer que o programa do “seja mais um projeto que não saia muito do papel e que não resolva nenhum problema daqueles que afeta os portugueses na matéria da habitação”, alegando que “revela um António Costa e um primeiro-ministro na sua faceta de sobrevivente e de comunista”.

“Sobrevivente, porque sempre que tem algum problema, tenta inventar, assim de um momento para o outro, soluções pouco ponderadas, pouco adormecidas e pouco realistas. Comunista, porque esta é a versão António Costa próxima daquilo que, infelizmente, foi a marca em algumas políticas públicas nos últimos anos”, argumentou.

O presidente do PSD concretizou depois a crítica às políticas do atual executivo: “Demasiado Estado, tudo centralizado no Estado e não em regime de complementaridade com a sociedade, com a iniciativa privada, com as cooperativas, no caso da habitação. É uma visão estatizante que fica muito aquém daqueles que foram os princípios e as ideias que o PSD apresentou dois dias antes do Governo”.

E referiu que acabar com os ‘Vistos Gold’ em todo o território nacional “é frustrar muita da capacidade de investimento” em zonas de baixa densidade e nas Regiões Autónomas.

Também a concelhia do PSD/Porto considerou que as que as medidas são “particularmente graves” para a cidade e irão colocar em causa investimentos, recuperação de imóveis e “milhares de empregos”.

“Depois de duas décadas de recuperação do edificado da cidade do Porto, através do esforço municipal e do esforço de muitos proprietários, no momento em que o município do Porto tem em curso um projeto de regulamento da atividade do Alojamento Local na cidade, procurando um equilíbrio entre a habitação e a atividade econômica, o Governo anuncia uma proibição total, colocando em causa investimentos já realizados e em curso, bem como muita da recuperação dos imóveis do centro histórico do Porto e milhares de empregos que, com estas medidas, ficam em risco”, destaca a concelhia social-democrata em comunicado.

Assinalando que “no Porto, o Alojamento Local representa cerca de 60% da oferta de camas disponíveis”, o partido questiona se “terá o [primeiro ministro] Dr. António Costa pensado no impacto que esta medida desconexa vai ter no Porto?”.

Chega
O Chega vai apresentar uma recomendação ao Governo para que não avance com algumas medidas do pacote de habitação, como o arrendamento coercivo, antes de uma fiscalização do Tribunal Constitucional (TC).

O líder André Ventura apelou ainda ao PSD – ou, pelo menos, a “alguns deputados” deste partido – para que se juntem ao Chega e à Iniciativa Liberal (que já manifestou essa intenção) e o pedido possa ser formalizado aos juízes do Palácio Ratton.

“Algumas das medidas anunciadas – estou a referir-me sobretudo ao arrendamento coercivo, obras coercivas ou o Estado assegurar a posição dos arrendatários – não passarão no TC e, se passarem, é porque estamos a viver uma outra realidade”, criticou, dizendo estar a falar não só como líder partidário, mas também como jurista.

O líder do Chega considerou que, por exemplo, “os emigrantes devem estar em pânico”, com receio que as suas casas em Portugal possam ser consideradas devolutas.

A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, já disse hoje que não entram na categoria de casas devolutas as de emigrantes, pessoas deslocadas por razões profissionais ou de saúde e as segundas habitações. Todas as outras que estejam vazias, em bom ao mau estado, poderão ser alvo de arrendamento coercivo.

“Eu não sei se isto na União Soviética acontecia. O Estado vai dizer às pessoas o que devem fazer às suas casas?”, criticou André Ventura, classificando o pacote apresentado pelo Governo como “o maior ataque aos proprietários desde há muito tempo”.

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