Governo dos Açores garante que não atribuiu apoios ao cabo submarino da Google

Da redação com Lusa

 

O Governo Regional dos Açores garantiu hoje que não atribuiu qualquer apoio à Google para amarrar o cabo submarino “Nuvem” nos Açores e que não teve qualquer interferência na escolha da ilha de São Miguel.

“Não houve nenhum apoio do Governo Regional à Google. A decisão foi da Google. É um investimento privado que a Google está a fazer nos Açores e se a Google escolheu os Açores para amarrar um cabo devia ser motivo de satisfação de todos os açorianos e, sobretudo, das empresas”, afirmou, em declarações à Lusa, o vice-presidente do executivo açoriano, Artur Lima.

O cabo submarino da Google, designado por “Nuvem”, que vai ligar os Estados Unidos da América a Portugal, com amarração nas Bermudas e nos Açores, foi apresentado na sexta-feira, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e foi considerado um projeto de “relevante interesse público” pelo Governo Regional.

Em comunicado de imprensa, a Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) questionou hoje se o executivo comparticipou o projeto e em que montante.

“Pelo histórico é claro que não foi a Google que escolheu os Açores, mas sim os Açores que procuraram a Google, o que é perfeitamente legítimo. A questão é saber quanto é que isto custou à região, quem pagou e quais as implicações no cabo CAM [Continente-Açores-Madeira], que, pelo que é publico, ainda não tem financiamento garantido”, apontou.

A associação empresarial das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa alegou ainda que, em 2015, a Google esteve interessada em instalar um cabo semelhante, mas amarrando-o à ilha Terceira, e que o Governo Regional da altura não quis apoiar o investimento em 40 milhões de euros, porque pretendia que o cabo fosse amarrado em São Miguel.

Questionado sobre as questões levantadas pela CCAH, o vice-presidente do executivo açoriano disse que não têm qualquer fundamento.

“Se houvesse um investimento desse montante, naturalmente, haveria no orçamento, no plano regional, referência a esse montante. 40, 50, 60 milhões de euros não passam assim escondidos. Nenhum presidente do governo, nem deste governo nem do outro, nem nenhum Conselho de Governo conseguiria aprovar isso sem ter verba cabimentada. Se fossem fundos comunitários mais fiscalizados ainda seriam”, argumentou.

Artur Lima, que tutela as áreas da cooperação externa e a ciência e inovação, disse que não podia “responder pelo Governo da República”, mas assegurou que “não houve nenhum investimento do Governo Regional, nem nenhuma subsidiação a Google”.

“Eu acho que o senhor presidente da Câmara de Comércio de Angra deve apresentar os documentos comprovativos das afirmações que faz, sob pena de estar a faltar à verdade e isso é muito grave”, declarou.

O governante rejeitou ainda que o cabo da Google tenha tido “prioridade” sobre o cabo Continente-Açores-Madeira (CAM).

“O senhor presidente da câmara de comércio diz que a Google teve prioridade sobre o CAM, está mal informado, faz uma afirmação que não é verdadeira. O cabo Continente-Açores-Madeira não tem nada a ver com isto e já foi assinado, em março, o contrato da sua implementação entre a IP Telecom, que é um investimento da República, e a empresa que vai passar o cabo”, salientou.

Quanto ao interesse da Google em amarrar o cabo na ilha Terceira, em 2015, Artur Lima disse que só responde pelo presente, mas que não tem qualquer referência ou documento sobre essa intenção.

“Não houve nenhuma tentativa de pressão para que o cabo amarrasse em São Miguel. Foi uma escolha da Google, técnica”, salientou.

“Todos nós devíamos estar satisfeitos com isso. O Governo está muito satisfeito com isso e obviamente que acarinha muito deste projeto e acarinhará todos os que possam vir nesse sentido, quer amarrem nas Flores, no Faial, na Terceira ou na Graciosa, desde que seja um investimento que traga retorno”, acrescentou.

Investimento

No dia 26, o diretor (CEO) da Google em Portugal, Bernardo Correia esteve no Palácio da Conceição, em Ponta Delgada, Açores, na apresentação do cabo submarino da Google designado por “Nuvem”, que vai ligar os Estados Unidos à Europa, com amarração no arquipélago açoriano e em Sines.

O responsável da Google considerou que o projeto, além de “reforçar o compromisso histórico” entre os Estados Unidos e Portugal, vai apoiar o “desenvolvimento das infraestruturas de tecnologia de informação”.

“Um investimento desta natureza pretende democratizar o acesso à tecnologia e aos dados. Com este novo cabo ‘Nuvem’, queremos que seja um condutor para novas ferramentas de inteligência artificial, serviços de ‘cloud’ e ferramentas de transformação digital que ajudarão a corresponder às exigências”, reforçou.

Em 04 de julho, a Google pediu ao regulador americano uma licença para construir um cabo submarino de fibra ótica de 6.900 quilômetros, que vai amarrar nos Açores e Sines, afirmando tratar-se da primeira ligação direta entre Estados Unidos e Portugal, de acordo com um documento a que agência Lusa teve acesso. A tecnológica pretende ter o sistema operacional em 2026.

Na apresentação, a Google adiantou que “ainda não fez a análise econômica” relativa ao “Nuvem”, mas disse esperar que o retorno para a economia do país seja semelhante ao resultante da ligação do cabo “Equiano” (entre Portugal e África), cifrado em cerca de 500 milhões de euros.

 

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