Faltam mais de 40 mil trabalhadores na hotelaria e na restauração

Um funcionário limpa uma mesa numa pastelaria na Rua Augusta no primeiro dia após o alívio das medidas de emergência devido à situação epidemiológica da covid-19 decretadas pelo Governo no dia 15, em Lisboa, 18 de maio de 2020. JOSÉ SENA GOULÃO /LUSA

Da Redação com Lusa

A Associação da Hotelaria e Restauração (AHRESP) diz faltarem mais de 40.000 trabalhadores no setor, dos quais cerca de 15.000 nos hotéis, segundo dados avançados pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).

Recentemente, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) admitiu, em entrevista à agência Lusa, que o problema de falta de recursos humanos é uma realidade no setor, onde até à pandemia até estava a ser ‘sexy’ trabalhar, mas que desde então ficou “congelado”.

“Há, de fato, falta de pessoal [no setor do turismo], não há dúvida nenhuma, isso é um problema com que nós nos deparamos. É um problema que temos que abordar com muita frontalidade e é um assunto que tem sido muito discutido nas direções da CTP”, afirmou Francisco Calheiros.

“Estava a ser ‘sexy’ na altura [antes da pandemia], estava a ser uma moda trabalhar no turismo. Com esta pandemia, tudo ficou congelado”, acrescentou.

Segundo a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, estes setores debatem-se há já alguns anos com um défice de mão-de-obra, estimado na ordem das cerca de 40.000 pessoas.

“A AHRESP tem alertado de forma constante para a perda galopante de postos de trabalho no setor do alojamento, restauração e similares e para as dificuldades que as nossas empresas têm sentido nos processos de recrutamento de profissionais”, referiu recentemente a associação, num dos seus boletins diários.

Lembrando que, ao longo dos últimos meses, tem vindo a alertar “de forma constante para a problemática da falta de trabalhadores no turismo”, a associação salienta que o último inquérito ao setor revela que “32% das empresas de alojamento e 67% de restauração já sentiram necessidade de contratar novos colaboradores este ano”.

“Contudo, 78% das empresas de alojamento e 91% na restauração sentiram dificuldades no recrutamento”, realça.

Para a AHRESP, é “essencial que sejam criadas políticas de incentivo à contratação de profissionais e ao emprego neste setor com a máxima urgência possível, para que a escassez de recursos humanos não constitua um travão à recuperação econômica, nem ponha em causa a competitividade do turismo português, uma das principais fontes de receita para” o país.

A associação lembra os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), sobre as estatísticas do emprego no terceiro trimestre do ano, que dão conta de um decréscimo de 35.700 trabalhadores do alojamento, restauração e similares, face ao mesmo período de 2020, o que corresponde a uma variação negativa de 12,5%.

Trata-se da “segunda maior quebra registada entre todos os setores de atividade e que contraria a tendência geral de crescimento da população empregada observada a nível nacional”, sublinha.

No caso da restauração e similares, registou-se uma quebra de 13,1% face ao terceiro trimestre de 2020 e perderam-se 12.600 postos de trabalho entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano.

A AHRESP destaca que se trata de “uma situação sem precedentes nos últimos anos”, uma vez que, devido à sazonalidade destas atividades, “é comum” assistir-se ao aumento da população empregada no setor da restauração durante os meses de verão.

No caso específico da hotelaria, um estudo da AHP sobre a escassez de mão de obra no setor aponta para a falta de 15.000 trabalhadores nos hotéis.

Este número é uma estimativa feita com base nas conclusões preliminares de um inquérito ao qual responderam 60% dos associados da AHP, representativos de 35.000 quartos, num total de cerca de 400 hotéis, cujas “necessidades atuais revelaram 7.200 trabalhadores em falta”.

Tendo em conta a totalidade das unidades hoteleiras em Portugal — 1.200 — “estima-se, fazendo uma proporção, que faltem 15.000 trabalhadores” aos hotéis a operar no mercado nacional, avançou recentemente à Lusa o presidente da associação, Raul Martins.

Segundo precisa a vice-presidente da AHP, Cristina Siza Vieira, “cerca de dois terços” das respostas recebidas referem que a maior necessidade de trabalhadores se regista nas áreas de “recepção, mesa e cozinha”.

Depois há algumas especificidades por regiões. Por exemplo, “em Lisboa aponta-se muito para a falta de trabalhadores na área de recursos humanos e administrativos”, enquanto no Norte “faltam trabalhadores nos SPA”.

Em meados de outubro, em declarações à Lusa, o presidente do Vila Galé afirmava que o grupo continua a debater-se com a falta de recursos humanos.

Jorge Rebelo de Almeida referiu na altura que, este ano, houve mais dificuldades de recrutamento para funções operacionais nas unidades hoteleiras e que, assim sendo, no início de 2022 o grupo vai iniciar um plano de recrutamento que deverá incluir várias iniciativas, desde a contratação de jovens à procura do primeiro emprego, a programas de estágios curriculares e de intercâmbio Portugal-Brasil.

No passado dia 11, à margem do 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital afirmou que o acordo de mobilidade com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cuja ratificação se prepara, vai facilitar a circulação de pessoas, nomeadamente a vinda de trabalhadores que o setor do turismo.

“Este acordo já foi assinado, já foi ratificado por dois países, Portugal prepara a sua ratificação e a ideia é a de ter uma comunidade onde as pessoas têm, de facto, o direito de circulação entre os vários países”, afirmou Pedro Siza Vieira.

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