Economia Brasileira: Daria sim para ser melhor

A primeira semana de março trouxe novos estudos que revelam as condições sócio-econômicas vividas pelos brasileiros na atualidade. O PIB cresceu 2,7% em 2011, conforme o IBGE. O Brasil, assim, ultrapassou o Reino Unido e se consolidou como a sexta maior economia do mundo, informou o jornal Financial Times. Apesar dessa conquista, é bom lembrarmos que não é um ‘mar de rosas’. O crescimento foi desacelerado no ano passado para o segundo pior nível em quase uma década, cerca de um terço da taxa de 2010 e é o pior crescimento desde 2003. É preciso que nos tornemos mais competitivos, reduzindo impostos na produção, melhorando a qualificação dos trabalhadores, praticando uma política cambial que estimule a exportação, entre outros quesitos. Sobre o caso, o ministério das finanças comentou, e com razão, que se a crise global não tivesse piorado no segundo trimestre, nosso crescimento teria ficado perto de 4%. Ou seja, comprovadamente a crise está, sim, nos atingindo também. É preciso, portanto, cautela. Mas, não significa que internamente não tenhamos que nos aprimorar.

Para este novo exercício, 2012, o governo tem como meta um crescimento de 4,5%. Assim, como ação quase que imediata, o Banco Central definiu também nestes dias mais uma redução da taxa Selic, a taxa básica do juros da economia. A autoridade monetária cortou em 0,75 ponto percentual, fazendo cair de 10,50% para 9,75% ao ano a taxa. O governo entende que a crise internacional e a necessidade de crescimento do país, permitem este corte. A projeção comentada é que a Selic termine 2012 na casa dos 9,5% ao ano. Esse relaxamento monetário pretende, dentro de uma racionalidade, de um controle, manter a economia aquecida e a inflação sob mira. Porém, é bom lembrar que, ainda que estejam acontecendo cortes, o Brasil segue como líder disparado do ranking, com juros reais de 4,2% (descontada a inflação) que são praticamente o dobro do segundo colocado, a Hungria, com 2,8%. Para deixarmos esta situação incômoda, seria preciso reduzir a Selic ainda mais em pelo menos 1,75 pontos percentuais. Certo que reduzir é uma tendência, mas ainda não há força para tanto.

Além desta questão do PIB/2011 e das projeções para 2012, outro aspecto também relevante foi a constatação de que apesar a crise econômica mundial permanecer forte, não dando mostras de diminuir seu poder, no Brasil a pobreza caiu 7,9% entre janeiro de 2011 e janeiro de 2012 e as desigualdades continuam a diminuir. A constatação faz parte da pesquisa “De Volta ao País do Futuro”, que analisou a nova classe média e foi divulgada pela Fundação Getulio Vargas – FGV. E este é, de fato, um dado de extraordinária importância.

A queda do nível de pobreza no país ocorre em ritmo três vezes maior que o sugerido pelas metas do Milênio das Nações Unidas. O Brasil está hoje no menor patamar de desigualdade da série histórica que começa em 1960. São doze anos consecutivos de queda. Na última análise, de janeiro de 2011 a janeiro de 2012, o Índice de Gini, que mede a desigualdade numa escala de 0 a 1, caiu 2,1%, passando de 0,53 para 0,51 e o crescimento da renda familiar per capita média foi 2,7% nos 12 meses estudados. Isso é algo bastante positivo e precisa ser mantido no esforço conjunto de governo e sociedade. É o efeito das políticas públicas de redução da pobreza e o fato de os brasileiros terem menos filhos e não deixarem de matriculá-los na escola. Estudar reduz problemas de saúde, melhora a renda e a perspectiva pessoal. Apesar desses dados, é importante salientar que o Brasil permanece entre os 12 países mais desiguais do mundo. É preciso correr e fugir desta condição indigna.

No já citado estudo da FGV percebe-se que embora seja a região mais pobre e desigual do país, a renda do Nordeste é a que cresce mais devido a investimento de novas empresas, políticas públicas e empreendimentos estatais, entre outros motivos. A riqueza ainda apresenta grande concentração no Sudeste. Baseado na metodologia da fundação, a pesquisa aponta que entre 2003 e 2011, cerca de 40 milhões de pessoas saíram da classe D para a classe C, que conta hoje com mais de 105,4 milhões de brasileiros. A classe C, de acordo com a definição utilizada pelo estudo, é composta por famílias com renda familiar entre R$ 1.734 e R$ 7.475. É a famosa ‘nova classe média’. Cerca de 22,5 milhões pertencem à classe AB (com salários maiores que R$ 7.475) e cerca de 63,5 milhões estão na classe D e E (com renda inferior a R$ 1.085), os mais pobres, necessitados.

Enfim, estamos avançando lentamente, mas de forma concreta. É preciso, no entanto, persistência e força na tentativa de expandir essas melhorias cada vez mais. E, se possível, numa velocidade mais rápida. Desta maneira, um futuro mais justo e promissor nos esperará se fizermos corretamente essa lição de casa.

 

Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.

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