Mundo Lusíada
Com Lusa
O primeiro-ministro apontou nesta sexta-feira que cerca de 6100 doses da vacina da Moderna chegaram esta semana para o setor privado, mas salientou que é “imprescindível” que essas doses sejam destinadas a quem for “prioritário”.
António Costa falava no final de uma visita ao novo Hospital CUF Tejo, em Lisboa, numa alusão indireta a polêmicas em torno de quem estará a ser vacinado contra a covid-19 de forma indevida, designadamente casos em que membros de administrações do setor privado se incluem no grupo dos profissionais de saúde para a vacinação.
Na sua intervenção, António Costa referiu que esta semana já foram recebidas cerca de 6100 doses da vacina da Moderna para a vacinação de profissionais de saúde do setor privado.
“É bom já termos atingido o ponto de estabilização do número de doses que estamos a receber e assim poderemos planear devidamente a distribuição dessas doses. Mas é imprescindível que as doses sejam reservadas exclusivamente a quem é definido como prioritário e que cada um aguarde serenamente pela sua vez para ser vacinado”, salientou o primeiro-ministro.
António Costa afirmou depois que as pessoas vão receber uma mensagem a dizer qual o local e hora da vacinação.
“Não têm de telefonar ou correr para o seu centro de saúde. Aguardem que sejam chamados de acordo com a sua vez. Mantenhamo-nos serenos a nossa vez de vacinação vai chegar. Este plano está desenhado para atingirmos os 70% de vacinação no final do verão. Estamos perto das 100 mil pessoas que já tiveram as duas doses da vacina”, disse.
De acordo com o líder do executivo, foi fundamental que no plano de vacinação “se tenha dado prioridade aos profissionais de saúde, naturalmente os do Serviço Nacional de Saúde, mas também aqueles do setor privado com acordos de cooperação”.
“Depois, serão todos os outros, toda a população será vacinada”, insistiu, antes de se referir às dificuldades de produção ao nível industrial e a uma acesa competição internacional pela aquisição de vacinas.
“Há uma realidade que temos todos de compreender, já que estamos todos dependentes a montante da produção por parte da indústria. Foi muito importante a União Europeia ter conseguido fazer uma compra conjunta de vacinas. Estamos já a ver a dificuldade relativa à execução dos contratos”, observou.
Mas António Costa foi ainda mais longe neste ponto: “Imaginemos que em vez de um contrato para a aquisição de vacinas por parte da Comissão Europeia, em competição com os Estados Unidos ou Reino Unido ou Japão, estavam agora os 27 Estados-membros da União Europeia a lutar uns contra os outros, como aconteceu em março passado em torno de máscaras”.
“É fundamental que a indústria consiga aumentar a capacidade de produção e é bom saber que a Pfizer já tem acordos com outras farmacêuticas e é essencial que a AstraZeneca o faça também, assim como a Moderna. Só retomaremos a normalidade quando pelo menos 70% de nós estivermos vacinados e a imunidade de grupo atingida”, acrescentou.
Disponibilidade
Segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, Portugal tem já cerca de 3,6 pessoas vacinadas por 100 habitantes. “É um “número que queremos fazer crescer”, mas o que depende da disponibilidade de vacinas, defendeu.
Na quinta-feira, Temido, solicitou às farmacêuticas que se comprometeram com a entrega de vacinas para a União Europeia (UE) para cumprirem o acordado e resolverem os “contratempos” verificados no processo de entrega.
“Um dos mais imediatos desafios com que a UE e os Estados-membros se têm deparado é a incerteza quanto à entrega de vacinas contra a covid-19”, declarou na comissão de Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar do Parlamento Europeu.
Numa intervenção inicial sobre as prioridades da presidência portuguesa da UE, a governante referiu que, “face aos recentes contratempos identificados no processo de entrega de vacinas relativamente a algumas empresas farmacêuticas, é essencial que tais empresas cumpram os contratos assinados e garantam a entrega atempada de doses de vacinas cruciais para o sucesso dos planos de vacinação nacionais”.
“Para o garantir, a presidência portuguesa em tudo apoia a Comissão Europeia na implementação do mecanismo de autorização de exportação de vacinas”, referiu Marta Temido.
Depois de terem sido registrados atrasos no início do ano na entrega da vacina da Pfizer e BioNTech, em uso na UE desde final de dezembro passado, a farmacêutica AstraZeneca anunciou no final de janeiro que pretende entregar doses consideravelmente menores do que acordado com a UE do seu fármaco, que teve ‘luz verde’ do regulador europeu na semana passada.
A decisão, justificada com base em alegados problemas de capacidade na produção da empresa, causou a indignação do executivo comunitário, que já ameaçou recorrer às vias legais.
Entretanto, no final da semana passada, a Comissão Europeia estabeleceu um mecanismo de autorização de exportação de vacinas para a covid-19, com o objetivo de garantir a transparência do processo e as doses suficiente para os cidadãos da UE.
“A presidência portuguesa em tudo apoia a Comissão Europeia na implementação do mecanismo de autorização de exportação de vacinas”, vincou Marta Temido, falando perante os eurodeputados.
Para a responsável, a UE deve “garantir que nenhuma oportunidade de aumentar a produção de vacinas é perdida”, desde logo para atingir o objetivo comunitário de “ter pelo menos 80% dos profissionais de saúde e de apoio social e das pessoas com mais de 80 anos vacinadas num prazo muito curto”.
“Esse objetivo está muito dependente desta nossa capacidade de aumentar a produção de vacinas”, insistiu, propondo “a criação de parcerias e alianças” entre as farmacêuticas, como a da Sanofi, que vai produzir 125 milhões de doses da vacina da Pfizer e da BioNTech.
Portugal assume a presidência da UE este semestre, numa altura em que enfrenta a fase mais grave da pandemia de covid-19.