Da Redação
Com Lusa
Dois homens tentaram atirar ovos contra o político e ativista brasileiro Jean Wyllys, durante a conferência em que participava na terça-feira na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).
Um dos homens que estava sentado no topo do auditório da FEUC saiu do lugar, desceu alguns degraus e tentou atirar ovos contra Jean Wyllys, durante seu pronunciamento.
Depois de atirar um primeiro povo, que não atingiu o político brasileiro, os seguranças conseguiram segurar e remover o homem do auditório, que tinha uma caixa de meia dúzia de ovos. De seguida, outro homem levantou-se, ainda tentou atirar um ovo, mas foi logo imobilizado pela segurança do evento.
Enquanto eram retirados, as pessoas gritavam “tira, tira”, para os dois homens saírem. “Não peçam para tirar. Nunca tive medo dos covardes”, frisou Jean Wyllys, que pediu palmas para o segurança que o protegeu no ataque.
“Qualquer fascista covarde, que se queira manifestar, em vez de atirar ovos ou tiros, por favor, vamos aos argumentos. Levantem-se, manifestem-se, falemos“, frisou o ativista brasileiro, salientando que as pessoas que lhe tentaram atirar ovos “são compostas por esse ódio que não permite a diversidade”.
Os dois homens já foram identificados e são de nacionalidade portuguesa, têm idades entre os 40 e os 50 anos, tendo sido identificados no local, onde decorria a conferência proferida por Jean Wyllys, segundo a polícia de Coimbra.
Um dos homens que tentou atirar ovos contra Jean Wyllys foi João Pais do Amaral, vice-presidente do PNR, que, na sua conta pessoal de Facebook, numa publicação pública, afirmou: “A pontaria estava boa, o segurança é que se meteu à frente. Amanhã [hoje] não falho!”, numa referência à presença do político e brasileiro hoje, em Lisboa, na Casa do Alentejo, onde dará uma conferência subordinada ao tema: “Porque se exilar do Brasil hoje?”.
João Pais do Amaral confirmou à agência Lusa a autoria e referiu que, se não for ele, “outra pessoa vai fazê-lo”. “Ele não é bem-vindo”.
Questionado sobre se se arrepende do ato, desvalorizou: “O que fiz de mal? Vocês [comunicação social] estão sempre a boicotar. Eu não bati, nem matei ninguém”.
O dirigente do partido referiu que “atirar um ovo é sempre mais simpático do que cuspir” – numa alusão ao momento em que, no Parlamento brasileiro, Jean Wyllys cuspiu na cara de Jair Bolsonaro, agora presidente do Brasil que na altura era deputado.
João Pais do Amaral referiu que pessoas como Marine Le Pen, dirigente da Frente Nacional em França, ou Jaime Nogueira Pinto foram “impedidos de falar” em Portugal, alegando que pessoas de outros campos políticos também têm “liberdade de exprimir as suas posições, mas são sempre vetadas”.
O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra divulgou duas conferências com o ex-deputado brasileiro Jean Wyllys, em Coimbra e Lisboa nos dias 26 e 27.
Pelas redes sociais, o partido PNR programou manifestações contra a presença do brasileiro, no local das conferências, dizendo que Jean Wyllys “não é bem-vindo em Portugal”.
Protestos
Na sequencia, um conjunto de movimentos portugueses divulgou uma nota de “solidariedade e acolhimento” ao ex-deputado brasileiro, e anunciou uma concentração solidária em Lisboa. Mais de duas centenas de manifestantes entoavam canções de protesto contra o fascismo e envergavam cartazes contra a extrema-direita.
“Declaramo-nos em solidário apoio à vinda do Jean Wyllys a Portugal e denunciamos o clima de ódio e violência que a extrema-direita tem procurado semear no espaço democrático. És muito bem-vindo Jean Wyllys!”, diz a nota assinada por duas dezenas e meia de entidades e movimentos portugueses, que em Portugal “lutam pela democracia e os direitos humanos, contra a homofobia, o machismo, o racismo e a xenofobia”.
Os signatários da nota de “solidariedade e acolhimento” ao ex-parlamentar brasileiro colocam-se ainda ao lado da “defesa das liberdades fundamentais, numa reação à violência, à intimidação, às ‘fake news’ e aos discursos de ódio”.
O deputado federal do Rio de Janeiro Jean Wyllys anunciou, em 24 de janeiro, que ia desistir do novo mandato e deixar o Brasil depois de receber ameaças de morte. Segundo a imprensa brasileira, desde o homicídio da vereadora do PSOL Marielle Franco, em março do ano passado, que Wyllys tem vivido sob escolta policial, tendo recebido com frequência ameaças de morte.
Numa entrevista à “Visão” Jean Wyllys confessou que ponderou viver em Portugal ao sair do Brasil, mas que acabou escolhendo a Alemanha por considerar uma vida tranquila. “Eu gosto muito de Portugal e, como diria Fernando Pessoa, a língua portuguesa é a minha pátria. Mas acho que em Portugal eu não teria a vida tranquila que preciso de ter. Muitos dos brasileiros que emigraram para cá foram, justamente, aqueles que apoiaram o impeachment de Dilma e que votaram nesse governo que está aí. São brasileiros com inclinação fascista”, disse, acrescentando que esses brasileiros são incoerentes e hipócritas, porque vieram “para um país governado por socialistas”.