Da Redação
Na semana da Consciência Negra, um lugar simbólico da herança afro-brasileira, na zona portuária do Rio de Janeiro (RJ), irá ganhar um Complexo Cultural. O edifício das antigas Docas Pedro II será restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para integrar o circuito conhecido como Pequena África. Ali irá funcionar o Centro de Interpretação do Cais do Valongo, sítio arqueológico situado em frente ao prédio histórico, além de centro cultural dedicado à Herança Africana, sob a gestão da Fundação Palmares.
O local vai abrigar, ainda, o Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana (LAAU), centro de referência ligado ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), da Prefeitura do Rio de Janeiro. O laboratório abriga cerca de 1,5 milhão artefatos encontrados durante as escavações do sítio.
Nesta quinta-feira, 21 de novembro, o Iphan publicou edital de licitação para contratação do projeto executivo de restauro e adequação das Docas Dom Pedro II, espaço de dois andares e 14 mil metros quadrados. O investimento no projeto será de R$ 2 milhões. O imóvel, atualmente ocupado pela ONG Ação da Cidadania, pertence à União. A ONG firmou acordo e será transferida para o Galpão da Gamboa, de propriedade da Prefeitura.
“Será o primeiro Centro de Interpretação no estado. O conceito fundamental é funcionar como espaço de acolhimento e recepção de turistas e visitantes, com informações sobre patrimônio e turismo, e os valores culturais preservados no Cais do Valongo. O antigo prédio das Docas Pedro II se demonstra o espaço mais adequado, por dialogar com o sítio sensível”, conta Manoel Vieira, superintendente do Iphan no Rio de Janeiro.
O sítio arqueológico do Cais do Valongo foi revelado em 2011, em meio às obras da zona portuária do Rio de Janeiro, durante o processo de licenciamento ambiental com participação do Iphan. É o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados no Brasil. Foi o maior porto de desembarque do tráfico negreiro nas Américas, por onde passaram cerca de um milhão de escravos, somente no século XIX. Lugar de memória de uma história que a humanidade não pode esquecer, foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial em 2017.
Docas Dom Pedro II
O edifício das antigas Docas Dom Pedro II integra a região atualmente conhecida como Pequena África, roteiro na região portuária do Rio de Janeiro, com lugares históricos que marcam a Diáspora Africana no Brasil. O local é espaço simbólico para a comunidade afrodescendente que, rapidamente, após a realização das pesquisas arqueológicas, converteu o local em símbolo da luta pela afirmação de sua identidade e de sua história.
Tombado pelo Iphan em 2016, o edifício guarda valores históricos e etnográficos, pela importância para a memória identitária brasileira, enquanto símbolo de luta pela equidade de direitos e oportunidades dessa parcela da população. Construído em 1871, foi projetado por André Rebouças, engenheiro negro que ergueu o prédio sem uso de mão de obra escrava. Registra, ainda, um importante capítulo da evolução da técnica de construção e modernização da operação de portos no Brasil.
Além do edifício, o tombamento inclui ainda a Pedra Fundamental e objetos encontrados no interior de uma Cápsula do Tempo. Ambos foram lançados no ano da construção do local, dia 15 de setembro, e encontrados em 2012, durante as escavações arqueológicas realizadas em uma das trincheiras do Cais do Valongo, situada na Rua Barão de Tefé (distante, portanto, das antigas Docas, por motivos desconhecidos).
Ações de conservação em andamento
A conservação do Cais do Valongo é parte do plano desenvolvido pelo governo brasileiro para valorizar o reconhecimento mundial, conferido pela Unesco. Além do restauro das ruínas, haverá a construção de um museu a céu aberto ao redor do sítio arqueológico. O local receberá iluminação cênica monumental, sinalização direcional e sistema de segurança por câmeras.
As obras ao redor do Valongo, já iniciadas, são executadas pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), com a assessoria técnica do Iphan, contando com investimentos de R$ 2,1 milhões do consulado dos EUA e outros R$ 2,1 milhões da empresa chinesa State Grid Brazil Holding.