Não há muitos dias, surgiu-nos uma sondagem de opinião em torno da atual governação, e, como seria de esperar, os resultados foram os mais que expectáveis: a grande maioria acha que o Governo atual está a atuar mal.
Teria de ser assim e por duas razões principais: porque o exercício do poder corrói a imagem dos que o praticam e porque os resultados que hoje atingem a esmagadora maioria dos portugueses, embora desde sempre evidentes, ainda conseguiram encontrar, ao tempo eleitoral, uma boa dose de concidadãos nossos que acreditaram no Pai Natal.
Simplesmente, esta sondagem mostra uma outra evidência: os inquiridos não encontram hoje alternativa. Uma realidade que se fica a dever aos próprios sondados, porque foge a toda a lógica que ainda se não consiga contornar a trágica dicotomia de que os portugueses deitaram mão, desde há trinta e sete anos a esta parte: apostar numa direita desde sempre anti-Abril e recusá-la depois para escolher uma suposta esquerda socialista democrática que tudo foi sempre concedendo à primeira. O resto, bom, é como se não existisse. O resultado, como sempre teria de dar-se, está bem à vista de todos.
Quer isto dizer que, se as eleições fossem hoje, seria enormíssima a abstenção, com o PSD a perder uma razoável fatia de votos, mas sem que o PS conseguisse capitalizar. E, diga-se com verdade, tal resultado seria perfeitamente lógico, porque o PS não tem hoje nada para realmente oferecer de alternativa ao modelo neoliberal em rápida implantação. De facto, também o seu verdadeiro modelo.
Tive a oportunidade, durante a anterior campanha eleitoral, de salientar o significado daquela visita de Mário Soares à sede do PSD, na companhia de Leonor Beleza e de Alexandre Soares dos Santos, e também que os dirigentes históricos do PS preferiam uma vitória do PSD, sem que o PS tivesse que ir para o Governo, porque assim se conseguiria pôr um fim nas grandes conquistas que a Constituição de 1976 concedera aos portugueses, mas com o PS (aparentemente) ficando sem culpas…
Acontece que há um dado que é certo e evidente: a direita hoje no poder disse ao que vinha, mesmo mentindo um pouco, e faz hoje o que sempre desejou e por que se bateu, ao passo que o PS, depois de defender o que se admitia ser o seu quadro político-ideológico, se vier um dia a ser poder, bom, já nada reporá do que agora a direita está a destruir. Ou seja: deixou de ser alternativa, tal como eu, por tantas vezes, tive a oportunidade de antecipar.
Muito mais estranha é a admiração mostrada pelo Presidente Cavaco Silva a propósito do desemprego. Dispondo de informação que ao pé da minha é um Evereste, a verdade é que no meu texto, JOGANDO COM ESTIMATIVAS, eu tive a oportunidade de prever aquele número que, não há assim tantos dias, o Diário de Notícias colocava em manchete na sua capa: 1 200 000. Como é possível, pois, que o Presidente Cavaco Silva se consiga mostrar surpreso com tal estimativa?!
De resto, fico por igual perplexo com esta sua mais recente expectativa de que, lá para o final do ano, as coisas começarão a inverter o mau rumo atual! Bom, Daniel Bessa, ainda na passada sexta-feira teve a oportunidade de dar a sua previsão, e que é a de que Portugal pouco ou nada crescerá nos próximos dez anos.
Tratando-se embora de uma previsão muitíssimo mais realista, a verdade é que também eu me atrevo a estimar o tempo necessário para que alguma coisa melhore em Portugal com um mínimo de significado: vinte anos, e desde que se não entre em linha de conta com o desfecho de guerra a nível internacional para que se caminha a passos largos.
Para já, porém, temos os mais recentes dados do Instituto Nacional de Saúde Pública, que nos vieram indicar o mais que previsível: tem-se morrido muito mais, nestes últimos tempos, do que no período homólogo anterior… E agora pergunto eu: será que o Presidente Cavaco Silva também não previa que esta realidade, com a atual política de Saúde, viria a ter lugar? Com energia mais cara, com medicamentos mais caros, com o acesso à saúde mais caro e com transporte em vias de acabar, porque haveriam de ser outros os resultados?!
Por fim, um dado muitíssimo importante, sobretudo, para o Presidente Cavaco Silva e por via da sua idade e da experiência que se lhe encontra ligada: cerca de 14 % dos adultos, por todo o Mundo, pretendem emigrar. Uma realidade que se materializará em cerca de seiscentos e trinta milhões de pessoas. E o que é que isto quer dizer? Bom, que a crise é mundial. E qual é o sistema político triunfante, desde o fim do comunismo? Pois o neoliberal. Ou seja, o da União Europeia de hoje e que Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e António José Seguro, com ligeiras variações, também defendem.
Mostra isto, pois, que o Mundo vai mal e que a designada democracia representativa está realmente falida. Pelo contrário, ela passou a ser o argumento essencial à exploração da esmagadora maioria dos povos por uma minoria cada vez menor. Veja-se o que se deu com a Síria: estava “bem” com uma ditadura, mas está a autodestruir-se na procura de uma “democracia”. Uma “democracia” que, como se percebe bem, nunca virá. Em contrapartida, nos Estados Unidos, principal acusador público de Bashar Al-Assad e do que lhe convém, um por cento dos americanos detém quarenta por cento da riqueza. Em todo o caso, claro está, sempre têm a “democracia”…
É bom que o Presidente Cavaco Silva vá estando atento a estas realidades e se pronuncie em consonância com o que vai por cá e pelo Mundo, e tendo em conta as naturais e legítimas ambições dos portugueses. Convém que não esqueça os tais limites hoje já abissalmente ultrapassados, porque os portugueses nunca deixarão de comparar o Portugal que encontrou quando chegou a Belém com o que ficará após deixar a Presidência da República. Foi, indiscutivelmente, o mais grave erro político dos eleitores portugueses.
Por Hélio Bernardo Lopes
De Portugal